No Litoral Norte, onde as prefeituras suspenderam oficialmente os festejos em homenagem a Iemanjá, alguns terreiros se reuniram para cerimônias em grupos menores ao longo da noite de terça (1º) e a madrugada e o início da manhã desta quarta-feira (2).
Em Cidreira, cidade que conta com a maior estátua de Iemanjá do Rio Grande do Sul, com 8,3 metros de altura, e costumava ter uma das maiores celebrações do Estado, a movimentação manteve-se fraca até o amanhecer, inclusive no entorno do Santuário Sincrético e Ecológico de Iemanjá, no Parque das Dunas.
Policiais militares a cavalo e motorizados fizeram a segurança da área durante a noite. Na beira da praia, apenas uma tenda manteve movimentação até o início da manhã desta quarta.
Enquanto o sol despontava num horizonte sem nuvens, um grupo vindo do bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, fazia as homenagens com distanciamento. Segundo mãe Andressa de Oxalá, as cerca de 30 pessoas saíram da Capital por volta da 1h e pretendiam ficar na praia até o início desta tarde.
Em Tramandaí, por volta das 4h15min, enquanto alguns visitavam a imagem de Iemanjá e deixavam flores, cerca de 50 pessoas entoavam cânticos na beira da praia. Ninguém usava máscara.
A reportagem de GZH foi orientada por eles a não fotografar a movimentação, que ocorria em frente a um quiosque, enquanto outras pessoas acendiam velas na areia. Na beira da praia, muitas oferendas foram sendo deixadas ao longo da noite.
Com uma mãozinha dos guarda-vidas
Em Capão da Canoa, o Centro de Umbanda e Quimbanda Ogum Beira-Mar & Iemanjá também adaptou as homenagens para seguir os protocolos sanitários. Em vez de sair em procissão do terreiro e fazer os rituais na praia, a celebração ocorreu no próprio terreiro, com limitação de pessoas e aferição de temperatura na entrada. Lá, os filhos da casa colocaram no barco suas flores e cartas com pedidos para Iemanjá. As oferendas foram levadas de carro até a praia, onde foram entregues aos guarda-vidas.
— Eles fazem as oferendas, põem em um barco e pedem que a gente coloque mais para dentro do mar, porque se colocam muito no raso as ondas trazem de volta para a beira da praia — explica o comandante do Pelotão de Guarda-Vidas de Capão da Canoa, tenente Evandro Maurício Leal.
Apesar de o centro de umbanda e quimbanda não ter promovido rituais na praia, houve quem fosse por conta própria até a praia para acompanhar a entrega do barco à santa. Pai Cesinha de Ogum, do Centro Ogum Beira-Mar & Iemanjá, salienta que seu terreiro busca respeitar as orientações dos profissionais de saúde e por isso faz estas restrições, por entender que, mesmo perdendo força, a covid-19 continua roubando vidas.
— Mas com certeza Iemanjá recebeu nossas homenagens. O nosso principal pedido foi pela saúde da humanidade, para que voltemos melhores. O preconceito religioso, de cor, sexual, é o que nos faz atravessarmos este momento de dificuldade.
Pai Cesinha também agradeceu pelo apoio dos guarda-vidas pelo suporte na hora da entrega das oferendas ao mar. A orientação, aliás, é de que só sejam colocados no barco flores e cartas, para que não haja objetos pontiagudos que possam machucar os profissionais. O comandante do Pelotão de Guarda-Vidas de Capão da Canoa, tenente Evandro Maurício Leal, destaca que o trabalho ocorre há anos.
— Como instituição pública, nós respeitamos todas as crenças e damos apoio, como daríamos a qualquer atividade de interesse público. Com o passar dos anos, independentemente da religião, acabamos criando carinho e vontade de ajudá-los, e inclusive agradecemos a Iemanjá — conta o tenente Leal.
Carreata
A Federação Afro Umbandista do Rio Grande do Sul (Fauers) também não deixou a data passar em branco nas praias. Nesta quarta, a partir das 8h, integrantes da Fauers saíram em carreata com a imagem de Iemanjá da praia do Paquetá, em Canoas. A intenção é percorrer sete balneários do Litoral Norte, num trajeto de mais de oito horas.
Os carros passam pela freeway até a RS-118, ingressando na RS-040, tendo Balneário Pinhal como primeiro destino. Depois, o roteiro segue para Cidreira, Tramandaí, Imbé, Atlântida, Xangri-Lá e Capão da Canoa. Não há limite de participantes.
O presidente da Fauers, Everton Alfonsin, o Caco, afirma que a iniciativa, que também ocorreu no ano passado, busca evitar aglomeração de religiosos.