Com os dias de calor intenso que têm feito no litoral norte gaúcho, nada mais refrescante do que um mergulho no mar. Desde segunda-feira (27), os veranistas ainda ganharam de presente uma água um pouco mais clara do que o habitual e em temperatura agradável, tornando-se bastante atrativa para o banho.
Para garantir que esses momentos de lazer sejam seguros, é preciso ficar atento às condições do mar e respeitar tanto a sinalização das bandeiras quanto as orientações dos guarda-vidas para sair de regiões que podem ser arriscadas.
Algumas dessas áreas parecem tentadoras: apresentam menos ondas, dando a falsa impressão de tranquilidade. Essa armadilha é chamada de corrente de retorno, movimento marítimo no qual as águas se movem a uma velocidade de até 8 km/h, conforme explica o oceanógrafo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Gerson Fernandino, que atua no Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar):
— É o movimento de água no sentido do mar aberto, transversal à praia. Ele é formado pelo excesso de água empilhada pelas ondas sobre a praia que retorna atravessando a arrebentação e escavando canais na areia. O movimento é muito rápido e acaba se estendendo até 100 metros para dentro do mar.
Identificar essas áreas requer treinamento. Na praia, surfistas experientes e guarda-vidas conseguem visualizá-las com mais facilidade. Para os veranistas em geral, é bom ficar de olho justamente nas regiões onde não há ondas quebrando e, consequentemente, há menos espuma. Isso pode indicar uma área com corrente de retorno, pois como elas formam valas na areia, as ondas não chegam a quebrar, em função da maior profundidade.
— As pessoas querem uma água mais tranquila, mas, no fim, é mais perigoso, pois é mais fundo e é onde a água retorna com velocidade — destaca o guarda-vidas José Alex Martins Antunes, que atua há 23 anos nas guaritas do Litoral Norte.
Quem tiver como observar o mar de cima de um prédio, por exemplo, também pode encontrar as correntes nas áreas mais escuras da água.
— Em muitos casos, vemos alteração na cor da água porque a areia fica em suspensão. Aqui, como a água já está marrom, fica difícil, mas quando ela está mais verde, fica em tom mais escuro nessas regiões — ensina Fernandino.
Evitando acidentes
Como o mar é muito dinâmico, essas correntes podem, facilmente, mudar a localização de um dia para o outro, o que pode provocar acidentes. Também é possível ser levado até uma área de corrente de retorno, por conta de outro movimento marítimo que ocorre paralelo à praia: a corrente longitudinal.
— É por isso que, às vezes, entramos no mar em determinado e ponto e, quando saímos, estamos distantes do ponto inicial — comenta o professor da UFRGS.
Ao cair em uma corrente de retorno, a recomendação principal é nunca nadar contra ela. Procure se deslocar em sentido lateral, a fim de sair da sua área.
— O melhor nadador não a vence. Para sobreviver, é preciso nadar de forma oblíqua, cortando-a de forma lateral e buscando a margem. Não pode voltar pela corrente porque ali se perde energia, se entra em exaustão e ocorre o afogamento. Aí é o grande perigo — alerta o chefe de Assessoria de Operações e Defesa Civil do Corpo de Bombeiros, major Isandré Antunes.
Ademais, os guarda-vidas recomendam o banho com água, no máximo, na altura da cintura. Boias e flutuadores devem ficar restritos às piscinas, pois podem oferecer ainda mais riscos aos banhistas quando usados no mar. Crianças menores de seis anos só podem ingressar na água com um adulto.
— O adulto deve se posicionar de costas para o mar e não deixar que a criança se distancie a uma medida superior à de um braço — indica o chefe de Assessoria de Operações dos bombeiros.
Por fim, só entre na água quando a bandeira estiver verde ou amarela. Quando ela estiver vermelha, o banho não é recomendado nem mesmo na beira.
Fique atento
- Na dúvida, pergunte aos guarda-vidas onde há corrente de retorno.
- Ao cair em uma corrente de retorno, tente manter a calma e nadar em paralelo à praia, nunca contra ela.
- Respeite as sinalizações das condições do mar, evitando o banho com bandeira vermelha.
- Fique próximo das guaritas dos guarda-vidas.
- Respeite os apitos e as orientações dos guarda-vidas.
- Tome banho com água no máximo na altura da cintura.
- Crianças na água devem ter supervisão constante de um adulto.
- Não use boias ou flutuadores no mar.
- Evite a combinação álcool e mar.
- Nunca tente salvar alguém. Na maioria das vezes, você pode se tornar uma vítima também.
- Aja com precaução. Se mesmo assim alguém próximo se afogar, o melhor a fazer é buscar socorro junto aos guarda-vidas.
Fonte: major Isandré Antunes
Saldo positivo
Nesta temporada, além das tradicionais bandeirolas coloridas, os banhistas ainda contam com a recomendação de área própria para banho, que é indicada por flâmulas dispostas na areia e que respeitam a distância do campo de visão dos guarda-vidas.
A boa notícia é que essa novidade tem surtido efeito. De acordo com o levantamento da Operação RS Verão Total 2020 (considerando números de 21 de dezembro de 2019 até 27 de janeiro), o número de salvamentos no Litoral Norte chegou a 219, contra 284 no mesmo período da temporada 2018/19. Até o momento, não há mortes por afogamento nas praias do Litoral Norte. Na operação anterior, nesse mesmo período, havia duas mortes registradas.
— Estamos com zero óbito em mais de 30 dias de operação. Isso se deve à ação preventiva dos guarda-vidas — comemora Isandré Antunes.
As indicações são dispostas da seguinte maneira: quando o mar estiver tranquilo, por exemplo, e a bandeira for verde, a área de delimitação do banho será de 300 metros (150 metros para a direita e 150 para a esquerda da guarita). Com bandeira amarela, essa distância será reduzida para 200 metros (cem para cada lado) e, quando a bandeira estiver vermelha, a área cairá para cem metros (50 para cada lado).