O céu sem nuvens, orla quase sem vento e a temperatura de 22,6ºC, segundo o Inmet, lotaram a faixa de areia de Tramandaí, neste domingo (23). Apesar de não ter chuva, havia dois poréns: o mar ainda com cor de chocolate e a ressaca ultrapassando as guaritas instaladas na faixa de areia.
Com a redução da orla, os banhistas procuraram os pontos ainda secos, valia ocupar as dunas e até a calçada. Foi o caso da bancária aposentada Cladis Santetti, 56 anos, de São Leopoldo, que, por volta das 11h, preferiu o banho de sol na grama da área de lazer do calçadão por uma experiência ruim com uma ressaca anterior. Na segunda quinzena de janeiro deste ano, Cladis foi surpreendida pela água tomando conta da orla. Na época, teve prejuízo ao ver os pertences quase sendo levados pelo mar.
— Dei uma olhada na areia e vi que ainda estava úmida, comprovando que água tinha ido até recentemente quase a calçada. Achei melhor a prevenção, desta vez.
Já o casal Carolina Cabistani, 39 anos, e Sander Ferreira, 40 anos, de Santa Maria, conseguiu reservar um dos únicos trechos da areia ainda seca — mais alto do que o restante da orla.
— Caminhamos cedo e vimos que a água estava tomando quase toda a faixa. Achamos um cantinho seco e corremos para segurá-lo. Achamos que ela não deve subir até aqui — comentou Carolina.
Em Capão da Canoa, o cenário não era diferente. Com a faixa de areia bem menor do que o habitual, veranistas se aglomeraram em um espaço menor - muitos evitaram a praia, o que para os comerciantes é sinônimo de queda nas vendas em até 40%.
Na manhã deste domingo, a faixa de areia entre o mar e as dunas era de 20 metros. Segundo os guarda-vidas, em média, em dias de pouca ressaca, o trecho onde os veranistas se instalam é de cerca de 100 metros.
Dona do quiosque da Tereza, na beira-mar de Capão da Canoa, a comerciante Tereza dos Santos, que trabalha há mais de 30 anos no mesmo local, diz que as vendas despencam.
— Afeta bastante. Eles não conseguem montar barraca e guarda-sol. Eles têm que ficar em cima das dunas, e ninguém gosta de ficar lá. Mas faz parte da natureza — comentou.
Alguns metros adiante, Régis da Silva Inácio, que vende bebidas destaca que o nível do mar mais alto diminui em 30% as vendas. Segundo ele, veranistas com crianças evitam a aglomeração e o mar mais alto.
— O pessoal vem e da uma olhada, vê que o mar está perigoso para crianças. O pessoal fica um pouco nas dunas e sobem para as praças.
Para os veranistas, o principal desafio foi procurar um espaço para colocar o guarda-sol e as cadeiras na escassa faixa de areia. Quem insistiu precisou arredar a cadeira a todo instante para conseguir aproveitar o sol. O servidor público Eliezer Luís e a família chegaram pouco depois das 10h e conseguiu um espaço próximo ao mar. Com a maré mais alta, foi necessário trocar de lugar duas vezes.
— Não tem o que fazer né. É a natureza. O receio é perder o chinelo.
Segundo aviso emitido pela Marinha do Brasil, as ondas devem chegar neste domingo até 2,5 metros no Litoral Norte. O meteorologista da Somar Meteorologia, Jonas Ribeiro, aponta que a ressaca na costa gaúcha deve permanecer até a próxima terça-feira.
Segundo o coronel Cláudio Morais Soares, comandante do 9⁰ Batalhão de Bombeiros, coordenador da Operação Verão do Litoral Norte, as condições chamam atenção mas não são extremas:
— Particularmente, eu não tinha visto essa condição assim, por conta do vento e da corrente. Mas não dá pra considerar uma situação extrema. Ressacas já tivemos maiores recentemente. É uma maré forte com danos.