Sair do trabalho, trocar de roupa e curtir o sol à beira-mar até as 19h40min: eis um privilégio dos veranistas e frequentadores do litoral sul gaúcho. As praias da região têm o dia mais longo e o pôr do sol mais tardio de toda a costa do Brasil.
— Eu venho aqui todo dia tomar chimarrão, caminhar ou pedalar. É uma terapia. Quem não mora aqui, diz que a gente é sortudo — diz a assistente de balança Danieli Machado, 40 anos, moradora de Rio Grande que tomava um chimarrão com dois amigos, na praia do Cassino, nesta quarta-feira (19).
No dia mais longo do ano no Hemisfério Sul, em 21 de dezembro, o Litoral Sul testemunha um pôr do sol mais de duas horas mais tarde do que em Natal (RN), no norte do Brasil. Nessa data, a praia mais ao sul do Rio Grande do Sul, a Barra do Chuí, em Santa Vitória do Palmar, vê o dia terminar às 19h40min, enquanto a capital do Rio Grande do Norte tem pôr do sol às 17h31min. Se o gaúcho passeia sob céu ainda claro, o potiguar transita no escuro.
— A gente toma um chimarrão, um banho de mar, faz um churrasquinho na areia ou pedala na ciclovia. Quando tinha horário de verão, era ainda melhor, as pessoas ficavam até depois das 22h na praia — afirma a professora Rosaura Valente, 61 anos, que conversava à beira-mar do Cassino com o marido, o funcionário público Antônio Valente, 58, depois das 19h.
Até dentro do Rio Grande do Sul há diferença. Em 21 de dezembro, como mostra o infográfico acima, o pôr do sol na Barra do Chuí ocorre 22 minutos depois do que em Capão da Canoa, no Litoral Norte, segundo dados do software de astronomia Stellarium. A duração do dia nas cidades, no entanto, é quase a mesma, porque o nascer do sol em cidades mais ao Norte ocorrerá mais cedo.
Com o passar do verão, o total de tempo de luz solar no dia começa a diminuir gradualmente: os dias se tornam mais curtos e frios — e o inverno chega. Se em 21 de dezembro o sol se pôs 19h40min na Barra do Chuí, em 18 de fevereiro, foi às 19h20min.
A explicação para o fenômeno está na órbita da Terra com seu eixo inclinado em torno do Sol. Em sua volta de um ano ao redor do astro rei, o planeta acaba expondo de forma mais direta, por um período de tempo (as estações do ano), uma região do globo raios solares mais do que outra (veja no infográfico abaixo).
No nosso verão, quando o Hemisfério Sul está mais exposto ao sol, essa região do planeta recebe raios solares de forma mais direta e se aquece com o calor do verão — aí, amanhece mais cedo e escurece mais tarde. Enquanto isso, o hemisfério Norte recebe menos luz direta e enfrenta dias mais curtos e noites mais longas — ou seja, é inverno. Depois, na metade seguinte da órbita ao redor do Sol, esse processo se inverte: aí o hemisfério Sul recebe menos luz solar e o Hemisfério Norte, mais.
— Qualquer ponto que estiver mais próximo do Polo Sul terá um dia mais longo durante o período de verão. Isto é, terá um tempo maior de insolação — diz o físico e professor de astronomia João Carlos de Oliveira.
A consequência disso para nós, que vivemos no hemisfério Sul, é que, quanto mais próxima uma cidade está do Polo Sul, maior o tempo de luz no verão e menor o tempo no inverno. Como Barra do Chuí é a praia mais ao sul do Brasil, acaba premiada com um dia mais longo no verão — e penalizada no inverno.
— Se for para o Uruguai ou Argentina, o dia será mais longo ainda — diz o professor de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), João Harres.