Não raras são as negativas na visitação de um cemitério, associados à morte e a sentimentos lúgubres e desgostosos, descritos como locais onde não há espaço para qualquer tipo de lazer ou uso que não seja aquele intrínseco à sua existência. No entanto, em agosto deste ano, os alunos do 7º ano do Colégio Anchieta, de Porto Alegre, tiveram a experiência de ver duas das necrópoles da Capital como espaços produtores de cultura: Santa Casa e Jardim da Paz.
Conheça ferramentas que ajudam a comprar passagens mais baratas
Assim, quebrando tabus da grande maioria dos discentes, o Projeto Território de Arte e Poder propôs aos estudantes abandonar o que ignoravam sobre os cemitérios, mostrando-lhes o porquê carregam na sua concepção questões como a memória da cidade, a identidade e a valorização da cultura como meios eficazes na reestruturação social destes importantes sítios urbanos.
No contraponto dos dois espaços, imaginavam alguns que encontrariam um lugar de terror, com teias de aranhas e uma atmosfera nada atraente. Porém, o que os agradou foi o aprendizado sobre a arte cemiterial, os significados das obras (desde leões furiosos, pelicanos, anjos ou pietás), até a visível diferença quanto ao poder econômico: dos mausoléus que iniciam o cemitério da Santa Casa até percorrerem o espaço do campo santo. Além disso, era evidente nos olhares de muitos que a natureza exuberante no Jardim da Paz quebra a relação tão triste da perda.
O percurso das visitações deu-se com o auxílio da orientação da historiadora da Santa Casa, Vera Barroso, e da coordenadora do Jardim da Paz, Cristiane Cunha. As paisagens cemiteriais conduziram os alunos não somente à existência de um patrimônio arquitetônico e artístico, graças às construções e obras de arte, mas a valores, tradições, tensões, conflitos e modos de enraizamento que se caracterizam por constituírem um conjunto de relações sociais, culturais e econômicas.
O grande desafio de mostrar a educação patrimonial, por conseguinte, não se restringe somente à descoberta da teoria, mas quer despertar a consciência dos estudantes como agentes histórico-sociais e como produtores de cultura.
Perfil
Clarice Behar e Jerusa Cuty são professoras de língua portuguesa do Colégio Anchieta, em Porto Alegre
Recuperando a arte de se perder durante uma viagem
Curta a página do Caderno Viagem no Facebook