Por Ramiro Rosário, secretário Municipal de Serviços Urbanos de Porto Alegre
"As coisas mais admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas."
Quando escreveu essa frase, o pensador Roger Scruton referia-se aos valores civilizatórios, mas a comparação com os bens materiais também é verdadeira. Construir o espírito de civilidade é mais difícil do que destruí-lo, assim como produzir materiais é mais difícil do que espremê-los em um aterro. Esse espírito, baseado na responsabilidade e na caridade, precisa ser construído em uma cidade que passa por problemas de pobreza e desemprego.
Cerca de 600 trabalhadores da parcela mais carente de Porto Alegre sustentam suas famílias através da separação de resíduos reaproveitáveis em unidades de triagem, o que está em risco devido à queda nos números da coleta seletiva. Em 2015, 28 mil toneladas de resíduos foram recebidas pela triagem; em 2016 e 2017, em torno de 21 mil. Parte da queda pode ser atribuída à coleta clandestina, que desvia resíduos do caminho certo e despeja no meio da rua o que é menos lucrativo. Para solucionar o problema, a Prefeitura aumentou a fiscalização e, em parceria com a Brigada Militar, já retirou mais de 60 veículos de coleta clandestina de circulação.
O DMLU registra 90 mil toneladas anuais de resíduos recicláveis descartados incorretamente entre os não recicláveis, causando um prejuízo de R$ 9,3 milhões ao ano apenas com seu transporte ao aterro. O trabalho das unidades de triagem poderia quintuplicar se os cidadãos separassem corretamente os resíduos de suas casas. A administração tem como norte o aperfeiçoamento sustentável do sistema de coleta, inclusive com o estudo de parceria público-privada. No curto e médio prazo, além do rigor na fiscalização, atividades de educação ambiental são realizadas, mas toda a população também é convidada a fazer sua parte educando os mais próximos de si.
Ao completar 28 anos de coleta seletiva em Porto Alegre, vale a seguinte reflexão: quem não separa o lixo da forma correta está jogando dinheiro no lixo; quem separa está fazendo um ato de cidadania e caridade.