Bitucas de cigarro, sacos de salgadinho,
Cacos de vidro, tampas plásticas e copinhos,
Fraldas usadas, cadeiras quebradas, restos de televisão.
Até urna para cinzas de cremação.
Não estamos falando de um lixão,
Mas de lindos lugares que não merecem tal agressão.
Os versos inciais são para tratar de algo fundamental para o planeta, que é o cuidado com o meio ambiente. Estes e muitos outros materiais seguem sendo encontrados na beira das praias, nas dunas e no mar do litoral do Rio Grande do Sul.
A equipe de GaúchaZH pegou a estrada e foi atrás de iniciativas de voluntários que trabalham para que a poluição seja minimizada na região. Se estivesse vivo, José Lutzenberger, ambientalista gaúcho falecido em 2002, referência na defesa da causa, se orgulharia ao saber que seu legado de cuidado e apreço ao meio ambiente é seguido por guardiões da natureza, como os integrantes dos projetos Praia Limpa, de Torres; Mutirão Rosa dos Ventos, de Atlântida Sul, em Osório; Eco Imbé, de Imbé; e Ecosurf, Organização da Sociedade Civil (OSC) nacional que também tem base no Estado. São “soldados” que usam a palavra e a ação para limpar praias e conscientizar veranistas e moradores do Litoral sobre a necessidade e a importância de preservar a natureza.
Praia Limpa
O projeto Praia Limpa Torres é referência no Litoral Norte em ações de cuidado com o meio ambiente. As atividades servem, inclusive, de inspiração e orientação para outros tantos que desejam fazer a sua parte para preservar a natureza. A iniciativa, que começou em 2013, partiu de um empresário e amante do mar. A proposta foi idealizada pelo surfista e empresário Alexis Sanson, 47 anos, e multiplicada litoral afora.
— Eu sempre fui um cara muito ligado ao mar, porque surfo desde 1984. Eu resolvi, pensando nas futuras gerações, baseado no nascimento do meu filho na época, criar um projeto permanente que cuidasse dessa beleza diferenciada que são as praias de Torres — recorda Sanson.
O surfista conta que se espelhou no estilo de vida praticado na Austrália, onde já morou, para se tornar um amante do meio ambiente.
O Praia Limpa tem como base Torres, mas se une a outros projetos para fazer a limpeza de todo o litoral gaúcho. Dez voluntários fazem parte do grupo de trabalho contatado por Sanson para planejar e executar os mutirões de limpeza nas praias e outras atividades ligadas ao meio ambiente, como palestras em escolas públicas, por exemplo. Quando as ações na orla acontecem, o número de parceiros se multiplica, segundo ele, chegando a cerca de 50. Em média, são realizadas 12 ações por ano pelo projeto.
Bituqueiras à beira-mar
Uma das iniciativas do projeto Praia Limpa foi a instalação de bituqueiras em praias de Torres. São 50 atualmente, que são esvaziadas e têm os resíduos descartados quando ficam cheias.
— Uma bituca de cigarro tem praticamente 5 mil itens químicos em sua composição, que poluem o meio ambiente como se fosse um litro de esgoto (sem tratamento) — alerta o coordenador do projeto.
Bituqueiras individuais e sacos biodegradáveis de TNT para utilizar na beira mar como lixeiras também são distribuídos.
A reportagem de GaúchaZH caminhou com Sanson na sexta-feira (14) nas praias da Cal, Prainha e da Guarita. Na Prainha, bem próximo ao letreiro com o nome da cidade, tradicional ponto para selfies – onde há bituqueiras instaladas –, foram encontradas muitas bitucas na grama que antecede a areia, antes de chegar ao mar.
Na Praia da Cal, um ponto de descarte de lixo foi encontrado na encosta de um morro. Em uma das furnas, era possível ver de longe restos de uma cadeira e outros resíduos em meio a pedras. Na Praia da Guarita, que fica dentro do Parque Estadual José Lutzenberger, havia bitucas de cigarro e tampas plásticas na areia.
— Olha aí, ó! Infelizmente temos muito disso, o que demonstra que temos que repensar a utilização de diversos itens que impactam nossas praias — disse o empresário, ao recolher bitucas, tampas e até um rolo de papel higiênico que estavam nas areias da Praia da Guarita.
Mutirão de limpeza marcado
Um grande mutirão de limpeza das praias, que contará com o Praia Limpa e voluntários de outros projetos do Litoral, ocorrerá no dia 8 de março. A atividade envolverá desde o recolhimento dos resíduos na orla até palestras educativas e exposições relativas ao impacto humano no ambiente praiano. A data foi escolhida para deixar as praias limpas após o período de veraneio, incluindo a passagem do Carnaval, quando as festas geram grande acúmulo de lixo nas praias.
Esta será a segunda edição do evento, chamado de “Somos Lixo Zero”. Na edição passada, em janeiro de 2019, quase meia tonelada de resíduos foi recolhida pelos voluntários em diferentes ações no litoral gaúcho. Os líderes de poluição são as bitucas de cigarro e itens plásticos – mas muito outros são encontrados.
— Em termos de resíduos inusitados, já encontramos restos de televisão, de outros eletrônicos e até uma urna com cinzas de cremação — conta Sanson.
Conscientização
Além dos mutirões de limpeza, o projeto Praia Limpa vai até escolas públicas de Torres para trabalhar a educação ambiental. As palestras são lúdicas, em especial para alunos do 1º ao 5º do Ensino Fundamental. Mas também já foi feita para pré-escola.
— Fizemos uma espécie de teatrinho. A gente simula a limpeza de uma praia com as crianças e elas ajudam nisso. Explicamos também que existe uma “mágica” chamada reciclagem. Também mostramos o impacto da poluição nos animais marinhos, mas sem imagens fortes, até porque estamos lidando com crianças — conta Sanson.
Além das crianças, há palestras também para adolescentes, adultos e idosos, mas em outros formatos.
25 anos dedicados ao ambiente
Não tem quem não se encante com o quiosque de Paulo França, 55 anos, na beira da Prainha, em Torres. Decorado com uma prancha de surfe, com frutas acomodadas em cestos de palha e sempre muito bem limpo, a estrutura chama a atenção de quem passa. França é um ambientalista conhecido na cidade. No cordão do calçadão, bem em frente ao seu quiosque, por exemplo, uma frase escrita por ele alerta para os riscos das bitucas de cigarro para a natureza. Há lixeiras para resíduos recicláveis e orgânicos ao lado de seu estabelecimento.
— Além disso, eu tenho canudo de papel. Mesmo sendo caro para nós, chegamos nele. Ainda não estamos com o copo de papel, porque o preço é inviável ainda. Não vendo long neck por causa do vidro, que pode ir para a praia. Pode cortar as crianças na areia —explica França.
O empresário gosta de dizer que seus clientes já sabem a “batida” dele, no caso do cuidado com o meio ambiente.
— Quando as pessoas chegam, já sabem que o nosso propósito é esse. E vêm nos ajudar. Se você olhar aqui na grama, ao redor de onde eu trabalho, vai ver que está sempre limpo — relata França, ao apontar para o chão sem um resíduo sequer, diferentemente do restante da grama da Prainha, que acumula bitucas.
O ambientalista também é artista: faz desenhos gigantes na areia, sempre tendo a frase “Preserve Torres” presente. São imagens, por exemplo, de mãos segurando o globo terrestre, sereias e animais marinhos. No ano passado, inclusive, publicou um livro com poesias sobre a natureza e imagens de suas obras estampadas nas areias de Torres.
Eco Imbé
A Eco Imbé é uma iniciativa recente, que nasceu em fevereiro de 2019. Muito antes disso, porém, seu idealizador, Cleverton da Silva, 40 anos, já pensava em cuidar da natureza no Litoral Norte. Mutirões de limpeza da orla, confecções de placas sobre conscientização ambiental instaladas à beira-mar e distribuição das chamadas bituqueiras sociais são alguns dos trabalhos do projeto.
Silva conta que começou no ativismo ambiental no fim da infância. Aos 12 anos, vendia salada de frutas em potes plásticos descartáveis na orla. Na época, percebeu algo errado depois do consumo pelos seus clientes.
— Eu voltava para casa e me preocupava com a colherinha e o copinho plástico que eu levava. Então, no final de tarde, após vender a minha salada de fruta, eu retornava com saquinho plástico para buscar esse material. E eu encontrava todos eles na beira da praia — recorda o ambientalista e agora diretor do Departamento de Concessões e Permissões da Prefeitura de Imbé.
O tempo foi passando e o cuidado com o meio ambiente só foi aumentando. Silva brinca que a limpeza de praia aos finais de semana virou um esporte para ele, que faz questão de levar o filho junto para praticar e aprender. Diz que desde a adolescência tinha vontade de criar uma identidade visual para essa paixão pelo meio ambiente. Facilitador de órgãos públicos e privados para a realização de atividades ligadas à natureza, foi quando decidiu criar a Eco Imbé.
— A Eco Imbé surgiu mesmo com textos e imagens nas redes sociais sobre cuidados com as praias. Eu era até cômico, brincava com a população, para as pessoas cuidarem do meio ambiente — destaca.
O ambientalista recorda que em uma das postagens havia um pneu na beira da praia de Mariluz, em Imbé:
— Aí eu fiz umas imagens, diagramei e coloquei uma pergunta. Pneu aqui? É sério isso? — conta Silva, ao destacar que o objetivo era buscar a conscientização da comunidade.
Atualmente, a Eco Imbé é procurada por instituições públicas e privada para ações de cuidado com o ambiente no município, mas se une a outros projetos para a realização de mutirões de limpeza de praia. O projeto se preocupa com detalhes que, para a grande maioria, poderiam passar despercebidos, como a coleta de resíduos com baldes e não com sacos de lixo.
— Os baldinhos são mais firmes (do que os sacos). São ambientalmente melhores. Te permite coletar e separar o resíduo seco — relata Silva.
Segundo o ambientalista, esses baldes para recolhimento do lixo à beira-mar são doados a quiosques que procuram a entidade. O objetivo é fazer com que esses estabelecimentos comerciais juntem, por exemplo, lacres de latas de metal e tampinhas de garrafas para serem doados para instituições de caridade. Tudo que é recolhido é contado pela Eco Imbé, para fins estatísticos.
Bituqueira social
Assim como o projeto Praia Limpa, a Eco Imbé tem uma forte preocupação com as bitucas, líderes no ranking de resíduos recolhidos nas praias. Com base nisso, o projeto criou o que é a bituqueira social, na qual potes grandes de vidro de conserva são utilizados como recipientes para armazenar restos de cigarro. Esse material é distribuído gratuitamente nos estabelecimentos comerciais onde se percebe que há mais resíduos jogados no chão. Cerca de 30 já foram confeccionadas.
— A gente informa essa pessoa (comerciante) os malefícios da bituca para o meio ambiente. Quando essa bituqueira estiver cheia, a pessoa entra em contato conosco, a gente vai lá, pega a bituqueira, faz a contagem das bitucas uma por uma, presta os relatórios e leva ela de novo vazia ao local — detalha Silva.
Placas de conscientização ambiental
Placas com frases como “não deixe nada além de pegadas” são confeccionadas pelo projeto e instaladas ao longo da orla de Imbé. A Eco Imbé, segundo Silva, vem sendo procurada por moradores da cidade interessados em contribuir com a iniciativa. Além de produzir as placas, a entidade também sugere frases e locais para instalação do material.
Agora dentro da prefeitura, o ambientalista conta que tem apoiado e sugerido ações ao poder público de cuidados com o meio ambiente. Entre elas, está a instalação de latões para resíduos recicláveis e orgânicos no calçadão. A reportagem de GaúchaZH caminhou com o ambientalista na beira da praia de Imbé e pode constara que, infelizmente, muitas pessoas acabam misturando os tipos de resíduos nesses compartimentos. Outra iniciativa do poder público de Imbé é o “Peixe Pet”, que é uma estrutura em formato de peixe, com cerca de três metros de altura, montada na areia, que serve de ponto de descarte de plástico.
Mutirão Rosa dos Ventos
O Mutirão Rosa dos Ventos tem como base Atlântida Sul, em Osório. Foi criado em 2 de dezembro de 2017, data da primeira ação ambiental, por quatro moradores da praia, que gostam de dizer que fazem parte de uma coordenação compartilhada do movimento. Tudo começou em um grupo de uma rede social de frequentadores de Atlântida Sul. Fotos de tartarugas e bagres mortos na areia publicadas na rede social motivaram a iniciativa. O nome do projeto é devido ao monumento chamado Rosa dos Ventos, que fica na orla de Atlântida Sul e se tornou ponto de encontro para a realização das atividades. São realizados mutirões de limpeza da praia a cada 15 dias durante o verão, além de ações conjuntas com outros projetos de defesa do ambiente no litoral. O último ocorreu no domingo (16), quando foram recolhidos diversos resíduos. Até cueca, meia e óculos de sol foram encontrados, além de frutas usadas em cultos religiosos.
A divulgação das ações para reunir os voluntários é feita através das redes sociais do Mutirão. Ambientalmente mais aconselháveis, baldes são utilizados para recolher os resíduos da beira da praia e de dunas. Depois, tudo é colocado na menor quantidade possível de sacos plásticos. São recolhidos, em média, 50 quilos de resíduos. No primeiro mutirão, no entanto, que acabou não sendo pesado, o lixo encheu uma caçamba.
— A maioria do que a gente recolhe é bituca de cigarro e, depois, canudo. Também tem resto de rede de pesca, tampinha — conta um dos coordenadores do projeto, o comerciante e morador da praia Rogério Maurício Krenn, 39 anos, conhecido como Géio, que diz que entre os itens mais inusitados já recolhidos estão teste de gravidez, televisão, fralda usada e até urna com cinzas de cremação.
O grupo de Atlântida Sul também confecciona placas com frases de conscientização sobre a importância de cuidados com a natureza. Já realizou ações em Torres, Cidreira, Tramandaí, na cidade de Osório e em Xangri-lá. Mas a maioria acontece em Atlântida Sul, que é a base do movimento.
— Tem uma boa receptividade da população. O pessoal nos elogia bastante quando estamos fazendo as ações na beira da praia. E a gente sempre estimula que eles participem, porque qualquer um pode chegar e participar — destaca outro integrante da coordenação, o educador físico e DJ Marco Leotti, 53 anos.
A maioria entende e apoia, mas há quem xingue os voluntários durante a limpeza das praias. A oceanógrafa e terapeuta Shirly Gus Zbinden, 29 anos, diz que a comunidade local é bastante unida e, por isso, a iniciativa do movimento tem prosperado.
— Infelizmente a gente ainda vê alguns moradores que têm esse costume de jogar o lixo no chão — lamenta Shirly, que também faz parte da coordenação do movimento.
A artesã e promotora de vendas Andrea Pacheco dos Reis, 35 anos, lembra que no início das ações do movimento a quantidade de lixo na praia era muito maior do que é hoje.
— A gente tem que criar uma consciência ambiental. Não adianta a gente só falar se tu não fizer. Esse é o meu maior legado que eu posso dar para o meu sobrinho, por exemplo, que veio de Porto Alegre para participar dos mutirões — pondera.
Morador de Porto Alegre, o sobrinho de Andrea, João Paulo dos Reis Rodrigues, 10 anos, diz que faz questão de ajudar o meio ambiente.
— Os mutirões ajudam porque todo o lixo que está na beira (da praia) vai para o mar. E aí as tartarugas podem se confundir e acabar comendo esse lixo e morrer — diz o menino.
Na quarta-feira (12), o casal Salezio Freitas Satiro, 72 anos, e Olivia da Silva Satiro, 68, se preparava para caminhar na areia em Atlântida Sul. Moradores de Porto Alegre e veranistas da praia, disseram que fazem questão de ajudar nos mutirões.
— Desde que viemos para cá, faz três ou quatro anos, a gente está imbuído disso. Sempre que vamos caminhar a gente pega a sujeira que tem na beira da praia e coloca nos tonéis — diz o aposentado.
— Eu acho que as pessoas têm que trazer a sua sacolinha e cada um recolher o seu lixo. Cada um fazendo a sua parte, vai ser uma praia melhor para todo mundo — destaca Olivia.
Além da limpeza de praia, o Mutirão Rosa dos Ventos também promove palestras sobre conscientização ambiental.
Ecosurf
O Instituto Ecosurf é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) criada em 2000. É um dos braços, no Brasil, do setor da Organização das Nações Unidas (ONU) que cuida do ambiente. No Rio Grande do Sul, começou a funcionar em 2017. Há voluntários espalhados por cidades como Porto Alegre, Arroio do Sal, Rio Grande, Passo Fundo, Caxias do Sul, entre outras no Litoral. O grupo fixo no Estado conta com 20 pessoas, além de outros voluntários esporádicos. As ações de limpeza de praia e do mar são constantes, segundo o coordenador da Ecosurf no Rio Grande do Sul, Cláudio Becker. Entre elas, a Campanha Mares Limpos, que é da ONU Meio Ambiente, mas organizada pelo instituto no Brasil.
— No ano passado, durante a semana da campanha (realizada no meio do ano), nós conseguimos fazer ações em oito localidades diferentes, todas no litoral (gaúcho) e também em Passo Fundo — recorda Becker, ao citar a ação realizada no Estado, mas lembrando que a campanha é nacional. Na oportunidade, mais de 300 voluntários se uniram e recolheram cerca de cinco toneladas de lixo.
Este ano já foram realizadas duas ações de limpeza de praia pelo instituto no Estado, sendo uma em Cidreira, durante a segunda etapa do Campeonato Gaúcho de Surfe, e outra em Arroio do Sal. Assim como os voluntários dos demais projetos de limpeza de praia, o que é mais encontrado pela Ecosurf nas areias é a bituca de cigarro.
— Em torno de 40 minutos de coleta, em um raio de cem metros, são mais de 3 mil bitucas recolhidas — relata Becker, que é ativista ambiental e gerente comercial de um laboratório de produtos naturais.
Todos os dados coletados são enviados para a ONU para medição do grau de poluição de cada localidade. O objetivo é poder cobrar políticas públicas e produzir projetos de melhoria. Sempre depois dos mutirões de limpeza, todo o material é despejado e separado em uma lona.
— Geralmente a gente combina com uma cooperativa local para pegar todo o lixo que for plástico para que possa ser reciclado — conta.
O resto do lixo é recolhido pela prefeitura do município onde a ação está ocorrendo. Ao final das atividades, é feito um abraço simbólico aos oceanos em volta da lona com os resíduos:
— O nosso grito de guerra: defender os oceanos é da nossa natureza. Nós somos Ecosurf.
Ações no mar
Segundo a Ecosurf, em razão das características do litoral gaúcho, dificilmente ações são realizadas dentro do mar. Por ser revolto, segundo Becker, o lixo não fica parado em um local, o que impede a aproximação. Mas conta que cada surfista engajado, quando rema em busca de ondas, vai recolhendo o que vê pela frente e vai colocando dentro da roupa. Já em rios e lagoas, há ações com barco para recolhimento de lixo.
Guardiões Ecosurf
Esse projeto do Instituto Ecosurf visita escolas para realização de palestras e atividades de educação ambiental. Neste ano, estão agendadas ações em cinco instituições de ensino do Estado. Nas públicas, a atividade é gratuita. Nas privadas, há um pagamento de uma taxa para cobrir os gastos do que é usado de material pela OSC. Também são realizadas atividades em empresas.
O impacto do lixo na praia
O oceanógrafo e professor do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Gerson Fernandino diz que mutirões de limpeza de praia são importantes, principalmente para conscientização da população.
— Serve para mostrar o tamanho do problema para que as pessoas que estão ali frequentando o ambiente no dia a dia sejam sensibilizadas — elogia o mestre e doutor em geologia marinha, costeira e sedimentar.
Ele faz questão de ressaltar que, apesar de toda a boa vontade dos voluntários, as ações não solucionam o problema da poluição.
— A gente sabe que a entrada de lixo no ambiente marinho é constante, diária. No mundo todo está acontecendo — lembra.
Segundo Fernandino, o plástico ainda é o material mais encontrado, chegando a cerca de 90% de tudo o que é recolhido no mar. A maior parte do lixo tem origem no continente.
— Por exemplo, uma cidade que não é tão próxima ao mar, mas que tem um rio que desemboca no mar, leva todo o poluente aos oceanos.
Fernandino explica que todos acabam sendo prejudicados pela poluição das praias, mas principalmente quem vive ou frequenta os ambientes costeiros e marinhos. Cita o caso de animais marinhos que ingerem plástico por confundir com alimento. Conta ainda que há estudos que comprovam que há animais com preferência por se alimentar de plástico.
— O problema de o animal se alimentar do plástico é que ele passa a ter uma sensação de saciedade. Porque o estômago dele passa a estar cheio. Com isso, para de comer e acaba morrendo de inanição — explica o especialista.
O oceanógrafo reforça os perigos da chamada biomagnificação. Trata-se do aumento da concentração de uma substância ou elemento nos organismos vivos, à medida que percorre a cadeia alimentar. Por exemplo, o plástico ingerido por uma tatuíra pode passar para o peixe que se alimenta dela. Consequentemente, o poluente vai chegar ao homem, que se alimenta do pescado.
— A gente ingere não só o microplástico fisicamente, como também os poluentes que estão absorvidos no microplástico — alerta o especialista.