Com sol ou chuva, Cidreira, no Litoral Norte, reserva encantos naturais muito além do mar. Privilegiada por uma faixa de dunas de até 20 metros de altura, ainda com certa preservação e que terminam em lâminas de água transparente, a cidade tem recebido cada vez mais turistas. Em fevereiro de 2020, GZH apresentou aos leitores os lençóis cidreirenses – uma área entre as praias de Salinas e das Cabras repleta de dunas e lagos sazonais nascidos depois de chuvas mais intensas.
Depois da reportagem, o local recebeu uma placa indicativa com o nome usado antes somente entre os moradores locais. Foi uma iniciativa do projeto Caminho das Dunas e Lagoas, que envolve as prefeituras de Cidreira e de Balneário Pinhal e o comércio local.
Pensando em apresentar esse pequeno paraíso até então reservado a poucos, e outras belezas próximas, os empresários Régis Rovere e Luiz Couto criaram, em outubro do ano passado, dois trajetos especiais pelas lagoas da Rondinha e da Fortaleza a bordo da lancha Serro Azul, uma Tarumã 700 com capacidade para 10 turistas e dois tripulantes. Antes de estrearem a novidade, ambos fizeram cursos junto à Marinha para terem liberação de navegação.
A reportagem de GZH fez o mais longo dos passeios, com duração de cerca de três horas, com direito a banho em área isolada. Trata-se de um espetáculo proporcionado pela natureza, generosa durante todo o trajeto: teve chuva inesperada, arco-íris como companheiro durante a travessia, sol intenso e um colorido entardecer cinematográfico.
SERVIÇO
Passeio pelas lagoas Rondinha e Fortaleza na lancha Serro Azul:
- Enquanto durar a pandemia, os passeios são agendados para grupos de quatro a 10 pessoas.
- Dias e horários ficam a critério do contratante.
Valores:
- Passeio de 1h30min, com direito a pôr do sol na lagoa da Rondinha - R$ 20 por pessoa.
- Passeio de 2h30min a 3h, com direito a descida nas dunas, banho na Lagoa da Fortaleza, contemplação no chamado Lago dos Cisnes e finalização na lagoa da Rondinha (pode escolher com ou sem pôr do sol) - R$ 50 por pessoa.
- Agendamentos podem ser feitos pelo celular/WhatsApp: (51) 99617-7706, com Régis Rovere, ou (51) 99717-2029, com Luiz Couto.
- O Instagram é @serroazulbarco.
O início
A saída ocorre na vila náutica do Lagoa Country Club, em Cidreira, onde os dois empresários moram e são vizinhos. Deixamos o local por volta das 16h45min. Depois de um reconhecimento pela Rondinha, entre Cidreira e Balneário Pinhal, a lancha segue em direção à Lagoa da Fortaleza. A ideia é, no retorno, aproveitar a Rondinha até o final do passeio. Gabriel Dannenhauer, 11 anos, o mais novo dos quatro visitantes que integram o grupo que inclui a equipe de reportagem, comunica aos pais, os empresários Aline e Darlan Dannenhauer, de 37 e 50 anos, respectivamente, o entusiasmo pela aventura:
— Quero chegar logo às dunas!
Primeiras impressões
Pássaros de diferentes espécies acompanham a jornada e peixes pulam na lagoa. Ao longe, observamos a formação de nuvens escuras no nosso caminho. Pergunto se podemos continuar o trajeto. Rovere afirma que sim, pois a chuva deverá passar apenas perto. Mas antes de alcançarmos o canal serpenteado de dois quilômetros que leva até a Lagoa da Fortaleza, somos atingidos pelos primeiros pingos. Por sorte, uma chuva de verão – sem raios ou ventos fortes.
O canal
A chuva nos acompanha ao longo do canal. Pelo caminho, pescadores acenam das margens. A temperatura de 26°C, aliada à baixa velocidade da lancha e à proteção sobre a embarcação, não nos permitem sentir frio, apesar de os passageiros das duas fileiras frontais ficarem mais molhados pela chuva. Depois de atravessarmos sob a ponte da RS-784, o canal, antes estreito, se abre até a Lagoa da Fortaleza. Ao longe, um novo cenário começa a surgir.
Arco-íris
Sobre as dunas dos agora chamados oficialmente lençóis cidreirenses, montanhas de areia que vão de Salinas em direção a Tramandaí, um arco-íris começa a se formar. Sinal de adeus à chuva. Dentro da lancha, comemoração. A empresária Isabel Mattos, 40 anos, mulher de Rovere, aproveita para fotografar a cena que encanta a todos.
— Já vim outras vezes, mas sempre a natureza nos reserva algo diferente. Nunca é igual — garante.
O lago popular
Nas margens da Fortaleza, quase não há habitantes, apenas pequenas propriedades e uma prainha com guarda-vidas em um dos extremos. As dunas móveis, iluminadas pelo sol que voltara a aparecer em parceria com o arco-íris, ganharam cores mais intensas. Antes da primeira parada, damos uma volta num trecho mais calmo da Fortaleza, chamado pelos moradores de Lago dos Cisnes. Apesar de não ter nenhuma ave dessa espécie no local, ele recebe outras, migratórias, vindas do Sul do continente.
Primeira parada
Gabriel e a mãe são os primeiros a descerem nos lençóis cidreirenses. Munido de celular, o menino tenta subir correndo numa das montanhas de areia para se fotografar e registrar também a mãe. Como a chuva havia passado pelo local, a areia tinha sido esculpida pela água, formando diferentes desenhos agora iluminados pelo sol.
— É um lugar muito lindo para fotografar — comentou o menino, que gosta de fazer pequenos ensaios com o próprio smartphone.
Segunda parada
O banho esperado ocorre num outro ponto da Fortaleza, onde é mais raso. Das lagoas, ela é duas vezes menos transparente do que a da Rondinha, pois é mais rasa e, desta forma, propensa ao processo de erosão. A transparência da água está relacionada, entre outros fatores, com a profundidade, segundo o Atlas Socioambiental dos Municípios de Cidreira, Balneário Pinhal e Palmares do Sul, elaborado por professores e pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul (UCS). A situação ocorre especialmente no caso das lagoas costeiras expostas aos contínuos ventos Nordeste e Sul.
Espetáculo no final
No retorno à Rondinha, já por volta das 18h40min, um novo cenário nos esperava. O entardecer começou a ser mais rápido e foi possível acompanhar o descer do sol ainda da água. No caminho, paramos num trecho da margem onde a água é cristalina. Porém, menos de 10 passos depois, se torna turva devido à profundidade de cerca de dois metros. O local não é aconselhado para banho. A finalidade é deixar a lancha ancorada e escolher um ponto de onde se pode dar adeus a mais um dia.
Uma nuvem se posicionou, justamente, em frente ao sol, criando raios de luz no entorno dela. Pouco antes de o astro se pôr, o céu foi ganhando novas cores em tons lilás e rosado. Apesar da animação do grupo, veio um silêncio ensurdecedor. Todos contemplavam o cenário à frente. Finalizado perto das 20h, o passeio pode ser traduzido desta forma: o estresse desaparece por algumas horas e os problemas são deixados do outro lado da lagoa.