O folião que está no litoral gaúcho terá um leque de opções para curtir o Carnaval. Além de desfiles de bloco e shows à beira-mar e em casas noturnas, os bailes de clube estão voltando, em locais como a Sociedade Amigos de Tramandaí (SAT), a Sociedade Amigos de Capão da Canoa (Sacc), a Sociedade Amigos do Balneário Atlântida (Saba) e a Sociedade Amigos do Cassino (SAC).
Os Carnavais em clubes foram muitos fortes, em especial na década de 1980. Mais para o fim da década de 1990, início dos anos 2000, algumas dessas agremiações mantiveram apenas a festa infantil e teve até clube que encerrou os festejos.
Os motivos atribuídos por quem hoje coordena muitos desses clubes e quem está no poder público dessas cidades são os mais variados, entre eles a mudança de comportamento do próprio folião, que passou a preferir lugares ao ar livre e a possibilidade de levar a própria bebida para consumo, o aumento de casas noturnas que oferecem festa com músicas que vão além do Carnaval e a inconformidade em ter de pagar ingresso. Veja como será a folia deste ano em muitos clubes pelo Litoral Norte e Sul.
Onde haverá festanças
Atlântida
A Sociedade Amigos do Balneário Atlântida (Saba) nunca chegou a interromper o Carnaval para adultos, mas, no fim da década de 1990, perdeu muito público e as festas de Momo quase foram encerradas. Os mais de mil foliões que costumavam se esbaldar na bela estrutura montada na praia do Litoral Norte minguaram para cerca de 50.
— O principal motivo disso foi o surgimento das casas noturnas. Esse público, que só tinha os clubes para pular Carnaval, passou a ter vários outros locais — sustenta o presidente da Saba, Leandro Ricardo Adaime, 43 anos.
A mesma opinião é compartilhada por Eduardo Jardim, secretário de Turismo de Xangri-Lá, município onde fica a praia de Atlântida. Acrescenta, no entanto, o aumento das festas particulares.
— Muitos condomínios promovem Carnavais — destaca.
Segundo o presidente da Saba, apesar de o Carnaval adulto ter perdido força na época, o infantil seguiu forte durante todo esse período. Nos últimos três anos, conforme Adaime, a festa de Carnaval só aumenta. Em 2017, foram 400 pessoas. Em 2018, 600. Em 2019, 900. A expectativa para este ano é de que passe de mil.
Adaime diz que o público do Carnaval da Saba tem trocado cada vez mais as festas em condomínios fechados pela formação de blocos no clube. O perfil do folião também mudou, segundo ele. O predomínio é de casais, numa faixa etária de 30 a 40 anos, mas com público grande acima dessa idade também. Há 20 anos, por exemplo, os Carnavais da Saba contavam bastante com jovens entre 18 e 30 anos, conforme o presidente da sociedade.
Capão da Canoa
Assim como na Saba, em Atlântida, o presidente da Sociedade Amigos de Capão da Canoa (Sacc), Marcelo Ramos Soares, afirma que a casa noturna é mais concorrente dos clubes do que o Carnaval de Rua.
— Elas (casas noturnas) tocam de tudo: sertanejo, pagode. Faz com que a juventude vá para lá — opina Soares.
O Carnaval para adultos na Sacc ocorre no sábado (22), e o infantil, no domingo (23). No ano passado, cerca de 800 pessoas participaram da folia noturna. Soares comemora, mas lembra que já chegou a organizar Carnaval para 2 mil pessoas na SAT.
— Eu acho que a retomada agora se deve à insegurança das ruas. Isso fez com que as pessoas voltassem para os clubes. Antigamente, tinha o jovem (no clube), porque era a única opção. Hoje, ele procura a casa noturna. Agora, a faixa etária da Sacc vai de 35 a 50 anos, na sua maioria — sustenta.
Rio Grande
Apesar de ter um tradicional e bastante procurado Carnaval de rua, com desfile de blocos, Rio Grande passou a contar novamente, nos últimos cinco anos, com a retomada dos bailes na Sociedade Amigos do Cassino (SAC). A entidade oferece quatro festas de Carnaval, sendo duas para crianças e acompanhantes e duas para adultos. O público esperado para cada noite da festa para adultos é de 3,5 mil pessoas.
— Só não colocamos mais, porque não há espaço — disse o presidente da SAC, Fábio Andrade, 41 anos.
Para Andrade, a procura pelos Carnavais de clube tem aumentado em razão da insegurança de se fazer festa na rua.
— É um espaço (o clube) que você pode trazer família e os amigos sem perigo. Os grupos e os blocos estão migrando para dentro do clube — relata Andrade, ao dizer que os clubes haviam perdido público no fim da década de 1990 por causa das dificuldades financeiras da população.
Na SAC, a retomada dos Carnavais contou com a parceria de empresários que passaram a investir nas festas. Segundo Andrade, a faixa etária do público é bem variada, mas tem um predomínio de jovens.
Tramandaí
A Sociedade Amigos de Tramandaí (SAT) retomou o Carnaval para adultos em 2019. Ficou sem a festa por oito anos, em razão da baixa procura e da dificuldade de investimento em reformas da estrutura. O Carnaval infantil, por outro lado, nunca parou. Após negociar parte da área com uma construtora, conseguiu um bom dinheiro para fazer melhorias no clube. Para João Francisco Sacramento Filho, vice-presidente e diretor social da entidade, os próprios clubes também contribuíram com a queda de público nos anos 1990.
— Os clubes não se modernizaram para acolher o jovem. Aí houve a oferta na rua (Carnaval de Rua). A rua é mais liberal. Os clubes não conseguiram entender isso a tempo — sustenta o dirigente.
No entendimento do secretário de Turismo de Tramandaí, Rojoel Simas Amaral, a redução de foliões nos clubes na época ocorreu por investimento maior do poder público.
— O clube perdeu espaço pelo preço que custava para entrar. As prefeituras começaram a fazer cada vez mais Carnaval de rua, promovendo shows. Estamos investindo para sermos uma referência no Estado quando o assunto é Carnaval — afirma Amaral.
Sacramento credita a recente retomada do Carnaval da SAT à volta, principalmente, da insegurança nas ruas. A faixa etária de quem frequenta a SAT, segundo o dirigente, é dos 40 anos, mas diz que há muitos foliões com idade a partir de 50. Mas em vez de duas noites, como nos tempos áureos, agora o Carnaval será realizado em apenas uma, no sábado (22).
— Pela procura, o Carnaval dever ser maior do que o do ano passado — projeta Sacramento, sobre a festa deste ano.
Carnaval enxuto
Torres
A Associação dos Amigos da Praia de Torres (Sapt) ainda não retomou o Carnaval para adultos. Segue, no entanto, oferecendo a diversão para as crianças. A folia ocorre no domingo (23). A gerente administrativa da entidade, Lenara Kras, conta que a folia para os adultos deixou de ser realizada há quatro anos, em razão da queda gradativa de público.
— O último melhor Carnaval ocorreu há seis anos. Nesse, ainda tivemos um público bom. Aí os seguintes foram caindo, até acabar — recorda.
Segundo Lenara, a administração chegou a tentar retomar o Carnaval nesse período, mas não teve procura. Para ela, o crescimento dos festejos de rua e em condomínios inviabilizou o show na agremiação.
— O Carnaval na Sapt chegou a ter 2 mil pessoas em uma noite. Nós chegamos a ter três noites de festa e sempre lotadas. Quando realizamos os últimos, não passava de 300 — lamenta.
Fernando Nery é secretário de Turismo de Torres e recorda que o seu sonho de moleque sempre foi ir a um Carnaval da Sapt. No entanto, quando poderia, a festa deixou de existir.
— Acabou porque é muita oferta de Carnaval de rua. Além de ter mais gente, tem mais espaço para pular com qualidade. Na rua, também é gratuito. No clube, além do custo da entrada, tem o consumo. Na rua, o pessoal não paga e ainda gasta menos porque leva a sua bebida — destaca Nery.
A administração da Sapt estuda para 2021 organizar uma noite de Carnaval para convidados, mas permitindo o ingresso de sócios. O formato, porém, deverá ser menor – em vez do tradicional salão, que lotava há 20 anos, o palco deverá ser à beira da piscina.
Sem Carnaval
Cidreira e Imbé
Em Cidreira, segundo o secretário de Turismo do município, Fábio dos Santos, o Carnaval do Cidreira Praia Clube (CPC) foi muito tradicional nas décadas de 1980 e 1990, mas deixou de ser realizado há anos. Para ele, que não soube precisar o ano da última festa, o motivo foi a oferta de um espaço público de qualidade na área externa para realização de shows na cidade.
— Os ingressos terminavam (no CPC). Tinha gente que ficava de fora. Como Cidreira tem a Concha Acústica, o público migrou para os shows que são realizados lá. E segue assim até hoje — diz o secretário, ao também citar a queda do poder aquisitivo dos veranistas para pagar ingressos. GaúchaZH não encontrou dirigentes do CPC.
Em Imbé, a sede da Sociedade Amigos da Praia de Imbé (Sapi) já não existe mais. Foi demolida após anos de abandono. A entidade promovia Carnavais com grande público na década de 1990 para adultos e crianças. Segundo o secretário de Turismo da cidade, Uiraçu Pinto, a demolição ocorreu em 2018.
— Mas já não fazia Carnaval há anos. Cobravam ingressos altos, e o Carnaval de rua foi ganhando espaço — relata.
A reportagem não encontrou responsáveis pela Sapi.