Veranistas do Litoral Sul avaliaram de forma positiva a existência de um trecho onde o acesso de veículos é proibido na praia do Cassino, em Rio Grande. O local é conhecido pela circulação de carros em sua extensa faixa de areia, que agora tem 350 metros exclusivos para pedestres, entre as ruas Júlio de Castilhos e Rio de Janeiro. O movimento de pessoas, contudo, é bem maior nos espaços onde a tradição pode ser mantida.
A novidade foi confirmada em novembro de 2023 pela secretaria de município do Cassino e conferida pela reportagem de GZH na tarde nublada desta segunda-feira (8). Ao acessar a praia, foi possível observar a diferença de público entre um espaço e o outro.
O trecho de proibição é paralelo à obra de revitalização da Avenida Beira-Mar e pode ser acessado por meio de uma extensa passarela de madeira, que se estende sobre as dunas. A delimitação do espaço é feita com areia, diariamente, por funcionários da prefeitura.
Moradoras do Cassino, as amigas Márcia Pons, 45 anos, e Carolina Marin, 38, estavam acomodadas com cadeira e canga no trecho sem veículos, por volta das 14h desta segunda. Ambas usufruíam do espaço pela primeira vez nesta temporada e aprovaram a alternativa.
— É diferente, tranquilo e acho que também mais seguro. Preserva o ambiente aqui, mas é algo diferenciado para o Cassino, que é característico pela presença de carros. Deu uma tranquilidade para quem prefere uma paz, não fica aquele movimento de carro com música e bagunça — destacou Márcia.
Carolina fez questão de passar de bicicleta pela passarela e achou as mudanças "muito legais". A nova orla, inaugurada em dezembro, também foi elogiada pelas amigas. O local conta com balanços, ciclovia e bancos de madeira para os veranistas.
— Eu gostei. Não queria que fechassem toda a praia, porque eu gosto de ter acesso ao carro, mas acho legal ter um espaço que não passe, uma opção para vir com as crianças e ficar tranquilo — afirmou Carolina.
Essa sensação de segurança é confirmada pelos guarda-vidas que atuam no trecho. Isso porque a ausência de carros aumenta a visibilidade no entorno das guaritas, facilitando o trabalho dos profissionais.
A metros dali, Ornella Dapuzzo, 35 anos, aproveitava a praia ao lado de Lis Cavalheiro, 30, apesar da ausência de sol e do vento forte. A moradora de Rio Grande defende a ideia de que os carros não deveriam entrar em nenhuma parte da praia, mas entende que esse processo começa com a delimitação de alguns espaços.
— Acho que seria legal incentivar que, futuramente, aos poucos, as revitalizações pensassem em não entrar mais carros na praia. Na minha infância, com meus pais, sempre vim com carro, mas a partir da adolescência vinha mais de bike. Sou da ideia de não ter carro mesmo — relatou Ornella, enfatizando a preocupação com a preservação ambiental das áreas.
Mesmo aqueles que estavam de carro, no outro espaço, aprovaram as mudanças aplicadas no trecho. É o caso das amigas de longa data, Beatriz Rodrigues, 39 anos, e Daniela Pinheiro, 40, que curtiam a tarde em suas cadeiras de praia, ao lado de um automóvel vermelho.
— É contraditório, porque aqui é bastante cultural essa questão de entrar com o carro na beira da praia, mas eu acho muito bom. É uma luta ambiental que vem há muito tempo e as pessoas têm uma resistência, mas é bom para as crianças, porque principalmente no final de semana tem muito trânsito. Espero que tenha mais trechos — afirmou Beatriz.
Apesar de ter se instalado ao lado do carro, Daniela aproveitou a manhã para caminhar no trecho onde há proibição, por ser mais vazio. Para a gaúcha de Pelotas, que atualmente mora em Brasília, mas está de férias no Sul, essa parte oferece mais conexão com o mar, já que não tem barulho de carro. Ela também disse estar torcendo para que o espaço sem veículos aumente.
— É uma questão de hábito. As pessoas têm esse hábito de ficar pertinho do carro com as coisas. Acho que é uma questão de adaptação e de perceber a diferença, porque eu percebi hoje de manhã, foi bem bom. É um silêncio, que traz conexão com o mar — ressaltou Daniela.
Exigência
O secretário do município do Cassino, Irajá Pellegrini, explica que a mudança foi uma exigência da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), em razão da obra de revitalização, e não uma proposição da prefeitura. Para incentivar as pessoas a usufruírem do trecho sem carros, será criada uma área de esportes, como vôlei e beach tennis. Itens como traves e redes devem chegar ainda nesta semana para dar início às instalações.
Há ainda um projeto para a iluminação dessa área previsto para 2025. Mesmo com a avaliação positiva, Pellegrini destaca que o município notou um aumento no trânsito da parte urbana da zona costeira.
— Maior trânsito, problemas de estacionamento, sentimos esse impacto. Avaliamos como positiva essa opção, mas não (seria positivo) estender essa opção, porque isso mexeria com muita coisa, inclusive com a economia do balneário. E a grande maioria quer ir para a praia e ficar na volta do seu carro — argumenta.
Luciane Compiani Branco, secretária de Desenvolvimento, Inovação e Turismo de Rio Grande, acrescenta que essa possibilidade é inviável, devido à tradição dos veranistas e ao tamanho da faixa de areia da praia, que é considerada a maior do mundo em extensão. Comenta ainda que haverá uma próxima etapa de revitalização para expandir o trecho de orla: serão mais 500 metros em direção aos Molhes da Barra.