Círculos perfeitos na faixa de areia da praia e na zona rural, luzes não identificadas no céu durante o dia e também à noite e a possibilidade de existir um portal entre o mar e a lagoa são alguns dos fenômenos estudados pelos integrantes do primeiro Centro de Estudos Ufológicos do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
O CEU, como é identificado pelos criadores, localiza-se em Cidreira, e investiga, atualmente, pelo menos cinco ocorrências. Mas o número de pedidos de auxílio de moradores da região só tem aumentado desde a criação do centro, há três meses. Na página do Facebook do CEU, os depoimentos se multiplicam.
Um dos casos que vêm sendo estudado pelo grupo ocorreu em março de 2018, numa fazenda na área rural de Cidreira. O dono da propriedade só tornou o fato público ao saber da existência de especialistas em ufologia (estudos relacionados a óvnis) no Litoral Norte. Ele contatou o renomado ufólogo Osmar Inácio da Silva, 88 anos, que divide-se entre Tramandaí e Porto Alegre, e repassou fotos das três marcas circulares que teriam surgido nos fundos da casa. Também pediu anonimato. No ano passado, Silva ingressou no CEU e repassou o caso aos demais integrantes.
Nas imagens as quais a reportagem teve acesso, percebe-se que os círculos estão distantes cerca de 2 metros um do outro, formando um triângulo. Segundo o relato da família, eles estavam reunidos na frente da casa, por volta das 23h, quando o cachorro surgiu vindo dos fundos, assustado e latindo mais do que o normal. O grupo foi até a área sem luminosidade e não viu qualquer movimentação. No dia seguinte, porém, a surpresa.
— A grama estava amarelada nos pontos dos círculos, como se tivesse matado a vegetação do local. Parecia o tripé de uma nave. Eles concluíram que alguma coisa anormal tivesse ocorrido e deixado as marcas — conta Renato Brauner, integrante do CEU.
— São pessoas muito reservadas. Nunca contaram a ninguém para não tornar o lugar um local de peregrinação — explica o escritor e músico Daniel Christian, 43 anos, idealizador do CEU.
Mesmo depois de mais de 20 meses do ocorrido, Christian e Brauner estiveram na propriedade, entrevistaram a família, recriaram a cena da descoberta e coletaram amostras do solo para posterior análise. Também recolheram fotos e vídeos guardados pelo proprietário. A equipe de ufólogos pretende realizar vigílias noturnas na fazenda nos próximos meses.
A propriedade fica nos arredores da região entre o mar e a Lagoa da Fortaleza, próximo à praia das Cabras, no limite entre Cidreira e Tramandaí, onde supostamente haveria uma espécie de passagem para outra dimensão, com relatos de luzes desconhecidas movimentando-se no céu e desaparecendo misteriosamente, carros parando de funcionar por minutos na RS-786, por onde passaria o portal, e pessoas afirmando terem avistado objetos voadores não identificados (óvnis) sobre a lagoa.
Esta será outra área que deverá ter vigílias periódicas do grupo quando a pandemia de coronavírus acabar. Em 2018, o canal de televisão History Channel fez um episódio inteiro sobre o portal dimensional para a série brasileira De Carona com os Óvnis, que descrevia os fenômenos ufológicos no Brasil.
Christian, além de ser escritor e músico, estuda ufologia e outros temas há 25 anos e explica que a ideia inicial do CEU era manter uma base em Cidreira. Atualmente, o núcleo está localizado dentro da área do Lagoa Country Club, na RS-784, e, por conta da pandemia, não pode colocar em prática ações programadas, como cursos para iniciantes em ufologia, palestras e encontros regionais e nacionais para discutir o tema. Mas a maré, como ele diz, está levando a equipe para outras praias do Litoral Norte, como Tramandaí, que é um polo muito forte de avistamentos.
— Estamos iniciando conversações para criarmos uma sede na cidade. Também fomos procurados por pessoas ligadas à aviação na serra (gaúcha) para a criação de uma sede do CEU naquela região. A expansão nesta velocidade só mostra a importância deste trabalho com o aumento significativo de avistamentos em todo o país — explica Christian.
O idealizador do CEU ressalta que é preciso cautela na hora de abraçar os casos novos já que, dependendo da situação, o estudo pode levar meses e, até, anos. Como a ufologia não é profissionalizada, os pesquisadores têm tirado dinheiro do próprio bolso para deslocamentos e análises. A meta de Christian é profissionalizar o trabalho para adquirirem equipamentos e manter as sedes, contando com o apoio dos comerciantes locais e prefeituras, já que a ufologia atrai curiosos e apaixonados pelo tema, podendo movimentar a economia da região.
— Tenho mais de uma centena de pessoas me procurando de diferentes partes querendo conhecer a região. Agora, porém, ainda estamos em pandemia e evitando aglomerações — esclarece Christian.
Moradores interessados pelo tema
Pelo menos seis moradores de Cidreira e Tramandaí têm dedicado horas ao CEU, entre eles, a funcionária pública Nádia Rodrigues, 58 anos, de Tramandaí, que ainda na infância já se interessava pelo tema, passando a estudá-lo depois de adulta. Desde a segunda quinzena de junho de 2020, quando surgiram inúmeros depoimentos de pessoas que teriam avistado luzes coloridas nos céus de Balneário Pinhal a Tramandaí, e mais tarde confirmou tratar-se de óvnis, Nádia tem se dedicado a pesquisar sobre os círculos simétricos que surgiram nas areias da Barra de Tramandaí exatamente no mesmo período.
Na época, a reportagem de GZH ouviu dois moradores que os fotografaram entre 17 e 24 de junho (data conhecida por ser o dia mundial do disco voador). Sem marcas de pés ao redor, lado a lado, círculos perfeitos estavam desenhados no chão, numa área em direção à barra entre Tramandaí-Imbé. Um conhecido ufólogo brasileiro chegou a dizer à reportagem que não passava de uma obra de arte, sem qualquer vínculo com óvnis.
Não convencida da justificativa, Nádia foi ao local, fotografou e mediu as esferas. A maior tinha 33 círculos com 0,6cm de distância entre cada circunferência. Ao lado esquerdo dela, seguiram, na sequência, três círculos, cinco, sete, nove, 11, nove, sete, cinco e três círculos. Do lado direito, 15 círculos, sete, cinco e 15 círculos.
— Em todas as circunferências havia 0,06cm de distância entre um círculo e outro. Achei fantástico! Eu não estava preparada para isto! — comenta, animada.
Nádia também recebeu um vídeo de um prédio frontal ao calçadão de Tramandaí e distante cerca de 400m de onde apareceram os círculos. Nele aparece uma luz intensa sobre o oceano exatamente na noite anterior à descoberta dos círculos. Nas imagens, o ponto de luz surge pequeno, fica mais intenso, se movimenta devagar e desaparece dois minutos depois. A funcionária pública e ufóloga ainda está recolhendo imagens de câmeras próximas – já que no ponto exato onde foram encontrados os círculos não há prédios – e também de radares que possam confirmar do que se trata a luz no mar em 23 de junho de 2020.
— Tem que ser um grande artista para fazer círculos tão simétricos, sem deixar pegadas e sem destruir os já feitos. Se ele existir, queremos realmente conhecê-lo, convidá-lo para conhecer o nosso grupo — diz Christian.
Enquanto segue com esta pesquisa, Nádia tem recebido relatos de moradores que seguem vendo esferas luminosas no céu noturno de Tramandaí. Um dos pontos de avistamentos tem sido o rio cujo nome é o mesmo da cidade. Num dos depoimentos mais recentes, recolhido no final do ano passado, um jovem militar, que pediu para não ser identificado, contou a ela ter visto duas esferas coloridas e de luz intensa se separando e se unindo no céu até desaparecerem. Ele estava com a namorada e ficou tão impressionado com a cena que não conseguiu fotografá-la.
Um dos mais renomados ufólogos do Estado, Osmar Inácio da Silva, 88 anos, que também é radioastrônomo (estuda fenômenos extraterrestres mediante a análise das ondas eletromagnéticas na frequência de rádio), aprovou a criação do grupo de estudos no Litoral Norte. Ele já fez investidas em diferentes cidades da região, ouvindo relatos de abduzidos e de pessoas que afirmam ter avistado óvnis.
— É muito importante este trabalho porque não havia um órgão que desse apoio e coordenasse as pesquisas e a investigação de fenômenos específicos no Litoral Norte. Realmente, é interessante que se pesquise mais a fundo. Sabemos que, infelizmente, a ufologia recebe curiosos, mas também uma série de charlatões. Então, ter uma equipe séria para fazer este trabalho é de grande valia para a região — finaliza Osmar, que por estar temporariamente em Tramandaí foi convidado a integrar-se ao CEU, aceitando na mesma hora.