O som das rodas de ferro sobre os trilhos preenche o ambiente, enquanto a brisa do mar ameniza o calor. Com céu azul e sol forte, a paisagem encanta aqueles que a veem pela primeira vez. Essa experiência é oferecida por uma tradicional atração turística de Rio Grande, no sul do Estado: o passeio de vagoneta pelos Molhes da Barra.
A vagoneta é uma espécie de carrinho de madeira, com rodas de ferro e uma vela suspensa. Desde 1938, é utilizada para levar turistas pelos trilhos dos molhes – antes disso, servia apenas para carregar trabalhadores do local e suas ferramentas. Quando o vento está forte, os veículos percorrem sozinhos o trajeto, mas em dias que as rajadas não colaboram é preciso força humana: os vagoneteiros puxam o carrinho ou dão impulsos com as pernas.
O passeio dura em torno de 45 minutos, com uma pausa para fotos no final dos quatro quilômetros de trilhos, onde há um mirante. Para fazê-lo em um grupo de até cinco pessoas, é preciso desembolsar R$ 70. Às vezes, casais interessados no passeio aguardam a chegada de outros turistas para dividir o valor, conta Natael Rocha Assumpção, 32 anos, vice-presidente da Associação dos Vagoneteiros dos Molhes da Barra do Rio Grande.
Entre os turistas que fizeram o passeio na nesta terça-feira (9), quando a reportagem de GZH esteve no local, estavam Elton Friedrich, 61 anos, e as duas sobrinhas, Juliana, 21, e Mariana Fagundes Ocano, 28. A família de Dom Pedrito está passando as férias na praia do Cassino e aproveitou a manhã para percorrer o trajeto de vagoneta pela primeira vez.
Questionadas sobre o que estavam achando do passeio, as irmãs responderam juntas:
— A gente gostou bastante. É muito bonito!
Friedrich ressalta que são 303 quilômetros de distância entre Dom Pedrito e Rio Grande. Eles já frequentam a praia do Cassino há anos, mas as irmãs ainda não conheciam os Molhes da Barra.
— Mas vale a pena (vir de Dom Pedrito para cá). Acho que os molhes foi o que mais gostei de conhecer até agora — garante Juliana.
A quantidade de viagens por dia varia muito de acordo com o tempo e com a força do vento. Em dias bons, cada uma das 30 vagonetas costuma fazer cinco ou seis fretes, afirma Natael.
Quando os carrinhos se cruzam no trajeto, em sentidos contrários, é preciso que um saia dos trilhos para o outro passar. A velocidade das vagonetas, explica, é controlada pela vela – hoje em dia, pela condição dos trilhos, não passa de 25 km/h.
— Já cheguei a botar 65 km/h. E, quando não tem vento, eu controlo pelas minhas pernas. Se eu correr, ela corre — brinca.
De acordo com o vice-presidente da associação, o movimento caiu cerca de 10% neste verão, principalmente em função do valor dos pedágios nas estradas. O tempo fechado também colabora com a queda na procura e o fato do Carnaval ser mais cedo este ano, logo na segunda semana de fevereiro, pode prejudicar ainda mais o trabalho dos vagoneteiros.
— O bom é quando cai em março, porque daí prolonga para nós. Assim, o nosso verão ficou mais curto — ressalta.
Passeio com radinho
O que eu mais gosto aqui é do lugar. Olha que lugar lindo, que paisagem maravilhosa. Não tem lugar melhor para trabalhar. Não tem como não gostar, um serviço que tu ganha dinheiro e vê toda essa paisagem linda aí.
ODAIR XAVIER RODRIGUES
Um dos vagoneteiros mais antigos dos Molhes da Barra
Um dos vagoneteiros mais antigos dos Molhes da Barra, Odair Xavier Rodrigues, 52 anos, trabalha há mais de duas décadas no local. Ele conta que já viu famosos, como Galvão Bueno, andando nos carrinhos e que atendeu pessoas de diferentes países ao longo desses anos.
— Comecei por necessidade, como empregado. Depois comprei a minha vagoneta e estamos aí esse tempo todo. Já levei gente até do Japão. Uruguai, Argentina, vem gente de todo lugar — destaca o vagoneteiro.
Apesar de ter iniciado o trabalho por necessidade, Rodrigues garante que permaneceu na atividade porque gosta e consegue receber um valor maior do que em outros empregos. O contato com a natureza, a bela paisagem e o conforto das roupas são algumas das outras vantagens citadas pelo morador da Barra:
— O que eu mais gosto aqui é do lugar. Olha que lugar lindo, que paisagem maravilhosa. Não tem lugar melhor para trabalhar. Não tem como não gostar, um serviço que tu ganha dinheiro e vê toda essa paisagem linda aí.
As viagens conduzidas por Rodrigues têm ainda um diferencial: o vagoneteiro carrega consigo um rádio, sempre sintonizado em uma estação que toca só "as músicas antigas boas". Ele assegura que a maioria das pessoas gosta e, inclusive, pede que o rádio fique ligado durante o passeio.
O vagoneteiro também produz camisetas de Rio Grande para vender aos turistas. E ressalta que pretende continuar na função por muito mais tempo.