Ao chegar na praia do Cassino, nesta terça-feira (9), os veranistas do Litoral Sul se surpreenderam com a areia cheia de águas-vivas mortas. Cerca de 6 mil animais foram encontrados encalhados entre as guaritas 17 e 19 da praia de Rio Grande. Trata-se de mães-d'água da espécie Lychnorhiza lucerna, que costumam encalhar durante o verão gaúcho. Elas são inofensivas e podem ser identificadas pela ausência de tentáculos.
De acordo com o professor Renato Nagata, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), esses encalhes com alta quantidade de mães-d'água dessa espécie são comuns. A quantidade pode variar a cada ano, dependendo de fatores como a condição climática, por exemplo.
— Esses casos ocorrem em novembro ou dezembro. Esse ano chegou atrasado, muito provavelmente por conta do período de chuva, que foi intenso e deixou a salinidade do estuário e da praia do Cassino muito baixa. E as águas-vivas não gostam de baixa salinidade — explica.
Em 2021, o professor analisou o ciclo de vida dessa espécie e confirmou que elas nascem e se desenvolvem na praia do Cassino. Conhecida pelos pescadores de Rio Grande como água-viva choco, elas crescem ao longo do inverno e da primavera, se reproduzem e, após esse período, morrem e encalham nas praias. Esses animais costumam aparecer em regiões mais rasas, abaixo dos 30 metros de profundidade, por isso é comum vê-los na areia.
— Pelas fotos, a quantidade surpreende. É algo que, visualmente, chama muita atenção. Mas nós temos registros de episódios semelhantes que acontecem quase todo ano. Temos fotos de áreas maiores com mais águas-vivas. E é natural, é importante para o ambiente. Elas são um alimento para várias espécies de peixes, tartarugas e aves — defende.
Inofensivas para os humanos
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, do dia 15 de dezembro até a última segunda-feira (8), mais de 1,1 mil ocorrências de lesões por águas-vivas foram registradas no Litoral Sul, sendo a grande maioria delas – 936, ao total – na praia do Cassino. Nenhum deles foi causado pela espécie Lychnorhiza lucerna, encontradas encalhadas nesta semana.
Nagata afirma que as águas-vivas dessa espécie são inofensivas e não são as responsáveis pelos acidentes frequentemente registrados durante todo o verão gaúcho. As espécies que causam as lesões, conhecidas popularmente por queimaduras, são Physalia physalis, também chamada de caravela-portuguesa; Tamoya haplonema, considerada rara; e Chrysaora lactea, mais comuns em Santa Catarina e no Uruguai.
— É importante esclarecer para a população que essas da foto não são as águas-vivas que causam os acidentes, mas não recomendamos tocar nelas, nem em qualquer animal marinho. As pessoas podem ter uma sensibilidade ou alergia, as crianças podem tocar e passar a mão no olho, podendo sofrer alguma irritação — enfatiza o especialista.
"A orientação é que, caso tenha contato com a água-viva, lave imediatamente com água do mar, nunca com água doce ou mineral, e saia da água. Procure o guarda-vidas e solicite vinagre para aliviar a dor. Importante saber, ainda, que sempre que tiver incidência desses animais na água, o guarda-vidas colocará uma bandeira roxa na areia, próxima do mar, sinalizando que no local há água-viva", orientou o Corpo de Bombeiros do RS.
*Produção: Yasmim Girardi