O decreto do governo do Estado que prevê interdição das praias gaúchas começou a valer às 18h desta segunda-feira (1º) e segue até as 8h desta terça (2). O objetivo, segundo o Executivo estadual, é evitar aglomerações causadas pelas festas de Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes, devido ao risco de contágio pelo coronavírus.
Mesmo assim, após as 18h, a reportagem de GZH identificou pessoas na beira da praia de Cidreira, no Litoral Norte. Os banhistas comiam, bebiam, jogavam vôlei e tomavam banho de mar nas proximidades da guarita 184, na área central. Também não houve bloqueios nos acessos à orla.
Às 18h, os guarda-vidas deixaram as guaritas e retiraram as bandeiras que informam sobre as condições do mar. O normal para fins de semana e feriados seria permanecer no local até as 19h30min, mas eles saíram dos locais mais cedo devido ao decreto. Ainda assim, permaneciam no calçadão para possíveis casos de afogamentos.
Antes do fim da operação, os guarda-vidas informaram às pessoas sobre o decreto, o que fez com que um grande número de pessoas deixasse a praia. Ainda assim, houve quem optasse por permanecer.
Nesta mesma área, havia um ônibus da Brigada Militar (BM). GZH localizou dois policiais militares de bicicleta no calçadão. Até as 18h20min, eles não haviam feito nenhuma abordagem.
Na Interpraias, o Batalhão Rodoviário da BM colocou cones em frente ao terminal turístico, local onde está localizada a imagem da santa. O objetivo é fazer com que os motoristas reduzam a velocidade, já que o local costuma receber grande número de pessoas a pé, que fazem seus pedidos a Iemanjá. Algumas fitas também foram colocadas na entrada do terminal.
Por volta das 18h30min, cerca de 20 pessoas se reuniam no entorno da imagem. Uma parte usava máscara, mas outra, não. Os fiéis colocavam flores em oferenda.
Grupos ligados a religiões de matriz africana, em parceria com o município, marcaram a realização de uma carreata pela cidade.
— Vamos percorrer alguns bairros do município com a imagem de Iemanjá, para não passar em branco. Assim ela protege a cidade toda — disse Giovani Oliveira, da Casa do Ylê Axé Xapanã e Oxum.
Outras pessoas estavam com ele, todas usando máscara. O grupo questiona a proibição das festas:
— Como tudo na vida, tem que ter organização. No momento em que se mostra para os órgãos que tem organização, não deveria ter proibição. Outras religiões também se mantêm com uso de máscaras e outras medidas — lamentou Jorge de Ogum, responsável pela casa Ylê Jorge de Ogum.
A BM e uma equipe da Vigilância Sanitária devem permanecer no local durante a noite para garantir o cumprimento do decreto. A ideia é que a Vigilância controle as aglomerações e os policiais evitem perturbações ao sossego e problemas semelhantes.
Em Tramandaí, por volta das 19h30min, havia pessoas na beira da praia, mas sem aglomerações. Na altura da guarita 149, crianças brincavam, amigos jogavam futebol e outros caminhavam à beira-mar. A reportagem identificou viaturas da Brigada Militar, da Guarda Municipal e da Vigilância Sanitária circulando.
No entorno da imagem da santa, próximo à plataforma, policiais militares faziam a fiscalização das manifestações religiosas. Não havia grandes grupos por volta das 20h: pessoas chegavam sozinhas ou em pequenos grupos, faziam seus pedidos e iam embora. Algumas tomavam passe.
— Eu vinha aqui há muitos anos, e voltei a vir agora por causa da pandemia. Acho que está correto que todos venham sozinhos, sem aglomerações. Está certo proibir. Estava muito desmedido — comentou a moradora de Tramandaí Gorete Martins, 59 anos.
Morador de Novo Hamburgo, Gilvânio Silva, 32, vendia artigos de religião para quem se aproximava da imagem. Segundo ele, o valor arrecadado nesta segunda-feira foi baixo, e a expectativa é para o dia seguinte:
— Este ano está péssimo. A economia que a festa de Iemanjá gera é muito grande, por causa dos terreiros e dos devotos. Este ano não tem nada, e até os passes estão limitados. Vamos ver amanhã.
Praia do Cassino é bloqueada
Diferentemente da orla das principais cidades do Litoral Norte, a Praia do Cassino, em Rio Grande, no Litoral Sul, foi bloqueada para evitar o acesso de fiéis durante os festejos religiosos. O santuário localizado junto à orla foi liberado para somente 10 pessoas por vez, que podem permanecer por cinco minutos cada uma. A medida é uma prevenção contra aglomerações, já que o local recebe uma média de 150 mil visitantes todo ano.
Para dar conta dos maiores festejos à santa no RS, a prefeitura e entidades religiosas organizaram uma live para as 21h. A transmissão pretende fazer um resgate histórico das 46 edições da celebração.