Dizem que Kerala é a “terra de Deus”, reconhecimento da sua beleza natural luxuriante, dos seus remansos sedutores e da riqueza em especiarias. O slogan turístico também pode ser um tributo às diversas tradições religiosas que abundam ali, especialmente na cidade portuária de Kochi. Graças a uma geografia única – isolada do resto da Índia pelas montanhas ao leste, mas aberta para o mundo pelo Mar Arábico a oeste –, o Estado indiano sempre foi um cadinho cosmopolita. Hindus, cristãos, judeus e muçulmanos já viviam lado a lado e mantinham uma relação comercial com árabes e chineses muito antes da chegada dos europeus (era a Kerala que Colombo queria chegar, em 1492, quando se viu nas Bahamas).
Hoje, Kochi é uma parada popular de cruzeiros. Seu passado merece uma estada mais longa: passe um fim de semana explorando a histórica Fort Kochi, em cujas ruelas estreitas se vê um legado de milhares de anos de fusão cultural. E, se estiver na região entre dezembro de 2020 e março de 2021, você não pode perder a Bienal Kochi-Muziris, de arte contemporânea.
Comece o passeio perto das redes de pesca chinesas penduradas sobre os varões de bambu e teca que estão lá desde o século 15 – hoje só como pano de fundo para fotos. A seguir, atravesse a Praça Vasco da Gama rumo à Igreja de São Francisco, uma das mais antigas da Índia. Erguida pelos portugueses em 1503, foi reconstruída como templo protestante pelos holandeses e depois consagrada como igreja anglicana pelos britânicos. Vasco da Gama foi enterrado ali, antes que seus restos mortais fossem enviados para Lisboa.
Faça uma pausa para o chai no charmoso Teapot Café antes de continuar rumo à Basílica da Catedral de Santa Cruz. De lá, perambule pelas ruas ladeadas por construções azuis e amarelas com telhados de terracota, vitrais coloridos e escondidas por buganvílias para chegar ao Museu Indo-Português.
Kerala fica na Costa do Malabar, o que significa que os frutos do mar são ingredientes básicos da cozinha. Experimente-os no restaurante do Fort House, hotel de 16 quartos de frente para o mar. Destaque para o peixe com curry de manga verde, o camarão com gengibre e alho com appams (panquecas de arroz fermentado) e a parotta, o pão chato e folhado comum da região. Jantar para duas pessoas: 1,5 mil rupias.
De Fort Kochi, que abrigava os cristãos, vá para Mattancherry, onde moravam judeus, hindus e muçulmanos. O desjejum pode ser no Mocha Art Café, que funciona em um galpão de 300 anos. Quase ao lado, fica a Sinagoga Paradesi, do século 16, com azulejos azuis chineses pintados à mão, candelabros belgas e um tapete oriental que foi presente do imperador etíope Haile Selassie I. De lá, siga para o Mattancherry Palace, também conhecido como Palácio Holandês, com murais que retratam o épico Ramayana.
Dança clássica
Kerala é sinônimo do kathakali, a dança clássica conhecida pelas histórias dramáticas de deuses e demônios e as máscaras, maquiagem e adereços elaborados que a acompanham.
Para quem não conhece nada dessa arte, o Kerala Kathakali Centre é um bom começo: há uma demonstração às 17h, durante a qual os artistas explicam como a maquiagem é aplicada, como são feitos os passos intrincados e quais são os personagens e as tramas. A seguir, às 18h, é encenado o espetáculo de verdade. Entrada: 350 rúpias.