O Vaticano autorizou o início do processo de santificação do índio Sepé Tiaraju, herói guarani durante os conflitos nas reduções jesuíticas dos Sete Povos das Missões, no século 18. Agora, Tiaraju poderá ser invocado como "Servo de Deus" e depois ser reconhecido como cânone.
O pedido havia sido encaminhado no ano passado à Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano. O reconhecimento como "Servo de Deus' veio no mesmo ano, mas o documento ficou perdido na diocese de Bagé. Por isso, só agora o processo será aberto, e a comissão que cuida da canonização vai começar a apontar as virtudes do índio.
— É o regate e o reconhecimento de alguém que representava os nosso povos originários, aqueles que deram a vida por esta terra — comentou o administrador da Diocese de Bagé, padre Alex Kloppenburg.
Tiaraju foi morto em combate por tropas espanholas, em 1756. O conflito teve início devido ao Tratado de Madri, em que a Espanha cedeu a região das missões a Portugal, em troca da Colônia de Sacramento, no Uruguai. Guaranis e padres foram forçados a deixarem as reduções, o que gerou uma série de conflitos armados pelo controle da região.
Mais tarde, as reduções dariam origem às cidades de São Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, Santo Ângelo e São Miguel das Missões.
— O que foi importante era a força e a liderança de Sepé Tiaraju, como um dos poucos índios letrados e a sua figura de corregedor dos povos guaranis — ressaltou o historiador Claudio Lemiezek.
Se Tiaraju for considerado santo, ele será o primeiro índio brasileiro canonizado. Como ele morreu como mártir e é reconhecido como herói, não precisa de um milagre reconhecido para se tornar santo.