Em 1991, da última vez que estive em Praga, ela era a capital da Tchecoslováquia e tudo era tão barato para um universitário ocidental com dinheiro vivo que, se você pedisse um sorvete e não gostasse muito do gosto, ficava tentado a jogar aquele fora e pedir outro. A cerveja, servida em meio litro, custava coisa de centavos. Os grupos que mais se destacavam no centro não eram os de turistas, mas de reuniões políticas, na Praça Wenceslas, durante os primeiros tempos da democracia local.
As coisas mudaram.
Stare Mesto, a Cidade Velha, não é um paraíso frugal; no centro histórico, o que não falta são lojas de cristais Swarovski e restaurantes vendendo comida típica a preços extorsivos. Os turistas fazem fila para pagar 120 coroas, ou cerca de US$ 5,20, por bolas de sorvete dispostas sobre o filho bastardo do donut, um cone de açúcar conhecido como trdelník. (Esqueça essa de jogar fora, nem comprar eu ia.)
Entretanto, a cidade ainda é relativamente barata. Em uma visita de intenções espartanas àquela que hoje é a capital da República Tcheca, decidi estipular meu orçamento no nível médio diário do morador local, ou pelo menos o que várias fontes on-line me disseram que era: 1.300 coroas, ou cerca de US$ 57 por dia.
Caminhar por Stare Mesto é de graça, contanto que você carregue seu próprio guia e esteja disposto a ficar na escuta para pegar fiapos dos tours do pessoal à sua volta, como fiz para saber o que representa o esqueleto no famoso relógio astronômico no Paço Municipal. ("Vou dar uma dica: não é a gula.") Na maior parte do tempo, porém, você vai ter vontade de sair dali; a sorte é que a locomoção na cidade é superfácil. O passe válido para três dias no aplicativo oficial Litacka me custou 310 coroas pelo direito de usufruir do fantástico sistema de metrôs e trens da cidade. Ativado no celular, ou seja, sem a necessidade de validação de bilhetes ou de rodar catracas, a sensação era a de que eu conquistara um amigo pontual, higiênico e onipresente, disposto a me dar carona a qualquer hora.
Para hospedagem, meu primo Michael, jornalista que mora em Praga, sugeriu o Zizkov, um bairro que já foi barra-pesada e ainda não se redimiu inteiramente, que fica do lado de lá do trilho do trem, a leste do centro. Foi ali que descobri o Albergue Sklep, onde paguei uma diária de 538 coroas por um quarto particular mobiliado em um estilo que eu descreveria como Pré-Ikea Austero. Bastante confortável, com um banheiro compartilhado limpinho e um café da manhã gratuito que cumpria todas as minhas cinco exigências de uma refeição frugal: barata, generosa, não gordurosa, tradicional e gostosa, graças ao pão fresco e à pasta de ovos temperada chamada vajickova pomazanka, que adoro.
Mas o gratuito e o barato têm limites em Praga. As ricas atrações culturais da cidade nem sempre são para os mais parcimoniosos. Descobri isso logo no primeiro dia, no Museu Kampa, instituição particular de arte moderna localizada em um moinho antigo, reformado, às margens do Rio Vltava, que serpenteia pela cidade. O que começou como uma coleção de obras de artistas tchecos exilados ou perseguidos pelo comunismo, hoje ocupa as galerias que saem da escadaria que leva ao mirante na cobertura.
Ignorei o ingresso de 270 coroas, que me daria acesso integral, preferindo pagar 100 para ver apenas a coleção permanente – o que foi um erro porque o conceito parecia um verdadeiro mistério, e ninguém falava inglês bem o bastante para me explicar aonde ir. Entrava nas galerias e frequentemente era convidado a me retirar; quando encontrei uma pessoa com quem consegui me comunicar (em francês), ela me disse que minha entrada dava direito a apenas duas galerias, e eu já tinha visto ambas. Aparentemente, corria o boato entre os funcionários da presença de certo turista, errante e desastrado, muquirana demais para pagar para ver o museu todo.
Dali em diante, estabeleci minha meta cultural em 300 coroas por dia, e me saí muito melhor. Claro que você pode entrar no complexo do Castelo de Praga e zanzar ali de graça, inclusive caminhar alguns metros na Catedral de São Vito, do século XIV – mas meu ingresso de 250 coroas me levou para dentro da estrutura, como também a caminhar na Rua de Ouro, ladeada de chalés minúsculos, entre os muros externos e a estrutura em si, originalmente ocupados por arqueiros e, durante um curto período no século XX, por Franz Kafka. Ele também me deu acesso integral à catedral, onde pude admirar os vitrais ecléticos dos séculos XIX e XX e (o mais intrigante para mim) uma peça de carvalho em relevo maravilhosa, do século XVII, retratando o centro histórico quando era 400 anos mais novo. No dia seguinte, investi 290 coroas no Museu do Comunismo, que me proporcionou uma história colorida (se não um tanto azeda) daquele período deprimente.
Alguns lugares continuavam caros demais, por isso, quando pude, substituí por atividades mais baratas, desistindo, por exemplo, do cemitério judeu do século XV (350 coroas como parte da entrada ao Museu Judeu de Praga) pelo Novo Cemitério Judeu (onde um guia e um mapa de vinte coroas tornam a caminhada pelos túmulos cobertos de vinhas muito mais interessante). Inaugurado em 1890 e com um intervalo impressionante entre os sepultamentos durante e após a Segunda Guerra Mundial, o local é mais conhecido por abrigar a tumba de Kafka. Aproximei-me dela sem esperar muita coisa, mas acabei batendo papo com um eslovaco de meia-idade que me contou que, na época em que estudava, Kafka era literatura underground. (Suas obras foram proibidas até 1989.)
Uma visita de vinte coroas ao Blesi Trhy Praha, nome local do Mercado de Pulgas de Praga, e uma voltinha pelo Sapa, o mercado vietnamita que parece um cruzamento entre um galpão e um centro comercial, me garantiram razoavelmente abaixo do orçamento. E digo "razoavelmente" porque, bem... a cerveja em Praga é muito boa.
Em duas das quatro noites que passei ali, superei o limite, não parando em uma (ou duas) pilsners tchecas supercristalinas, excesso que imagino que todo morador local e fã ardoroso da cerveja da terra vai compreender e aprovar. Meu primo Michael com certeza é um deles, e me levou para tomar "uma", na segunda à noite – que acabou virando quatro ou cinco, começando no Museu da Cerveja de Praga com uma seleção ampla (mas nada barata) de rótulos nacionais, e terminou no U Sudu, labirinto subterrâneo de tetos em arco, de tijolo e pé-direito alto, lotado de estudantes sedentos, alguns dos quais arrastamos para jogos de futebol de mesa de vinte coroas. Comentei, surpreso, o fato de a casa estar tão cheia, tão tarde, durante a semana. "Nunca se sabe o que vai acontecer em Praga; às vezes segunda é a melhor noite da semana", comentou Michael.
Gostei tanto da pilsner deles que, pela primeira vez na vida, bebi a cerveja de bom grado e vontade própria, mesmo tendo a opção da IPA.
Em outra ocasião, uma cerveja virou três no Vinohradsky Pivovar, um pub muito bem conceituado (cabe aqui uma observação: Michael é amigo de alguns dos sócios). Gostei tanto da pilsner deles que, pela primeira vez na vida, bebi a cerveja de bom grado e vontade própria, mesmo tendo a opção da IPA.
Devo dizer que de vez em quando também comi bem, gastando pouco. Mantive mínimos os gastos com guloseimas, me garantindo com barras de Tatranky, aqueles wafers à moda antiga, cobertos de chocolate, que me custaram de cinco a dez coroas no supermercado. Tirá-los do bolso acabou virando uma atração à parte, fazendo com que muitos tchecos me olhassem duas vezes, surpresos de ver um estrangeiro comendo seu chocolate favorito da infância. Acho que eu reagiria da mesma forma se visse um grupo de turistas chineses em Times Square deglutindo Ding Dongs.
Tirando umas duas refeições vietnamitas baratas no mercado, preferi ficar só nas especialidades nacionais mesmo – como o Havelska Koruna, restaurante no estilo refeitório, com uma localização espetacular, bem no meio de Stare Mesto. Há uma taxa mínima pela localização, e mais 39 coroas se você não resistir ao bolinho de fruta coberto de creme, mas ainda assim foi uma pechincha. Os tchecos também se chocaram de me ver comendo ali. "Era para lá que eu ia quando era mais nova e estava de ressaca", conta Kristyna Pekarkova, nativa de Praga que conheci por meio de Michael. Ela tem 24 anos.
A refeição mais gostosa e barata que fiz – satisfazendo com folga todos os cinco critérios frugais – foi o quarto de pato brilhante, com bolinhos de batata, do U Bansethu. E a mais inesperada foi no Dejvicka Nadrazka, que, segundo muitos amigos tchecos, eu "tinha de conhecer", pois era um dos últimos restaurantes da cidade localizado dentro de uma estação ferroviária.
Convidei o atual morador local e especialista em cervejas (e colaborador do "The New York Times"), Evan Rail, para me encontrar lá para o almoço. Quando cheguei, ele me disse que meus amigos deviam ter me pregado uma peça porque aquele era o sujinho dos sujinhos, com um cardápio limitado a dois tipos de linguiça e um disco de queijo marinado. "Minha mulher perguntou se eu ia almoçar cerveja ou zelene", ele contou. (Zelene é um licor de menta barato.)
Na verdade, acho que meus amigos deixaram implícito que eu devia ir à noite, quando o clima está mais animado e interessante – mas gostei do pessoal diurno, que incluía um homem de bigodão vassoura branco, lendo o jornal por cima da cerveja, e uma senhorazinha que usava um colete vermelho sobre um suéter de pervinca e teve um trabalhão para se sentar na cadeira alta do balcão. E, no fim das contas, a comida era boa mesmo: pedimos uma linguiça de cada tipo, 50 coroas pela apimentada, 25 pela versão com conservas e a de queijo, 45.
Apesar disso, senti que tinha ficado devendo uma a Evan; assim, pegamos o bondinho rumo a Holesovice, onde lhe paguei um expresso e uma sobremesa no café Emil Gaigher, casa tradicional que serve delícias como o medovy trojhranek, fatia triangular de bolo com cinco camadas recheadas de doce de leite e creme e coberta com nozes trituradas por uma verdadeira pechincha: 17 coroas. O travesseirinho recheado de creme e coberto de caramelo chamado vetrnik karamelovny saiu por 24.
Juntando as linguiças e os doces, a refeição foi gordurosa e adocicada em excesso, mas também tradicional, barata, deliciosa e substanciosa. Nem toda refeição precisa preencher os cinco requisitos frugais.
(Seth Kugel escrevia a coluna do Viajante Frugal e é autor de "Rediscovering Travel: A Guide for the Globally Curious", tratado informal da filosofia de viagem.)
Por Seth Kugel