Pepe Laytano é um chef de cozinha famoso, você sabe. Mas aí você pensa que, quando ele viaja, o destino são lugares com restaurantes bacanérrimos, chiques e careiros. Não é bem assim. Apreciador da cozinha de raiz, ele curte o sujinho que produz uma boa comida local, aquela carregada de sabor e tradição. E que às vezes é beeeeeeem barata. Confira a entrevista que o chef concedeu à coluna:
Zero Hora - Viajar também é experimentar a comida local?
Pepe Laytano - Sim. Para nós, chefs, as cozinhas de raiz são as mais legais. Os restaurantes mais tradicionais, como os de porto, os de áreas centrais das cidades, são ótimos.
ZH - Tem gente que prefere economizar na comida durante a viagem. Outros não se arriscam a comer algo diferente. O que você acha?
Pepe - Tem gente que come sanduíche, compra no supermercado. É um pouco diferente comer um lanche ou uma comida. Eu até já fiz isso, mas, como minha profissão exige, eu procuro coisas novas.
ZH - Faz alguma diferença comer um prato típico no país, Estado ou cidade onde ele é feito originalmente?
Pepe - Faz muita diferença. Por exemplo, a pizza brasileira é uma coisa horrorosa, com 150 gramas de mussarela em cima. Lá na Itália não, é a verdadeira pizza, com todas as quantidades certas. Tanto que é uma pizza por pessoa. Aqui, a gente não consegue mandar uma pizza inteira.
ZH - A paisagem, as pessoas, os hábitos, podem ajudar a saborear uma comida?
Pepe - Certamente. Comer um espaguete com mariscos na beira de uma praia na Itália, em Portugal ou na Espanha é diferente. Até porque você sabe que aquilo saiu do mar no mesmo dia, ou ontem. O frescor das coisas é estimulante.
ZH - Um prato inesquecível de viagem.
Pepe - Um bacalhau que comi no centro de Lisboa, agora, em um restaurante muito pequeno em que a própria dona atendia. O restaurante não tinha nome, e esses são os lugares mais fabulosos para se comer. O bacalhau era fantástico.
ZH - O que você recomendaria para alguém que vai viajar e quer conhecer boa comida no lugar para onde vai? Como se escolhe o restaurante de comida tradicional local?
Pepe - Eu sempre procuro lugares muito frequentados pelo pessoal da região. Em Palermo, vi uma vez um burburinho, vi que entravam muitas pessoas em um lugar só. Pensei: ali deve ser bom. E ali comi um peixe-espada maravilhoso. Claro que existem outros restaurantes ótimos, mas esses aí são tradicionalistas.
ZH - Ser caro não significa que seja bom, portanto?
Pepe - Não. Tem restaurantes caríssimos em todo o mundo que são ruins. Nesses tradicionais, paga-se muito mais barato. Nesse restaurante pequeno que eu fui, paguei 12 euros. Claro, não tem qualidade de apresentação, o lugar é muito simples. São os sujinhos, como a gente chama. Tem sujinhos em todo o mundo.
ZH - Você é um apreciador de sujinhos?
Pepe - Os sujinhos são maravilhosos. Pode perguntar para qualquer chef. Tem coisas que a gente pega dos sujinhos, como o jeito de fazer o corte do peixe, o sabor. Aí a gente dá uma contemporaneizada neles.