Bagé abriga, no Parque Gaúcho, 17 construções típicas do século 19, em uma área de 10 mil metros quadrados. É a Vila de Santa Fé, criada para ser cenário de O Tempo e o Vento, filme do cineasta Jayme Monjardim baseado no livro de Erico Verissimo, que está ainda em fase de produção. Porém, talvez a frase de uma das personagens da obra, Ana Terra - "noite dos ventos, noite dos mortos"-, esteja mais encrustada na cidade cenográfica do que os autores gostariam. Nas planícies da campanha, passa o Minuano. Em setembro do ano passado, o vento foi responsável por destroçar uma árvore e fazer estragos nas casas, matando um pouco da história ali erguida.
A figueira no centro da cidade, que tem 14 metros de diâmetro, foi trazida do Rio de Janeiro e montada em Bagé, com estrutura de ferro, concreto, folhas de tecido e espuma trabalhada para o tronco. Ela acabou maltratada e com galhos quebrados. Foi feito um conserto, mas os oito metros de altura perderam 20 centímetros com a reforma.
Toda a construção - que passa desde o Sobrado, casa do Chico Pinto, Câmara, Igreja, Venda do Nicolau, entre outros - luta ainda bravamente para durar mais do que o tempo da gravação. As construções são feitas de placas de OSB (espécie de compensado) com pintura própria para imitar concreto, madeira e diversas texturas de paredes até com efeito de antigo ou gasto. Espera-se que o material dure o tempo das filmagens - que tomaram 45 dias -, mas ainda está mais ou menos de pé depois de 10 meses. Por isso, hoje Há tetos destelhados e alguns revestimentos caídos, apesar do esforço da prefeitura na conservação do local.
- Esse tipo de cenário dura no máximo três anos, com muita conservação - avalia o coordenador de arte e cenografia do filme, Mauro Moreira, também idealizador e gerente do projeto.
Os 1,5 mil visitantes por final de semana que o local recebe apenas podem admirar de fora as casas e contar com a explicação da guia sobre a história do livro e do filme, além de comprar artesanato de artistas locais em uma única casa aberta para visitação interna, a que ainda está em melhor estado, o bolicho do Capitão Rodrigo. A ideia é colocar abaixo todos os prédios e reconstruí-los com material próprio e de longa duração, como as casas de verdade são feitas. E, a partir daí, criar um grande centro de turismo.
Planos para um futuro turístico
Depois de reerguidos os cenários, os planos são abrir todas as instalações e, em cada uma, haver uma atração diferente. No Sobrado, por exemplo, a expectativa é construir um espaço cultural de Erico Verissimo, com manuscritos do escritor e uma sala reproduzindo seu escritório. A Igreja de Santa Fé viraria uma igreja de verdade, com missa e celebração de casamento, além de venda de artigos religiosos. Outras instalações recuperariam a história do filme, com bonecos de cera imitando os atores, e figurinos em exposição.
- Para sustentar tudo isso, pensamos em deixar casas alugadas para estabelecimentos comerciais daqui. Então, a pessoa poderia andar e comprar, por exemplo, um vinho em alguma loja abrigada em uma das casas da cidade cenográfica - explica o coordenador de arte e cenografia do filme, Mauro Moreira.
Ainda estão previstas uma praça de alimentação, uma bilheteria e um complexo administrativo. Mas o projeto, intitulado Centro Cultural e Turístico Cidade Santa Fé, ainda não saiu do papel.
- Estamos captando recursos - informa Moreira, que orça tudo em R$ 8 milhões.
O investimento para a construção da cidade cenográfica foi de R$ 1,5 milhão. Mas que pode se perder por causa do tempo e o vento se o projeto não deslanchar.
Agende-se
O que: visita à cidade cenográfica Santa Fé, do filme O Tempo e o Vento
Onde: Parque do Gaúcho, em Bagé
Quanto: entrada franca
Quando: a partir das 15h nos finais de semana. Durante a semana, qualquer horário desde que seja feito um pré-agendamento para guia de turismo pelo telefone (53) 3247-1395.
Foto: Elieser Noble/Especial