Elas são azuladas, quase roxas, com uma espécie de balão na parte superior e vários tentáculos na inferior. Embora um pouco esquisitas, as caravelas-portuguesas são muitos comuns no litoral gaúcho, como em Tramandaí, onde dezenas tinham encalhado na beira da praia na tarde desta terça-feira (11).
Invertebrados aquáticos do grupo dos cnidários, as caravelas costumam confundir os banhistas, que sabem apontar para uma água-viva, mas estranham esse outro bicho gosmento que surge na beira da praia com as ondas do mar.
- É um morcego? - questionou-se o caminhoneiro José Carlos Borges, 65 anos, de Camaquã, enquanto observava uma caravela, sentado na areia.
Há 30 anos explicando o que é uma caravela nas aulas de invertebrados do curso de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a professora Carla Ozorio não compreende a falta de intimidade dos gaúchos com o animal, que surge sempre que as águas do mar ficam mais quentes.
- É muito comum. Não sei como as pessoas não conhecem. Tem todo ano no nosso Litoral - afirmou.
De pé na areia enquanto olhava para outra caravela e fazia cara de nojo, Maria Batista, 50 anos, de São Gabriel, também não entendia que bicho era aquele.
- Tiraram três dali de dento - disse, apontando para o mar. - E vivas.
Segundo a professora Carla, a caravela-portuguesa pode queimar tanto quanto as espécies mais nocivas de águas-vivas, e por isso demanda atenção dos banhistas. Por outro lado, sua estrutura é mais complexa. É composta por diferentes indivíduos, formando o que a biologia define como colônia.
O que mais chama a atenção é o flutuador, que é o balão da caravela e exerce a função de flutuar - vem daí o nome vulgar de caravela-portuguesa, uma alusão às embarcações utilizadas pelos antigos navegadores. Também existe o indivíduo que integra o tentáculo, que mais parece um fio bastante alongado. É com este que as pessoas precisam se preocupar.
- Esse queima. Super queima. É ali que ficam concentradas as células que têm a toxina que causa lesões - alerta a bióloga. - E tem outros indivíduos, mais curtinhos, que ficam próximos do balão, que se alimentam e fazem a reprodução.
Quando uma caravela encalha na areia, é sinal de que está morta, mas nem por isso deve ser levada menos a sério. Ainda pode causar queimaduras.
- Até que se decomponha totalmente, as toxinas permanecem ativas. Melhor não tocar, nem pisar em cima - aconselha a professora.