Se houver vida inteligente fora da Terra e um dia a humanidade vier a contatá-la, o diálogo não será em mandarim, espanhol, inglês, hindi ou árabe, os idiomas mais falados no nosso mundo. A conversa se dará por matemática – com seus números e suas figuras geométricas –, ciência que também seria de domínio dos seres que, segundo Ademar José Gevaerd, editor da revista UFOs, hoje já estariam visitando o planeta azul. É o que ele disse em palestra durante o 59º Encontro Ufológico de Porto Alegre, realizado em 8 de março.
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Em 27 de setembro, Gevaerd e um grupo de ufólogos analisaram um agroglifo – figura geométrica que surge em meio a regiões rurais de todo planeta – em Prudentópolis (PR), a cerca de 200 quilômetros de Curitiba. Agroglifos são assunto polêmico, tachados por cientistas como farsas elaboradadas, então Gevaerd apresentou argumentos científicos. Conforme laudo emitido pelo professor Fernando Araújo Moreira, titular do Departamento de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-SP), e pela microbiologista Nadja Serrano, a área do círculo em Prudentópolis não registrava vida microbiana: teria sido esterilizada, mas sem causar a morte dos vegetais.
O biólogo Lucas Kessler de Oliveira, mestre e doutorando em biotecnologia com ênfase em micro-organismos, diz que não há tecnologia conhecida capaz de eliminar a vida microbiana por longos períodos, como teria acontecido em Prudentópolis. O que não significa que a origem do fenômeno seja extraterrestre.
– Na verdade, a causa disso provavelmente seria algum tipo de radiação ultravioleta, que eliminaria a vida microbiana por alguns momentos, mas logo depois ela se reconstituiria – afirma Oliveira. – Seria improvável esta esterilização se manter por duas semanas, pela velocidade em que os micro-organismos se regeneram e pelo fato de haver micro-organismos próximos (na parte externa do agroglifo).
Outra característica intrigante foi verificada pelo pesquisador Alcides Côres, responsável pelo sistema de radiocomunicação digital do Aeroporto Internacional Afonso Pena, de Curitiba. Ele detectou no ar, alguns metros acima da figura semelhante a uma flor com seis pétalas, uma forte presença de ondas eletromagnéticas. Emitidas de forma permanente e pulsante, em intervalos rítmicos, como uma espécie de código, as ondas foram captadas em uma região onde inexistem antenas de rádio ou de telefonia celular. Conforme Gevaerd, tais dados nunca haviam sido identificados em qualquer lugar do mundo, nem mesmo onde os agroglifos são estudados há mais de 30 anos.
– Achamos que a figura, na verdade, é um chamariz. A mensagem está nos pulsos elétricos e eletromagnéticos – afirma Gevaerd, que atribui os desenhos nas lavouras a visitantes de outros planetas. – Se um dia formos nos comunicar com civilizações extraterrenas, será por meio da matemática. Os agroglifos são matemática pura.
O astrofísico Amâncio Friaça, bacharel em Física e mestre e doutor em Astronomia pela Universidade de São Paulo (USP), desconhece a explicação para as ondas eletromagnéticas de Prudentópolis, especialmente em caso de céu claro. Quando o céu está nublado, diz ele, podem ocorrer interferências, como cargas eletrostáticas nas nuvens, capazes de produzir oscilações, ainda assim inferiores às detectadas pelos ufólogos:
– O sinal (141,8 miliwatts) e o fluxo de energia (entre -27dB e -64dB) no caso são muito altos, e a frequência pode ser causada por um fenômeno atmosférico, mas dificilmente um sinal atmosférico alcança uma frequência dessa magnitude.
INGLESES DISSERAM TER FEITO
PRIMEIROS CÍRCULOS COMO TROTE
Os agroglifos também são conhecidos como círculos ingleses, por terem aparecido pela primeira vez na Inglaterra a partir de 1978. Inicialmente como círculos simples, foram se sofisticando com o tempo, incorporando e combinando mais formas geométricas. Geraram toda uma cultura de pesquisas e várias explicações: emissões de plasma, sinais de sociedades secretas e, claro, mensagens enviadas por vida extraterrestre.
Em 1991, dois ingleses de Southampton, Doug Bower e Dave Chorley, vieram a público afirmar que eram os responsáveis pelos círculos ingleses ao longo de 15 anos, esmagando os cereais com ferramentas como barras de ferros ou placas de madeira amarradas com cordas. Mesmo assim, os relatos de novos achados persistiram. Até hoje, houve informes de pelo menos 20 mil agroglifos em cerca de 60 países. Carl Sagan, um dos astrônomos mais famosos do século 20 e cético com relação aos avistamentos de óvnis. resumiu em seu livro O Mundo Assombrado pelos Demônios (Companhia das Letras, 1995): "Muitos têm ouvido falar dos pictogramas nos grãos de cereais e de sua alegada conexão com os UFOs, mas lhes dá um branco quando se mencionam os nomes de Bower e Chorley ou a própria ideia de que toda a história não passa de uma brincadeira".
Brincadeira ou não, os desenhos começaram a surgir no Brasil em 2008, centralizados em duas cidades do sul e suas imediações: Ipuaçu (SC), a 520 quilômetros de Florianópolis (sempre entre meados de outubro e de novembro), e Prudentópolis (entre o fim de setembro e o começo de outubro). Conforme Gevaerd, os agroglifos do país são semelhantes aos europeus. Geralmente aparecem em plantações de trigo, aveia, cevada, soja e canola – e, mais raramente, em cultivos de feijão e milho. Os caules das plantas surgem dobrados de maneira uniforme e organizada, em sentido horário ou anti-horário, dando origem a imensos desenhos. Gevaerd diz que, apesar das críticas constantes, hoje físicos de renome vêm estudando o fenômeno, como os americanos Michio Kaku e John Brandenburg e o indiano Amir Goswami.
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ADEMAR JOSÉ GEVAERD: "A ciência rejeita a ufologia por preconceito"
Editor da Revista UFO, mais antiga publicação sobre discos voadores do mundo, Ademar José Gevaerd já fez palestras em todo o Brasil e em mais de 50 países. Presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), ele dedica-se atualmente a pesquisar o aparecimento de agroglifos no país.
Por que você tem tanta certeza de que os agroglifos são obras de extraterrestres?
As características dos agroglifos, como a presença de magnetismo e eletromagnetismo e a precisão como as plantas são dobradas, não permitem a dedução de que sejam feitos por seres humanos. Há um conjunto de características que nos asseguram que são fenômenos artificiais e inteligentes. E, uma vez que não são feitos por seres humanos, a dedução é de que são feitos por outras inteligências, mais possivelmente extraterrestres.
Como vocês identificam fenômenos como fraudes, erros de interpretação e até manipulações em fotos e vídeos?
Em princípio, temos já desenvolvido um feeling. Como um médico: se você chega tossindo, ele já sabe que caminho tomar para saber o que você pode ter. E, se ele tiver dúvidas, vai recorrer a exames e outras coisas. Na ufologia, acontece a mesma coisa. A gente tem um feeling que descarta, a priori, pelos menos uns 90% de tudo que nos é relatado, em especial, casos de fotografias e filmagens. Dez que ficam a cada cem, nós investigamos. Em nove casos a cada 10, depois da investigação, nós descartamos. Aquele caso em cem que resistiu a todas as tentativas de explicação, que restou ainda inexplicado, é o que vamos pesquisar como potencial candidato a nave alienígena frequentando o nosso espaço aéreo.
Você diz que a ufologia se baseia na ciência e na filosofia. Como a ciência e a filosofia acadêmicas veem a ufologia?
A instituição acadêmica e a instituição científica como um todo rejeitam a ufologia por preconceito, por ignorância, por falta de informação e por falta de interesse de penetrar neste assunto, porque é uma área muito desafiadora, em que as descobertas serão revolucionárias. Apenas cientistas individuais – e alguns até muito renomados nas mais diversas instituições do mundo – têm feito algumas admissões públicas a respeito deste assunto. Um exemplo é Michio Kaku, um cientista famosíssimo nos Estados Unidos e ligado a várias universidades, que declara, abertamente, em programas de televisão, que é claro que os discos voadores existem e que vêm de fora. Mas a ciência, de maneira geral, ainda não aceita esta possibilidade, o que é uma pena.
A maior parte dos acadêmicos é cética em relação a óvnis e a ETs.
A ufologia é ciência pura. Nós, para praticarmos a ufologia, precisamos de ciência o tempo inteiro. Por exemplo: se um fenômeno é visto no céu, nós precisamos da física atmosférica e da meteorologia para tentar identificar o que é aquele fenômeno. Se ele é fotografado, precisamos de softwares para tentar identificar o que é aquilo. Se o objeto pousa e deixa uma marca no chão, precisamos da geologia, da bioquímica, da biologia e da física para tentar determinar o que pousou ali, qual é o seu peso etc. Se há um contato com um extraterrestre, vamos precisar de recursos da psicologia, da sociologia. Enfim, a ufologia ampara-se, fundamentalmente, nas mais diversas áreas científicas.
Em 2015, a cientista-chefe da Nasa, Ellen Stofan, afirmou que teremos registros de vida alienígena até 2025. O que você acha disso?
Aquela história de "o gato subiu no telhado" é o que estamos vendo em relação a Marte, só para ficar em um exemplo. Primeiro, achou-se vapor d'água, depois gelo, depois água líquida. Agora, já está se falando em microrganismos. Daqui a pouco vão se falar em vestígios de uma civilização que havia lá. Ainda não é possível, para nenhuma instituição do planeta, dar uma informação cabal – mesmo que ela tenha – do tipo "existe vida avançada, viajando em naves extraterrestres viajando pelo Universo e vindo à Terra". A Nasa e os seus cientistas sabem disso. Mas eles não têm como, primeiro, provar isso. Porque, apesar de terem documentação, eles não sabem a procedência dessas naves. Sabem que vêm de fora. Mas de que planeta, de que sistema estelar? Isso ainda não se sabe. Então, ainda há muita coisa a ser descoberta. A coisa está andando muito rapidamente, e acredito que a informação vá vir meio de súbito. Em fevereiro, revelou-se a existência do sistema Trappist 1, a 39 anos-luz da Terra, com sete exoplanetas, dos quais três com potencial de terem vida inteligente.
CONGRESSO EM PORTO ALEGRE
Entre os dias 5 e 7 de maio, o Hotel Plaza São Rafael, na Capital, receberá o 19º Congresso Brasileiro de Ufologia. A programação contará com 14 conferencistas nacionais e estrangeiros, entre eles Gevaerd.