Em 1921, a Câmara de Chamonix, na época uma comunidade francesa de três mil habitantes, decidiu mudar o nome do município para Chamonix-Mont-Blanc, reforçando assim a ligação com a montanha mais alta da Europa Ocidental, cujo ápice se encontra a mais de 3.600 metros do centro da cidade. O objetivo era impedir que os vizinhos suíços reivindicassem para si a glória da montanha, mas nem havia necessidade: é impossível ignorar a beleza gelada e imensa que se agiganta acima da cidade. E, como em qualquer estação de esqui que se preze, a promessa de adrenalina contida nas encostas que a cercam reforça a sensação de entusiasmo e satisfação que se tem estando no vale. Essa dinâmica talvez seja mais explícita em Chamonix que em qualquer outro lugar, pois ali é possível explorar uma paisagem tão selvagem e árida quanto a da Lua e, meia hora depois, se ver em uma banheira de hidromassagem sob as estrelas. É um lugar glorioso para os visitantes, principalmente no inverno, quando está coberto de neve, assim como as montanhas que o cercam. Montanhistas profissionais, esquiadores de fim de semana, gourmets, baladeiros e viciados em adrenalina... Chamonix dá as boas-vindas a todos, com direito aos dois beijinhos típicos dos franceses.
Sexta, 15h
Mar de gelo
Para entender Chamonix, você precisa ter uma noção da imensidão da paisagem que a cerca; por isso, um bom começo é o passeio no trem Montenvers, que leva e traz visitantes no cenário alpino, a mais de 900 metros de altura, desde que a trilha férrea foi concluída, em 1909 (32,50 euros, ou cerca de US$ 37, ida e volta). Saindo dele, você dá de cara com a visão da maior e mais longa geleira da França, o Mer de Glace, um rio congelado imenso que serpenteia pelas montanhas a uma velocidade de 0,003 milímetros por segundo. Explore a ciência e a história local no Glaciorium, museu pequeno, mas excelente, que oferece uma perspectiva alarmante da mudança climática que afeta o planeta (o ingresso está incluído na passagem do trem). É possível visitar a geleira na excursão que mergulha dentro da caverna do Mer de Glace, reesculpida todos os anos.
17h
Explorando a cidade
Depois de voltar para o centro, dá para passar umas duas horas explorando a região que, depois que o sol se põe, ganha o brilho dos pisca-piscas enquanto houver neve. Faça uma parada na Maison de la Presse, livraria acolhedora que oferece mapas de rotas, guias de esqui e literatura de montanhismo em francês e inglês. Se precisar fazer alguma compra de última hora, vá à Snell Sports; se não, vale admirar os móveis chiques de influência alpina/nórdica da Cocktail Skandinave.
19h30
Hambúrguer & cerveja
No Poco Loco, endereço favorito do público jovem, faça o pedido no balcão (em inglês, se quiser; são grandes as chances de os atendentes serem britânicos), depois siga para o pequenino salão no andar superior, enfeitado com pôsteres kitsch, luzes natalinas e latas vazias de refrigerante nas paredes. Para acompanhar o hambúrguer da casa, que leva bacon, queijo Emmental, molho picante e fritas (sim, a batata vai dentro do pão), nada melhor que uma cerveja (5,50 euros) da Brasserie du Mont-Blanc, feita com a água das geleiras locais. Custo da refeição: nove euros pelo tamanho normal, doze pela versão grande.
Sábado, 8h
Café da manhã local
Faça como a multidão esfomeada e siga para o Aux Petits Gourmands, uma padaria central muito popular, para degustar um cappuccino (3,90 euros) e comer alguma coisa antes de subir as encostas. A especialidade local é o Croix de Savoie (3,10 euros, ou 2,10 euros para viagem), brioche em formato de cruz recheado de creme e coberto com acúçar de confeiteiro com baunilha. Se preferir, vá de clássico: o petit déjeuner (13 euros) inclui várias opções de pães e doces, acompanhados de pasta de chocolate e geleias caseiras.
9h
Sábado nas encostas
A Grands Montets pode ser a área de esqui local mais famosa, mas, se você tem apenas um dia para aproveitar as pistas, então a Brévent talvez seja a melhor opção (53 euros pelo passe/dia para adultos, 45,10 euros para crianças até quinze anos e adultos acima de 64). Ali, na encosta da face sul de frente para o vale do Mont Blanc, você pode aproveitar o solzinho – e a vista de cair o queixo dos picos nevados – enquanto desce a colina. Brévent é excelente para esquiadores de nível intermediário, mas as encostas mais íngremes têm muito a oferecer aos mais experientes. Os aventureiros podem praticar saltos no parque de neve, equipado com um "air bag" gigante para amortecer as quedas.
13h
Almoço nas montanhas
Dê um tempinho do esqui fazendo uma parada no Panoramic Restaurant, situado no topo do teleférico Brévent, a mais de 2.400 metros de altitude. O restaurante não aceita reservas nos dias de maior movimento, portanto se prepare para esperar – mas a vista do terraço ensolarado é tão bonita que até vale a pena ficar na fila. Peça o tartiflette que, como a maioria dos pratos tradicionais dessa parte da França, é uma combinação substanciosa e saborosa de batata, queijo derretido e bacon. Depois, é só calçar os esquis novamente e voltar para a neve. O almoço sai, em média, por 25 euros.
17h30
Descanse e relaxe
Suado e dolorido depois de passar o dia inteiro de roupa de esqui, nada melhor que seguir para o Bachal Spa, do Hameau Albert Premier, um hotel de luxo e restaurante a curta distância a pé do centro. Peça uma massagem com pedras quentes de 75 minutos (140 euros) ou o tratamento para os pés, de 45 (55 euros). E sinta-se à vontade para permanecer nas instalações após o final do tratamento, pois a sessão dá direito a duas horas no spa, que inclui saunas, um lounge com lareira e um pequeno espaço com parede para escalada interna.
20h
Jantar fino
Troque o robe branco por uma roupa bacana e atravesse as instalações impecáveis do Albert Premier rumo ao restaurante do hotel para desfrutar dos pratos de sua gastronomia alpina (entre 54 e 90 euros). Dono de duas estrelas do guia Michelin graças às suas interpretações criativas dos clássicos regionais, recentemente passou a ser comandado pelo jovem chef Damien Leveau, que continua a tradição de explorar sempre os ingredientes sazonais. Uma boa pedida é o menu degustação Petite Fête Gourmande du Marché (102 euros por seis pratos, ou 197 euros com vinho), que quase sempre inclui legumes, verduras e ervas da horta local, além dos peixes pescados nos lagos próximos.
22h
Música no parque
Situada na extremidade de uma pequena área verde quase no meio da cidade, La Maison des Artistes serve tanto como casa de música ao vivo estilosa quanto palco para revelações. Fundada pelo compositor e personalidade de TV André Manoukian – ele foi juiz da versão francesa de "American Idol" –, o espaço oferece residências semanais para músicos promissores de gêneros que vão desde o bluegrass ao jazz, passando pelo psycho-pop brasileiro. Os artistas podem tirar vantagem do estúdio nos dias que antecedem a apresentação perante o público, sempre às sextas e sábados (entrada franca, coquetéis entre 10 e 12 euros).
Domingo, 9h
Vista de cima
Se sua visita for na época do Ano Novo, comece o último dia pegando o bondinho que vai até o topo do Aiguille du Midi, um pico gelado e íngreme que abriga um punhado de prédios e passadiços à disposição da curiosidade do visitante (61,50 euros pelo bilhete de ida e volta; fechado para reparos até o fim de dezembro). Curioso é que você sai direto de uma das ruas movimentadas do centro direto para uma das paisagens mais belas e rústicas do continente. A partir dali, os montanhistas mais experimentados saem em expedições para o topo do Mont Blanc e outras montanhas. No complexo, porém, não é preciso equipamento especial para acompanhar as exposições sobre a história do alpinismo e a geologia do maciço do Mont Blanc. Os mais corajosos podem desfilar por uma passarela de vidro a mais de 900 metros de altura para admirar a vista lá embaixo.
Meio-dia
Almoço de despedida
Volte ao calçadão movimentado do centro rumo ao Pie, uma casa aconchegante e perfeita para um almoço rápido antes da partida, comandada pelo chef confeiteiro parisiense Charles Guillaume e a mulher, Stéphanie. O restaurante oferece uma seleção rotativa de tortas salgadas e doces. Uma boa opção é pedir a quiche do dia (9,80 euros), que vem acompanhada de uma saladinha, e depois se acabar em um chocolate quente com creme de castanhas (5,90 euros) de sobremesa.
Acomodações
Muitos hotéis impõem uma estada mínima de três a quatro noites durante a estação de esqui, por isso é bom ligar antes. O Park Hotel Suisse & Spa, com spa na cobertura e quartos aconchegantes que lembram chalés, é uma exceção (diárias dos quartos duplos a partir de 309 euros). Peça um quarto com vista para o Mont Blanc.
É fácil encontrar apartamentos para alugar no centro, uma região sempre animada e que convida à caminhada. No Airbnb, a diária de um apartamento de um quarto varia de 79 a 160 euros.
Se preferir algo mais sossegado, o Montenvers Refuge é acessível somente por trem no inverno, onde a diária de um leito no dormitório para dez pessoas começa em 85 euros, mas inclui café da manhã e jantar. Há também quartos privativos com diárias a partir de 250 euros (duplo) com café da manhã e jantar.
Por Paige McClanahan