O Colégio Sinodal Salvador, no bairro Vila Ipiranga, em Porto Alegre, teve movimentação atípica para um sábado. Da rua, era possível ouvir o murmurinho de vozes que aumentava conforme as pessoas se aproximavam do ginásio da escola, que havia sido tomado por 230 voluntários no turno da tarde – fora os 224 que passaram pela instituição na parte da manhã – que auxiliaram na montagem de 15 mil ninhos de Páscoa para crianças em situação de vulnerabilidade social.
A ação, batizada de Amigos da Páscoa, foi idealizada há 26 anos, quando a pedagoga empresarial Marta Mello, 47 anos, e o gerente de suprimentos Mário Anschau, 53 anos, decidiram retribuir o bom momento que viviam no casamento distribuindo ninhos de Páscoa a crianças carentes que circulavam pelas sinaleiras da cidade.
– Em 1993, foram dados 15 cestos. Aí, tivemos a ideia de dobrar a meta a cada ano e, quando chegássemos ao ano 2000, encerraríamos a atividade. Mas, quando este ano chegou, as pessoas já estavam muito engajadas e optamos por continuar com o projeto, aumentando um pouco o número de cestas que seriam doadas – relembra Marta.
O casal se separou, mas o projeto perdurou e mobiliza mais de 400 pessoas que trabalharam em uma verdadeira linha de montagem para conseguir dar conta do enorme volume de cestinhas que precisavam ser feitas até o final da tarde deste sábado (13). O processo começava com a colocação da palha dentro de um saquinho plástico transparente. A partir daí, ele passava a ser preenchido por um achocolatado, um pacotinho de bolacha, torrone, um saco de pipoquinha, um ovinho de chocolate, um bombom, um balão, um cartão, cinco balas, quatro pirulitos e seis mini wafers de chocolate.
Cada pessoa era responsável por uma tarefa: havia uma função para todos, inclusive para os pequenos, que eram os responsáveis por levar os saquinhos já preenchidos para a amarração final e, posteriormente, para o local onde as entidades retiravam as doações.
A técnica em enfermagem, Vânia Duarte, 61 anos, moradora de Porto Alegre, aproveitou o único dia de folga da semana para ajudar no mutirão. Em sua estreia como voluntária na atividade, ela era responsável por encher pequenos copos plásticos com a quantidade exata de balas que cada kit deveria conter.
– Fui influenciada positivamente pela minha amiga, que vem faz anos, e estou gostando bastante. Aproveitei o dia para ajudar nesta iniciativa que é muito necessária, já que muitas famílias não têm condições de dar presente de Páscoa para seus filhos. Pretendo voltar ano que vem – responde a técnica em enfermagem enquanto procura não se perder na contagem dos doces.
Tanto as balas organizadas por Vânia, quanto os demais itens são todos frutos de doações que vêm dos mais variados lugares. As 113 entidades assistidas pela atividade incentivam as pessoas a ajudarem na arrecadação ao conversarem sobre a necessidade de donativos entre colegas de trabalho e familiares.
O Colégio Sinodal cede há 13 anos o espaço para a confecção dos ninhos e um restaurante doa o almoço para os voluntários, relata uma das idealizadoras da ação.
– Não conseguimos nem mensurar quantas pessoas, ao total, estão envolvidas com o Amigos da Páscoa. A gente só consegue agradecer todo este apoio que vem de tantos lugares – diz Marta.
A professora da rede municipal de Cachoeirinha Rosane de Souza, 37 anos, usava uma tiara de orelhas de coelho enquanto finalizava os kits que iriam para distribuição. Enquanto trabalhava, relatou que a escola de ensino fundamental José Victor de Medeiros, instituição na qual leciona, é uma das entidades que recebe as doações do projeto.
– Os meus alunos do primeiro ano ganham estes ninhos, nada mais justo do que vir aqui ajudar a fazê-los – afirma Rosane.
Para o co-idealizador da iniciativa, esta é uma maneira de tentar proporcionar uma Páscoa mais feliz aos pequenos.
– Tenho ótimas lembranças desta data. Com toda a mobilização deste dia, queremos tentar oferecer essa sensação para essas crianças que têm uma vida mais difícil – diz Mário.