Com a aprovação da reforma da Previdência pela Câmara dos Deputados e o avanço dela no Senado, o mercado de seguros projeta crescimento na procura pelos planos de previdência privada em 2019. O motivo principal é a demora maior e outras mudanças que dificultam a obtenção da aposentadoria pública, que é paga pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
De 2017 para 2018, os chamados planos de acumulação amargaram queda de 8,1% na arrecadação no país, passando de R$ 116,8 bilhões para R$ 107,4 bilhões. No Rio Grande do Sul, a queda foi menor, 1,8%, de R$ 6,39 bilhões para R$ 6,27 bilhões. Os dados são da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), com base em relatórios da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Os números de 2019 mostram novo cenário, que traz otimismo ao mercado. No primeiro semestre, o crescimento na procura pelos planos PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres) e VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres), na comparação com o mesmo período do ano passado, no país, foi de 8%, passando de R$ 51,23 bilhões para R$ 55,33 bilhões movimentados. No Rio Grande do Sul, o resultado é ainda melhor, 15,6% de aumento, de R$ 3,04 bilhões para R$ 3,5 bilhões.
O presidente da CNSeg, Márcio Serôa de Araújo Coriolano, conta que a previdência privada teve grande procura desde o surgimento, em 1997, com crescimentos consecutivos de adesões. Sobre a queda na procura nos últimos anos, justifica que "foi um período de volatilidade de ativos":
— As pessoas estavam sem saber muito bem onde aplicar o dinheiro. A expectativa que temos agora é de que esse sentimento, de que tem que se precaver para o futuro e que os instrumentos públicos vão ter que ceder lugar à responsabilidade privada, faça com que as pessoas procurem mais os planos de previdência.
É preciso planejamento de longo prazo
O presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul (SindisegRS), Guacir Bueno, trabalha há 18 anos no mercado de seguros. Membro do Conselho de Administração da MBM Seguradora, também é otimista quanto à procura por previdência privada a partir deste ano. Sobre as últimas quedas, observa que podem ser atribuídas à recessão:
— A previdência privada é de longo prazo e sabemos que a cultura brasileira é avessa a questões de planejamento de longo prazo.
Sobre o mercado a partir da aprovação da reforma, Bueno diz não ter dúvidas quanto ao bom desempenho.
— As companhias estão se preparando para oferecer produtos cada vez melhores. Estamos otimistas — projeta Bueno.
Na ponta, os corretores de seguros também sentem essa melhora.
— Se percebe que as pessoas têm mais interesse em razão de tudo isso que está ocorrendo — conta a corretora de seguros Fabiana Maiato de Sousa Nascimento.
Há 27 anos no mercado de seguros, Maurício Junqueira, diretor comercial da empresa Benefício Sul Corretora de Seguros, considera fundamental o avanço da reforma da Previdência no Congresso para o bom desempenho dos planos privados.
— Sem dúvida que a previdência privada é uma das melhores alternativas para as pessoas garantirem o futuro. O que nos falta muito é educação financeira para pensar nessa "poupança" de longo prazo — defende Junqueira.
Vice-presidente do SindisegRS, Adão Rubens Oliboni acredita que a procura pela previdência privada está mais ligada à cultura do brasileiro do que ao fato de estarmos perto de concluir a aprovação da reforma da aposentadoria pública.
— O brasileiro, de forma geral, é pouco previdente. Então, isso tem um impacto importante quando se fala em previdência privada. Se compararmos os números do tamanho da população e mesmo a riqueza do país versus o que temos constituído em fundos de previdência privada, é muito fácil percebermos que estamos longe do ideal — sustenta.
Mesmo assim, acredita que a aprovação da reforma da Previdência deverá gerar procura, mesmo que pequena, pelos planos privados.
— Obviamente trará uma mudança no comportamento das pessoas, mas julgo que essa mudança não será de grande tamanho. Porque aí vamos esbarrar nesse aculturamento que se faz necessário para que as pessoas efetivamente comecem a ter ciência previdenciária que ainda não temos. É bastante pequena se compararmos com o potencial que o país tem — projeta Oliboni.
O que dizem especialistas em investimentos
Para o educador financeiro do Guia Invest Adriano Severo, a procura pelos planos de previdência tem ligação direta com as notícias sobre a reforma da aposentadoria pública.
— Isso gera uma preocupação e, em virtude disso, as pessoas têm buscado alternativas. Uma delas é a previdência privada — sustenta o especialista em investimentos.
Severo alerta que esse tipo de aplicação pode compor a carteira de investimentos, mas não deve ser o único.
— Pode investir também em produtos diversos de renda fixa, como CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário). Pode fazer aplicações em bolsa de valores também — sugere Severo, dependendo do perfil de cada investidor.
O educador financeiro alerta que, dependendo do plano de previdência, o rendimento pode ficar menor até mesmo do que a poupança. O economista da RJI Investimentos Gustav Gorski segue a mesma linha de análise. Destaca que as pessoas estão cada vez mais se dando conta de que a previdência pública não será suficiente para "pagar a melhor parte da vida". Explica que, quanto maior o risco, maior poderá ser a rentabilidade da previdência privada.
— E aí entra ter contigo uma entidade grande, responsável e que, efetivamente, quando aloque seus recursos, faça alocações muito bem feitas — pondera o economista.
Gorski lembra que é preciso verificar bem se não há qualquer outro produto embutido com a previdência privada no momento da contratação.
— Do ponto de vista macro, acho que é um mercado que vai crescer. Quem tiver com um produto melhor preparado para o perfil do cliente vai crescer fortemente — ressalta o especialista em investimentos.
Investimento em família
O advogado Rodrigo Mussoi Moreira, 46 anos, é daqueles que podemos chamar de prevenidos. Tem seguros residencial, para os dois carros da família, e de vida, além da previdência privada. Tinha 36 anos quando começou a investir.
— Procurei porque eu e minha esposa somos profissionais liberais. Ela também tem previdência privada. E a gente tenta guardar alguma coisa para o futuro — conta Moreira.
Para ele, a dificuldade para sacar o dinheiro investido em previdência privada está entre os fatores que o levaram a contratar um plano.
— Te confesso que é um dinheiro que, se guardado de outra forma e aplicado, eu acho que seria melhor remunerado. No entanto, pelas amarras que a previdência tem, como dificuldades de saques, de limites de saques, é um dinheiro que te dificulta mexer, inclusive. Tem um caráter quase que compulsório em deixar lá — relata.
Simulações de previdência privada
GaúchaZH pediu ao SindiSeg-RS simulações de planos de previdência privada. Confira abaixo
Cenário 1: pessoa de 25 anos quer se aposentar com renda de R$ 2 mil mensais ao chegar aos 55 anos. Para chegar a este valor, deve contribuir mensalmente com cerca de R$ 660 por um período de 30 anos.
Cenário 2: pessoa de 35 anos deseja se aposentar com renda de R$ 2 mil mensais quando chegar aos 60 anos. Deverá contribuir mensalmente com cerca de R$ 800 por um período de 25 anos.
Cenário 3: pessoa de 45 anos que pretende se aposentar com renda de R$ 2 mil mensais quando chegar aos 65 anos. O investimento mensal será de R$ 980 por período de 20 anos.
Segundo o SindiSeg-RS, quando o contratante chegar na hora de começar a sacar os valores investidos, chamado momento de elegibilidade pelas instituições, decidirá por quantos anos receberá a aposentadoria. São várias as opções e elas influenciam o valor da retirada mensal. Adina de acordo com a entidade, essa simulação leva em consideração uma renda vitalícia, sendo que a decisão do que fazer com o dinheiro investido deverá ser tomada pelo contratante 30 dias antes da data de aposentadoria. A entidade afirma ainda que o cálculo utilizado tem como base uma rentabilidade conservadora, sem levar em conta as oscilações de mercado, que podem levar a rentabilidades bem superiores.
Confira versões estendidas em áudio da reportagem:
Capítulo 1
Capítulo 2