Uma passagem para outra dimensão pode estar encravada entre o mar e a Lagoa da Fortaleza, próximo à praia das Cabras, no limite entre Cidreira e Tramandaí, no Litoral Norte. Há quem afirme ter avistado objetos voadores não identificados (óvnis) pairando sobre a lagoa. Entre os relatos de fatos incomuns na região nas últimas décadas, estão carros que pararam de funcionar por alguns minutos na RS-786, por onde passaria este portal, luzes movimentando-se no céu em alta velocidade e desaparecendo misteriosamente, pratos giratórios gigantes sugando areia das dunas no entorno da Fortaleza e até a abdução (suposto sequestro ou rapto de um ser humano por extraterrestres) de pelo menos um morador.
Especialistas em ufologia (estudos relacionados a óvnis) costumam visitar a área. No ano passado, o canal de televisão History Channel fez, inclusive, um episódio inteiro sobre o portal dimensional para a série brasileira De Carona com os Óvnis, que descreve os fenômenos ufológicos no Brasil.
Osmar Inácio da Silva, 85 anos, que é ufólogo e radioastrônomo (pessoa que estuda fenômenos extraterrestres mediante a análise das ondas eletromagnéticas na frequência de rádio), foi chamado por moradores para pesquisar a veracidade das histórias da região. Em Cidreira, ele conheceu o pescador e comerciante Jorge Guglieri, 76 anos, um dos únicos a falar abertamente sobre as ocorrências. Em três encontros, ocorridos em 2009, Silva entrevistou Guglieri, os familiares dele e outros pescadores, visitou a lagoa e recolheu amostras, como um pedaço de uma pedra de liga metálica encontrada no fundo da Fortaleza. O ufólogo, porém, jamais concluiu a pesquisa devido à falta de verbas para aprofundar alguns estudos.
Em Tramandaí e Imbé, ele também ouviu outros dois relatos de pessoas que garantem terem sido abduzidas por seres extraterrenos e voltado à Terra depois de horas ou dias. Silva ainda conheceu moradores que afirmam ter visto no céu luzes não identificadas. A partir do material recolhido, o ufólogo aponta para a possibilidade de existir um portal dimensional na área indicada pelos pescadores.
— Há um fundo de verdade no que eles relatam, pois usam terminologias próprias da ufologia que leigos não inventariam. Todos os relatos que recolhi apontam para a vinda de naves, sempre do mar para a terra, do mesmo ponto, descendo na mesma região. Isso, por definição, é um portal — afirma, mesmo sem jamais ter sido testemunha ocular de algum na região.
Guglieri, chamado de contador de histórias e até de louco por alguns moradores, ri da própria situação, mas segue sustentando a ideia de que a área do Litoral Norte foi escolhida por seres de outros planetas. Desde os oito anos de idade, quando ainda morava em Canoas, ele vê objetos voadores não identificados. Na primeira vez, avistou dois homens de pequena estatura saindo de uma nave na frente da casa da família, durante a noite. Foi o tempo de ele gritar pedindo socorro para a mãe e a avó, antes dos seres sumirem. No dia seguinte, ele desenhou o que viu. O desenho só se perdeu quando a avó morreu, há alguns anos. Na infância, ele não tinha TV e jamais ouvira falar em ET's.
— Os homens estão entre nós! Mas as pessoas não querem acreditar, e as autoridades não falam para não causar pânico — acredita.
Em 1999, Guglieri perdeu um amigo que dizia ter sido abduzido três anos antes. O homem, um construtor civil de 44 anos, sumiu da praia das Cabras por dois dias e reapareceu em Torres, muito machucado e transtornado. Aos familiares e amigos mais próximos, afirmava ter sido cobaia de uma bateria de exames e, antes de ser libertado, teria recebido um chip na cabeça, por onde se comunicava via ondas magnéticas com os extraterrestres. Cada vez mais em pânico com a própria situação, o homem se tornou alcoólatra e acabou se suicidando. O filho, que pediu para não ser identificado, prefere não relembrar a situação, devido à religião – ele é evangélico. Mas comentou com a reportagem o desespero do pai dizendo que teria um chip na cabeça, que lhe fazia ouvir vozes.
— Meu pai era um homem bom e trabalhador. Depois daquele episódio, ele nunca mais foi o mesmo. Ele afirmava que "os homens" voltariam para levá-lo, e ele não queria. Só afundou. Há coisas que só Deus mesmo — comentou o filho, hoje peixeiro.
A mulher de Guglieri, a confeiteira Marlene, 73 anos, sempre duvidou das histórias contadas pelo marido quando ele voltava da Lagoa da Fortaleza. Até o dia em que foi testemunha da primeira situação. O casal voltava de Tramandaí à noite pela RS-786. Marlene percebeu algo voando ao lado do veículo e, de tão assustada, não conseguiu avisar o marido. O pescador só viu quando o carro apagou por alguns minutos.
— Era um prato em cima do outro, mas o de baixo girava. Nesta hora, o Jorge gritou "os discos estão aí!". Fiquei perplexa com aquilo. Aquele prato gigante, meio cor de prata, sumiu de repente. Ainda assim, não acreditei no que vi — recorda, com convicção, Marlene.
Numa outra situação, a confeiteira recolhia roupas no varal, por volta das 23h, quando observou a distância o que considerou ser um Óvni movendo-se na direção do mar.
— Ele parecia um charuto. Vinha bem devagar. Tinha uma luz no centro, em cima, e três luzinhas que piscavam embaixo. Aquilo entrou e saiu do outro lado de uma nuvem e parece que pegou um zazzzz (ela faz um gesto rápido com a mão, de baixo para cima) e sumiu. Ele foi para cima. Daí, já fiquei mais espertinha com estas coisas — comenta, aos risos.
"Gostaria de dar uma voltinha"
Na esperança de fazer contato com seres de outros planetas, Guglieri construiu a casa da família com uma abertura para o lado norte da Fortaleza, na direção da praia das Cabras. Do segundo andar, consegue observar o que seria o caminho das naves. Numa noite de setembro do ano passado, um dos netos, Gabriel Guglieri, 10 anos, assustou-se ao ver no céu, sobre a casa dos avós, uma luz intensa se mexendo. Nervoso, tentou fazer fotos com o celular, mas acabaram borradas. No Natal do ano passado, quando a família comemorava a data, todos visualizaram luzes incandescentes sobre a casa. Tentaram usar a filmadora, mas a imagem ficou borrada.
O pescador, que estudou até o quarto ano do Ensino Fundamental, não sabe usar câmeras. Depende dos netos. Até por isso, jamais conseguiu registrar seus avistamentos. Em casa, mantém como troféu parte da pedra com liga metálica (história abaixo) recolhida por ele da Fortaleza. Guglieri guarda um desejo, que pretende realizar em breve.
— Sou considerado louco porque conto mesmo, e os outros têm vergonha e medo. Na verdade, gostaria de dar uma voltinha com "os homens" e depois voltar para contar a todas e provar que não é mais uma história de pescador — confessa, aos risos.
Os casos que levam o ufólogo Osmar Silva a acreditar na existência do portal
- O relógio solar: um relógio solar de pedra polida e contendo algarismos romanos, surgiu de repente num banhado à beira do lado norte da lagoa da Fortaleza. A pedra teria cerca de 65 toneladas e estava num local completamente inacessível a veículos de quatro rodas. Do barco, os pescadores avistaram a pedra. Depois de alguns dias, a pedra desapareceu e em seu lugar ficou apenas a cratera no solo. O relógio era composto de uma parte redonda no topo da pedra e a base, em forma de cunha lapidada.
- O pé de arumbeva: havia um pé de arumbeva (um tipo de cactus) com cerca de dez metros de altura. O mesmo tinha uma copa gigante. Certo dia, os pescadores encontraram a planta completamente desidratada e seca. Algumas ervas do entorno também estavam no mesmo estado. A planta ficava exatamente no local onde alguns dos pescadores já haviam visualizado luzes e possíveis ovnis. Ela teria sido queimada pela radiação das naves.
- Nave mãe: há cerca de 35 anos, Guglieri jura ter visto do lado norte da lagoa o que seria uma nave mãe e com várias naves menores saindo de dentro dela. A comunicação foi feita por sinais luminosos. A maior fazia uma luminosidade longa e três curtas e rápidas. As menores respondiam com um sinal curto e dois longos. Depois de um período, as pequenas entraram na maior, saindo em alta velocidade e sumindo na direção do mar.
- Pedra misteriosa: Andando numa canoa na parte mais rasa do lado norte da Fortaleza, um pescador tocou numa pedra grande que estava no fundo da lagoa. Junto com um vereador de Cidreira, um armador de barcos, um outro pescador e um mergulhador do Corpo de Bombeiros, eles retornaram ao local. O oficial da Brigada Militar mergulhou e encontrou uma grande pedra próxima à margem. Ela foi sendo tirada aos pedaços. A água da lagoa da Fortaleza foi colhida pela comissão da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí, que encontrou metais pesados. Foi constatado que não havia depósito de lixo nas proximidades. A pedra foi analisada por um geólogo que não conseguiu identificar o material do qual ela é feita. Os pescadores acreditam que ela seja um meteorito ou dejetos do combustível de algum ovni.
- Grama queimada: numa noite, um disco voador do tamanho de um fusca ficou fazendo evoluções na frente dos pescadores na lagoa. À distância, eles perceberam que ela chegou a pousar do lado norte antes de desaparecer. No local, ficaram apenas as queimaduras em círculo milimetricamente perfeitas no gramado.
- Disco voador: o pescador Joaquim Dias dos Santos, com 58 anos na época da entrevista, jura ter avistado um disco voador no canto norte da Fortaleza. A aparição ocorreu há 35 anos. Sem estudos ou conhecimento sobre ufologia, o homem descreveu a situação com precisão.
- Óvni em Imbé: em julho de 2009, por volta das 18h, surgiu um objeto aparentando formato de charuto, luminoso, sem ruído, piscando intensamente, variando nas cores branco, azul e vermelho e fazendo evoluções no céu. O caso foi relatado e registrado pela família de um policial militar, que também foi testemunha.
- Uma abdução: uma mulher de Tramandaí contou em detalhes a possível abdução sofrida por ela durante quase 48 horas. O caso ocorreu há quatro anos.