O coronavírus ainda domina o noticiário na área da saúde, mas a preocupação com outros vírus respiratórios deve ser mantida, especialmente nesta época de Carnaval. A aglomeração de pessoas em blocos, desfiles e bailes configura uma situação propícia para a disseminação de doenças, ainda que estejamos em pleno verão.
Depois da pandemia de gripe H1N1, entre os anos de 2009 e 2010, pesquisadores têm observado uma chegada mais precoce do vírus influenza, especialmente, às regiões sul e sudeste do país, onde há um perfil climático mais parecido com o do hemisfério norte. Ou seja, passados os dias de folia, constata-se uma elevação nos índices de infecções, causadas, entre outros fatores, pelos grandes agrupamentos e pelo maior afluxo de turistas.
Cidades como São Paulo, que em outras épocas se esvaziavam durante o mais celebrado feriadão nacional, hoje têm um calendário concorrido de festas. Outro fator que contribui para o aumento dessas enfermidades é o desembarque de estrangeiros no país, rumo aos destinos mais conhecidos do Carnaval, como Rio de Janeiro e Salvador. Vale lembrar que turistas que vêm do hemisfério norte estão saindo de locais onde atualmente é inverno, época em que os vírus se propagam com mais facilidade.
— Os blocos estão ao ar livre, mas essas pessoas frequentam bares, restaurantes e shoppings e usam o transporte público. Claro que tem mais chance de circulação de alguns agentes bacterianos ou vírus — explica a infectologista Nancy Bellei, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Quanto ao coronavírus, o entra e sai de viajantes abre brechas, claro, para a vinda de um eventual infectado. O Ministério da Saúde está acompanhando casos suspeitos há semanas, e por enquanto nenhum foi confirmado.
Como o Carnaval está intimamente ligado à ideia de curtição e multiplicidade de parceiros, ainda que por breves instantes, o folião estará se expondo ao beijar alguém.
— Não é só uma troca de saliva. Ao se beijarem, as pessoas encostam as faces. É um contato muito próximo. Tem risco de transmissão de vírus respiratórios — alerta Nancy.
Mesmo considerando que quem encara a muvuca não está tão preocupado assim com gripes e resfriados, a infectologista explica que, para diminuir o risco de infecções, não há receita milagrosa:
— Tente beijar poucas pessoas ou não beijar ninguém. Quanto mais contato físico, mais chance de transmissão.
Doença do beijo
A mononucleose infecciosa, conhecida popularmente como doença do beijo, é provocada por um vírus transmitido pela saliva. Trata-se de uma enfermidade comum em crianças pequenas – nas escolinhas, elas compartilham brinquedos que são levados à boca – e na adolescência, fase do despertar sexual em que meninos e meninas exploram as primeiras "ficadas" e beijam muito. Escovar os dentes entre uma sessão e outra de beijos não adianta absolutamente nada.
Nancy destaca que quem gosta do agito carnavalesco não tem muito o que fazer para se proteger, já que se juntam muitas pessoas, que ficam a uma distância mínima – ou nula – uma das outras. É difícil colocar em prática, no meio de uma multidão e com difícil acesso a banheiros, por exemplo, uma das medidas preventivas mais eficazes contra a propagação dos vírus respiratórios, que é a lavagem frequente das mãos. Vale ressaltar a importância da "etiqueta respiratória": quem tosse ou espirra deve cobrir o nariz e a boca com a dobra do braço, na altura do cotovelo, ou utilizar um lenço descartável; para os demais, a dica é procurar se afastar de quem estiver com esses sintomas.
— Um bloco de Carnaval é como uma creche infantil, só que com um tipo diferente de interação — compara a pesquisadora.
Dicas para a folia
- Lave as mãos sempre que puder
- Ao tossir ou espirrar, cubra a boca e o nariz com a dobra do braço ou um lenço descartável
- Procure se afastar de quem estiver tossindo ou espirrando
- Sempre que puder, evite contato físico. Quanto mais contato, mais chance de transmissão de vírus respiratórios
- Não compartilhe copos, canudos e garrafas