Transformado em simples peão no tabuleiro das disputas territoriais de portugueses e espanhóis, Sepé Tiarajú foi um líder indígena que não se conformou com essa condição e lançou-se a uma luta que acabaria por transformá-lo em mito. Nesta semana, a diocese de Bagé confirmou que o Vaticano autorizou o início do processo de santificação do índio.
O estopim para a luta foi o Tratado de Madri, assinado em 1750 pelas duas potências europeias. O acerto previa que a Espanha entregasse a Portugal grande parte da região das Missões, onde padres jesuítas castelhanos mantinham vários povoados em que catequizavam os guaranis. A ordem era que sacerdotes e indígenas evacuassem os sete povos e atravessassem para o outro lado do Rio Uruguai.
Nascido em São Luiz Gonzaga (uma das missões jesuíticas) por volta de 1723, Sepé preferiu rebelar-se.
— Esta terra tem dono — teria afirmado, segundo a tradição.
Cacique guarani, ele organizou um exército de índios para resistir às forças militares ibéricas que foram enviadas ao atual território gaúcho, com a finalidade de fazer cumprir o tratado. Contando com a ajuda de alguns padres jesuítas que também não aceitavam a evacuação e que prometiam a salvação aos indígenas que morressem defendendo as missões, Sepé liderou a chamada Guerra Guaranítica durante três anos, a partir de 1753.
Em 7 de fevereiro de 1756, em um embate com os espanhóis no atual município de São Gabriel, foi ferido por uma lança, quando estava a cavalo, e depois levou um tiro de pistola. Três dias depois de sua morte, na batalha de Caiboaté, os índios sofreriam uma grande derrota, que decretaria o fim da resistência.
A partir do suplício, nasceu a lenda. Uns diziam que, ao ser morto, o corpo do cacique subira diretamente aos céus. Disseminou-se uma devoção popular, que se traduziu, segundo se acredita, no batismo de um município da região com o nome de São Sepé. Ele também é venerado em São Gabriel, onde há um monumento em sua homenagem no distrito de Tiarajú, assim como em Santo Ângelo. Em sua cidade natal, São Luiz Gonzaga, ele é homenageado com uma estátua.