O empresário Joelson Gonçalves, 31 anos, é a consolidação do sonho de um garoto de 14 anos que, com um carrinho, recolhia sucata nas ruas de Alvorada, na Região Metropolitana. Filho de pai vigilante e mãe dona de casa, ele completava a renda da família com o lixo que encontrava na rua. Ainda adolescente, seu futuro começou a ser desenhado quando assistiu a uma reportagem sobre lixo eletrônico.
— Sempre trabalhei com reciclável. Ouvi aquela história de que existe ouro no resíduo eletroeletrônico e aquilo fez meus olhos brilharem. A vida toda trabalhei tentando buscar aquilo. Fui buscando conhecimento, cheguei no resíduo. Aí, começou com uma empresa na garagem de casa, aluguei um pavilhãozinho até chegar onde nós estamos hoje — relembra.
A empresa de Joelson, JG Recicla, atua desde 2002 com sede em Alvorada. Atualmente, recicla 50 toneladas de lixo eletrônico por mês. As coletas são realizadas através de parcerias com empresas, escolas e órgãos públicos.
Joelson não mudou apenas a sua vida. Além dos benefícios para o ambiente, ele comanda uma equipe com 18 funcionários e seis presidiárias que trabalham dentro da Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre, graças a uma parceria com o Estado.
— Tem duas presas que estão evoluindo dentro do projeto. Elas estão por ter liberdade e estão cotadas a vir trabalhar na empresa porque já têm expertise. Nossa empresa é voltada ao projeto social, até mesmo pela minha história — conta Joelson.
Oportunidade de reconstrução da autoestima
Além do salário e da possibilidade de remição da pena, a diretora da penitenciária, Maria Clara Oliveira de Matos, avalia o trabalho no cárcere como uma oportunidade única para as detentas recuperarem a autoestima.
— É um elemento essencial para que essas mulheres possam ter condições de inclusão social. Muitas dessas mulheres não tiveram oportunidade de trabalho na rua. E quando se abre essa possibilidade aqui dentro, há benefícios, principalmente, na questão emocional e de empoderamento — comenta.
Uma apenada, que pediu para ter a identidade preservada, acrescenta que o dinheiro que recebe através do programa — 75% do mínimo regional — é usado para se manter dentro da cadeia. Diferentemente do que acontece nos presídios masculinos, as mulheres recebem menos visitas e, consequentemente, menos mantimentos dentro do cárcere.
— Para mim, é muito bom. Como não tenho visita ou alguém que me acolha, eu me sustento através do meu serviço — diz.
A diretora Maria Clara completa:
— Ela é toda orgulhosa do que está desenvolvendo. Reconhece impactos positivos no ambiente e se vê como uma profissional que pretende buscar uma vaga na própria empresa, fora da prisão.
A detenta está prestes a progredir para o regime semiaberto e postula a uma vaga na própria empresa do Joelson. Ela comemora:
— É uma reabilitação. Um compromisso com horário, com produção. A pessoa se reabilita para poder voltar para a sociedade, né?