A concorrência entre os vendedores que trabalham na orla gaúcha é grande e, diante disso, é preciso criatividade para conquistar e fidelizar clientes. Em Capão da Canoa, por exemplo, são 300 ambulantes cadastrados na prefeitura e 52 quiosques instalados na praia.
Geralmente, os produtos à venda são muito parecidos ou iguais, como picolés, queijo coalho, bebidas, caixas de som, entre outros. Então, a forma de chamar a atenção – simpatia, educação, imagem ou até mesmo uma dança – é o que poderá ajudar nas vendas. Nesta temporada, o que se diz entre eles é que, apesar do bom número de veranistas, poucos são os dispostos a gastar. GaúchaZH colocou o pé na areia e foi em busca desses trabalhadores diferenciados.
Turma do Chaves
Quem frequenta a beira da praia de Capão da Canoa já deve ter cruzado com o vendedor Filippe Dimari, 36 anos, o homem vestido do personagem mexicano Chaves. Acompanhado da esposa, Ana Paula Lemos, 30 anos, que quase sempre está vestida com a roupa da personagem Chiquinha, e às vezes de um funcionário fantasiado de Kiko, o DJ chama a atenção quando passa com sua caixa de som e o microfone para se comunicar com o público.
— Eu trabalho das 10h às 17h, sem almoçar. Ou enquanto a caixa ainda tiver carga — afirma Dimari, que mora em Viamão e trabalha durante a temporada na praia.
Além das roupas que já chamam a atenção e do som com músicas predominantemente dos anos 1970, 1980 e 1990, Dimari também tem a dança como atrativo. Há seis anos vendendo CDs e pendrives nas areias, ele faz tudo para "quebrar o gelo com o cliente":
— A ideia da roupa era para que o cliente pelo menos nos escutasse. E deu certo. No primeiro, dia compravam para nos ajudar, no segundo, compravam porque gostaram das músicas e do nosso jeito.
O CD, apesar de pouco usado diante de aplicativos de música, vende bem. A R$ 10 cada, segundo ele, em dias bons, até 150 peças. Quando o tempo não ajuda ou o público não está disposto a gastar, vende 50.
— Eu não sou só um vendedor. Eu ajudo, por exemplo, com meu microfone, a encontrar alguma criança que se perde e a conscientizar sobre a importância do destino certo para o lixo — destaca.
O casal de empresários de Bento Gonçalves Josete Moro Fuligo e José Fuligo comprou uma coletânea de músicas de Dimari.
— O jeito deles é um diferencial. Em um mundo competitivo, é preciso ter alternativas. Se não buscar criatividade, você fica para trás — opina Josete.
Capitão do açaí e do entretenimento
Marcus Vinícius Alves da Silva, 39 anos, o Vinni Show, como é conhecido, decidiu levar também para a beira da praia o seu personagem Capitão de Mar e Guerra da Marinha, usado para animar festas. Para isso, cortou as mangas e fez da calça uma bermuda. Ele vende açaí. Aliás, e como vende. Cada pote custa R$ 10, e ele chega a comercializar mil nos finais de semana de bom movimento em Capão. Dois carrinhos em formato de barco e com alto-falantes são utilizados para o trabalho.
— O meu investimento de R$ 10 mil se pagou em 12 dias e eu já estava tendo lucro — conta o simpático vendedor, sempre com sorriso no rosto.
Além da qualidade do produto, garante ele, as coreografias, a roupa sempre bem limpa e o álcool gel para os clientes são seus diferenciais:
— Tudo começa na questão do atendimento. Mas o entretenimento também é super importante. Os clientes pedem a dança.
Segundo ele, quando o som do carrinho não está funcionando, as vendas caem.
— Eu chego a parar para dançar umas 50 vezes por dia — conta o Capitão Açaí, como é conhecido, que reforça: — Eu tenho três meses para faturar o que durante o ano eu não vou ganhar.
Por onde passa o Açaí do Capitão, lá estão os celulares para gravar as coreografias.
— Você não vai encontrar ambulante que é convidado para comer churrasco na casa de cliente como eu — ressalta o vendedor pouco antes de ser chamado para baixo de um gazebo e recebido petiscos de uma família.
O Havaí é aqui
Se a concorrência é grande entre os vendedores ambulantes na beira da praia, entre os quiosques, não é diferente. Um desses estabelecimentos decidiu mudar o visual de toda a equipe. Do uniforme tradicional, com cor neutra, para a camisa estilo havaiana e chapéu tipo Panamá. O proprietário, Reginaldo da Silva Inácio, 36 anos, foi quem pensou na mudança:
— Eu estou nesse quiosque há 21 anos e sempre quis fazer uma coisa diferente.
Régis, como é conhecido, trabalha com os pais e ainda tem cerca de 10 garçons atendendo:
— Além da roupa diferente, tentamos sempre ser o mais atenciosos possível com os clientes — diz o comerciante. — Sou inquieto. Estou sempre pensando em algo diferente, como barracas novas, lixeirinhas.
Diego Selistre, 31 anos, trabalha com Regis durante a temporada. Considera que o novo uniforme combinou bastante com o clima de praia.
— Em dias de grande movimento, os nossos clientes conseguem nos ver com facilidade — relata o garçom, com o uniforme que mistura, entre outras cores, o laranja, o rosa, o azul e o amarelo.
A professora aposentada de Porto Alegre Clarice Martins, 66 anos, é a cliente mais antiga do quiosque, segundo Regis, e elogia:
— A infraestrutura, o pronto atendimento e o uniforme são alguns dos diferenciais, além do número suficiente de garçons. Conseguem atender a todos e bem.
A advogada aposentada de Cruz Alta Marlene Bortoli, 69 anos, é outra que é só elogios.
— Os garçons estão sempre com sorriso no rosto. Temos prazer de darmos gorjetas a eles — destaca.