Muitos turistas que visitam o Brasil preferem ir direto para o Rio de Janeiro. Quando fazem isso saindo da América do Norte, sobrevoam a quarta maior cidade do país e uma das regiões mais fascinantes em matéria de cultura. Recife e o Nordeste são um mundo à parte do Rio, de São Paulo e do resto do Sul/Sudeste: o clima é mais quente e grande parte da comida e da música pode ser consumida apenas ali. É também um núcleo de agitação da política brasileira (o Nordeste, do qual Recife é a capital extraoficial, foi a única região a votar contra Jair Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais, ainda que ele tenha vencido na cidade pernambucana).
Quem visitá-la hoje encontrará uma metrópole que, à primeira vista, nada tem de atraente. Uma das músicas mais famosas a seu respeito – e exemplo do gênero musical local conhecido como manguebeat – se chama Rios, Pontes e Overdrives, e parece descrever, de forma geral e com precisão, o centro. Mais para o sul, porém, ficam as águas límpidas da praia de Boa Viagem e, ao norte, a pequena comunidade charmosa e colorida de Olinda.
O que falta a Recife em matéria de personalidade estética, a cidade de Olinda tem de sobra. Seu centro histórico, considerado pela Unesco Patrimônio da Humanidade, é um dos núcleos coloniais mais bem preservados do Brasil e fica a 20 minutos de carro da capital de Pernambuco.
Um bom ponto de partida é a primeira igreja do Brasil: a Catedral da Sé, no topo do Alto da Sé, que, além de estar no centro de Olinda, oferece uma vista gloriosa que se estende até o Recife. Na época do Carnaval, Olinda ferve, já que é um dos principais destinos da festa no mundo. Para ter um gostinho fora de temporada, dê um pulo à Casa dos Bonecos Gigantes, onde ficam guardadas algumas das imensas figuras tradicionais de papel machê que desfilam no meio da multidão.
SEXTA-FEIRA
Meio-dia: almoço no Centro
Essa é uma cidade que adora almoçar – além de ser uma boa desculpa para se proteger do sol intenso do meio-dia. Em uma ruazinha de paralelepípedos que corre paralela ao Pátio de São Pedro, no centro, o minúsculo Restaurante São Pedro oferece um cenário com cara de calçada parisiense em meio ao movimento da rotina de trabalho. No cardápio, quatro ou cinco itens em esquema rotativo, entre eles o delicioso caldo do mar, preparado à base de tomate e mexilhões, camarão e peixe, e o arroz de caranguejo, que lembra muito a paella espanhola, até na guarnição dramática feita com pinças do crustáceo. O vinho verde português é o acompanhamento perfeito do prato e do cenário. O almoço para dois, sem vinho, sai por volta de R$ 70.
14h: a caça ao artesanato
Siga para o Marco Zero, eixo central a partir do qual se espalha o resto da cidade e centro de sua preservação cultural. Há muita coisa para fazer ali, e você pode até dividir as atividades em dois dias. Comece pelo Centro de Artesanato de Pernambuco para ter uma noção geral do que os artesãos locais têm a oferecer, desde peças de argila para a cozinha até a iconografia carnavalesca, das quais há exemplos à venda. Depois, se precisar de ânimo para continuar, tome um expresso no Café São Braz, do outro lado do pátio.
17h: pôr do sol no Capibaribe
Evite a hora do rush da sexta optando por um táxi para levá-lo às docas, onde você pode embarcar no passeio de uma hora e meia e admirar o centro histórico e suas muitas pontes a partir da perspectiva do Rio Capibaribe (Rio das Capivaras). Do catamarã aberto, dá para ver as obras de cerâmica do Parque das Esculturas Francisco Brennand, um dos artistas mais famosos de Recife, margeando o pontão a partir do Marco Zero. A Catamaran Tours opera o barco que sai às 16h e pega o pôr do sol na volta. É bom confirmar o horário com antecedência. A passagem sai por R$ 60 (adulto).
19h30min: festa nordestina
A melhor maneira de avaliar a variedade da culinária nordestina é no Parraxaxá, em Boa Viagem, onde o tradicional bufê por quilo se transforma em uma cornucópia de opções locais difíceis de achar em outros lugares, mas que valem muito a pena, como o guisado de carne de cabrito com coco e abóbora, o filé de carne de sol coberto com queijo coalho e sucos naturais como cajá e caju. É também o lugar perfeito para se empanturrar de itens frescos depois de tantas horas dentro do avião. O jantar para dois sai por R$ 80.
SÁBADO
9h: Marco Zero cultural
Volte ao Marco Zero para um mergulho mais profundo na cultura da cidade. Para saber mais sobre a região interiorana castigada pela seca, vá ao Museu Cais do Sertão (o ingresso custa R$ 10), que mostra como é o dia a dia de quem vive ali. Há também cabines de som em que você pode conhecer a rica história musical de Pernambuco. Não deixe de provar as castanhas de caju fresquinhas vendidas na praça, bem em frente.
Meio-dia: sombra e comida fresca
Com um pátio à sombra de árvores frutíferas e uma carta de cervejas artesanais, o Cá-Já é a novidade badalada comandada por um chef jovem cujos pratos enfatizam as verduras e os legumes frescos. Destaque para a cumbuca de legumes assados cultivados na casa, os wontons de carne de rã em caldo de umami e o brigadeiro. É bom fazer reserva. O almoço para dois sai a R$ 100.
19h: frutos do mar no anoitecer
Com as panturrilhas ardendo de tanto subir e descer as ladeiras de Olinda, abaixe-se para passar pela entrada arborizada e pegue o elevador de vidro para descer até o Beijupirá, onde os ingredientes locais ganham um toque sofisticado. Experimente as combinações de frutas exóticas, como a caipirinha de acerola, antes de se deliciar com o peixe grelhado e manga cobertos com gergelim. Se o tempo estiver mais fresco, é bom ligar com vários dias de antecedência para garantir lugar a uma das mesas com vista para o Recife. Jantar para dois, R$ 160.
22h: hora de ver e ser visto
De volta ao Recife, siga para o Bar Central, no centro histórico, onde as mesinhas frágeis ficam espalhadas nas calçadas, em frente a um bloco compacto de botecos que servem cerveja gelada e onde é possível o exercício de ver e ser visto da maneira mais casual possível, principalmente nos fins de semana.
DOMINGO
10h30min: praia e bicicleta
Engrosse a muvuca e aproveite o sol da manhã de domingo na praia de Boa Viagem: entre as ondas e o eventual tubarão (é sério), grande parte do pessoal local prefere simplesmente apreciar o horizonte turquesa das cadeiras na areia. Para quem quer queimar as calorias ganhas no fim de semana, tem basquete, aluguel de bicicleta, vôlei de praia e tênis.
13h30min: ostras e cerveja
No Entre Amigos Praia, você desfruta do clima beira-mar chique estilo Miami e, de quebra, das ostras frescas da região, tiradas de um tanque e servidas cruas, acompanhadas de cerveja bem gelada. Talvez seja uma boa pedida também tentar convencer seu grupo a provar o peixe assado recheado com farofa de banana-da-terra e camarão. O almoço para duas pessoas sai por R$ 160.
14h30min: ensaio dos tambores
Curioso para saber que música é essa que se ouve na cidade inteira? É o maracatu, ritmo tradicional afro-brasileiro típico da região nordeste do Brasil, criado pelos escravos que trabalhavam nos canaviais como forma de se manterem ligados à África. O som, intenso e desarmador, é uma constante em Recife durante o período de Carnaval – e a melhor maneira de sentir sua força é conferindo os ensaios abertos de um dos grupos, como a reunião de domingo à tarde do Maracatu Ògún Onilê, no Recife Antigo. Uma boa ideia é ler alguma coisa sobre as origens e o significado do maracatu antes de ir, para apreciar e entender melhor as roupas e os instrumentos como a alfaia, o agbê (xequerê) decorado com miçangas e o gonguê, que nada mais é do que um sino de boca achatada. Os ritmos são considerados sagrados por muitos, portanto o conselho é ser discreto e cuidadoso. Vale a pena, inclusive, pedir permissão antes de tirar fotos ou fazer vídeos dos grupos.
Mais uma voltinha em Olinda
As ruas de pedra, sinuosas e coloridas, os telhados de terracota e as palmeiras fazem de Olinda o sonho de qualquer fotógrafo. A ordem é a de se perder por suas ruas.
Ao público, não faltam opções de vestidos tropicais e outros achados artesanais na Período Fértil, e telas de artistas locais na Sobrado 7. Para recuperar a energia ou fazer uma pausa, tome um cafezinho na Estação Café, uma água de coco de um dos camelôs no Alto da Sé ou algo mais forte (como a cachaça local) na Bodega de Véio, cheia de bossa.