O passeio de vagoneta pelos Molhes da Barra, tradicional atração turística de Rio Grande, pode ser comprometido na próxima temporada de verão, caso o Estado enfrente muitos temporais durante o inverno. Isso porque os trilhos, que se estendem por quatro quilômetros até o mirante, não estão em boas condições e precisam ser trocados, alertam os trabalhadores do local.
Por enquanto, ainda é possível percorrer o trajeto a bordo dos carrinhos de madeira, que têm rodas de ferro e uma vela suspensa. Na terça-feira (9), GZH fez o passeio pelos molhes e, apesar de alguns trancos entre os trilhos e de alguns trechos do percurso precisarem do impulso dos vagoneteiros, a experiência continua sendo única.
Natael Rocha Assumpção, vice-presidente da Associação dos Vagoneteiros dos Molhes da Barra do Rio Grande, explica que a entidade está em uma “batalha” pelos trilhos.
— E este ano, se pegarmos muitos temporais no inverno, não teremos trilhos para o ano que vem. Está bem ruim, muito fino já. Aqui (na entrada) ainda está bom, mas lá para dentro não. Estamos batalhando com a associação, com alguns políticos, o ex-secretário Sandro Boka, que está no Porto agora, está tentando conseguir os trilhos para cá. Estamos vendo as possibilidades — afirma.
O vagoneteiro Odair Xavier Rodrigues, 52 anos, destaca que o barulho das rodas de ferro sobre os trilhos é ainda mais alto pelas condições da via:
— É muita ferrugem, muita junta. Essa pancada não deveria dar. E aí tem a ponta de eixo ali e o que acontece? Quebra a ponta de eixo, nessa semana mesmo quebrou duas, por ser muita pancada.
Com os temporais, muitas pedras também caem sobre os trilhos e precisam ser retiradas pelos trabalhadores do local. Os vagoneteiros reclamam ainda dos motociclistas que fazem racha nos molhes e da falta de providências das autoridades em relação aos problemas.
— Vou te dizer a verdade: isso aqui é um turismo feito na coragem e na vontade por nós. Se for esperar pelo poder público ou pelos governantes, eles não fazem nada. Nós limpamos os molhes sozinhos e tiramos 14 sacos de lixo cheios. Não temos o apoio da prefeitura, mas quando vão falar de Rio Grande e turismo, falam dos molhes — ressalta Odair.
O que dizem os responsáveis
Luciane Compiani Branco, secretária de Desenvolvimento, Inovação e Turismo de Rio Grande, afirma que as demandas dos Molhes da Barra costumam ser atendidas pela Secretaria de Município do Cassino – cita entre elas a manutenção com máquina para retirar areia e limpeza do local. Cabe à prefeitura, por sua vez, o turismo das agências e da divulgação.
— Mas tudo que eles pedem, estando dentro da nossa possibilidade, a gente atende. Só que tem coisas que é o porto. Não temos nem pessoal qualificado para o tipo de manutenção que eles precisam lá, então isso é operado pelo porto. Agora nós vamos fazer um termo de parceria — esclarece.
De acordo com Henrique Horn Ilha, diretor de Meio Ambiente da Portos RS, a entidade vem tratando com a prefeitura para efetivar um memorando de entendimento, “que poderá vir a ser um convênio para unir esforços no ordenamento turístico dos molhes e fomento à atividade dos vagoneteiros”:
Vou te dizer a verdade: isso aqui é um turismo feito na coragem e na vontade por nós. Se for esperar pelo poder público ou pelos governantes, eles não fazem nada.
ODAIR XAVIER RODRIGUES
Vagoneteiro dos Molhes da Barra
— Com isso, poderão ser criadas alternativas para investimento nas necessidades já existentes, como o controle do trânsito irregular de motocicletas, aquisição de trilhos para reparo, entre outras demandas. A empresa pública tem compromisso com a relação porto-cidade e vem ampliando essa agenda de forma sustentada. Para alavancar ainda mais essas iniciativas, foi criada recentemente uma Diretoria de Relações Institucionais que terá foco nesses temas relevantes.
O diretor ressalta, entratanto, que a Portos RS apoia os vagoneteiros desde 2011, por meio de um convênio com o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), que é uma instituição sem fins lucrativos. Esse apoio envolve a aquisição e repasse de velas, uniformes e protetor solar todos os anos, além da elaboração de placas informativas e desenvolvimento de educação ambiental.
Conforme Ilha, a área junto ao pé dos molhes foi cedida pela Portos RS de forma não onerosa à prefeitura municipal de Rio Grande. Serão construídos decks à beira do canal de navegação, restaurante panorâmico, mirante elevado, passarelas, bares, guardaria náutica, lojas, passarelas e trapiches. Além disso, haverá um estacionamento e melhorias na infraestrutura para os vagoneteiros. Enquanto essas obras não começam, Ilha afirma que algumas melhorias já foram realizadas pela Portos para apoiar a atividade dos profissionais.
— O mirante na ponta dos molhes foi restaurado, agora contando com um acesso condizente e seguro. Os dois containers que abrigam os materiais dos vagoneteiros foram trocados por novos, melhorando as condições de trabalho. E, para garantir a continuidade do trabalho dos mesmos, foi estimulada a criação de uma associação de vagoneteiros, o que ocorreu. Hoje, eles têm CNPJ próprio e em breve receberão recursos diretamente em forma de patrocínio, para arcar com seus custos — finaliza o diretor.