Mar calmo não faz bom marinheiro, mas seguramente torna o banho mais agradável. Na Praia do Cassino, em Rio Grande, no Litoral Sul, as águas costumam ser mais calmas em comparação ao Litoral Norte, segundo oceanógrafos consultados por GaúchaZH. As ondas menores são causadas por uma série de características geográficas da região – incluindo a presença dos Molhes da Barra e de mais bancos de areia debaixo d'água.
Os molhes – duas muralhas de pedra que se estendem desde a costa até mar adentro por 3,5 quilômetros – funcionam como uma barreira capaz de reduzir a altura das ondas causadas pelo vento soprando de Nordeste e de Leste, explica Osmar Möller Júnior, professor de oceanografia física da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).
A área ao sul dos molhes tem ondas tão baixas que recebe o nome de "zona de sombra", por proteger o banhista como uma árvore o protege do sol. Esse efeito de mar calmo se estende por cerca de 10 quilômetros ao longo do Cassino. É semelhante ao que ocorre em praias de Santa Catarina, onde morros formam uma baía capaz de acalmar as águas.
— Na prática, os molhes fazem a energia da onda diminuir. Há uma região ao sul dos molhes, por cerca de 500 metros ou 600 metros, onde quase não há onda. Se o vento é de Nordeste ou Leste, uma área de ondas menores se estende até a região da Querência. Com isso, a arrebentação enfraquece. Já perto do navio Altair (encalhado, localizado mais longe), é outra praia: a onda bate mais, fica parecido com o Litoral Norte — diz Júnior.
Para além dos molhes, há uma barreira natural debaixo d'água: os bancos de areia, que são como degraus submersos capazes de "quebrar" a onda. Esses degraus se sedimentam no solo com o vaivém do mar, que leva e traz a areia da beira. No Cassino, como a areia é muito fina, as ondas trazem com mais facilidade os grãos – surgem, então, bancos de areia planos, mais ou menos como um bolo uniforme que foi bem assado no forno.
No Litoral Norte, por outro lado, a areia é um pouco mais grossa: nesse ir e vir do mar, parte dos grãos se perde no meio do caminho. Em vez de bancos de areia retos e uniformes, formam-se degraus irregulares e com buracos – as ondas, então, quebram menos. É assim em Tramandaí ou Capão da Canoa.
— No Cassino, há três ou quatro bancos de areia próximos à costa. As ondas quebram no banco mais externo, depois quebram em um banco no meio, quebram novamente no banco mais próximo à praia e aí ficam com menor altura. São uns 30 quilômetros de praia muito seguros — explica o professor de oceanografia geológica na Universidade Federal do Rio Grande (Furg) Lauro Calliari.
Degraus de areia submersos freiam as ondas
Um terceiro ponto para explicar um mar mais calmo, pontua Calliari, é que no Cassino os bancos de areia são paralelos à praia, e não transversais, como no Litoral Norte. Quando o banco de areia é paralelo à praia, há menos correntes de retorno, espécie de rota de água que sai da costa em direção ao mar aberto e que pode atingir até 7 km/h, velocidade próxima à de nadadores olímpicos.
O mar do Cassino tem degraus de areia paralelos à praia por enfrentar mais tempestades, inclusive no verão. Durante a chuva, o mar se movimenta e "compacta" o solo, deixando o banco de areia mais plano e menos transversal.
— A tempestade tira a areia que começaria a formar bancos transversais, e assim eles ficam paralelos de novo. No banco de areia transversal, há um desnível: você caminha no banco, mas ele é interrompido. Há uma variação de profundidade que gera as correntes de retorno — destaca Calliari.
Como evitar correntes de retorno
Como identificar: no mar, é a área sem espuma branca (como a corrente forma uma rota de passagem, não há arrebentação)
Não nade contra a corrente de retorno: a força da água fará você se cansar.
Nade na diagonal ou de forma paralela à costa até a arrebentação mais próxima.
Levante a mão para pedir ajuda a um guarda-vida.
Tome banho sempre com a água na altura da cintura.
Maior segurança é sentida na prática
Veranistas sentem, na prática, maior segurança de banhar-se no Cassino do que em outras praias. A técnica em enfermagem Marisa Wagner, 42 anos, assistia ao filho Enzo, quatro anos, correr na água rasa no fim da tarde desta quarta-feira (19). Ela havia viajado desde Ivoti, no Vale do Sinos, com o marido, o representante comercial Sérgio Wagner, 63, e a filha Emily, 15 anos:
— Para quem vem com criança, é tudo de bom. Fui agora em janeiro para Tramandaí e não tinha como entrar na água, era muita onda e repuxo.
Moradores de Salto, no Uruguai, Lourdes Meirelles, 45 anos, e Ruben Ferreira, 55, sentem mais tranquilidade em deixar a filha Pia, oito anos, nadar no mar do Cassino do que em Torres.
— Aqui é mais seguro para crianças. Tem menos ondas e dá para entrar na água até mais longe — diz Lourdes, que trabalha como secretária.