A trajetória de 101 anos marcada por pioneirismo, que se confunde com a própria história da indústria automotiva brasileira, chegou ao fim. Com o fechamento das fábricas de Camaçari (BA), Horizonte (CE) e Taubaté (SP), a Ford Brasil passará apenas a importadora de veículos. No país, continuarão operando o Centro de Desenvolvimento de Produto, em Camaçari, o Campo de Provas, em Tatuí (SP), e a sede regional em São Paulo.
Chegada ao país
A Ford instalou a primeira fábrica de automóveis no Brasil em 1º de maio de 1919, para a produção do Ford T. A partir daí, com sucessivos investimentos, inaugurou a planta do Ipiranga em 1953 e, quatro anos depois, lançou o caminhão F-600, primeiro desenvolvido no país.
A expansão seguiu com a compra da Willys-Overland do Brasil, em 1967, e a incorporação do complexo de São Bernardo do Campo.
Um ano depois, a Ford inovou com o automóvel Corcel, que, com diversas versões, originou novos modelos.
Foi a vez de Belina, Del Rey, Maverick, Pampa e Verona. A fábrica de Taubaté foi inaugurada em 1974 e o Campo de Provas de Tatuí (SP), em 1978.
Veículos pioneiros
A história da Ford teve parêntese entre 1987 e 1995. Resultado da associação com a Volkswagen, a Autolatina compartilhou plataformas dos carros montados no Brasil e na planta de General Pacheco, na Argentina.
Em 1995, a Ford voltou a investir forte no país. Da linha de montagem de São Bernardo do Campo saiu o Fiesta, em 1996. Um ano depois foi a vez do Ka, até o momento em produção e que foi o sexto carro mais vendido no país em 2020, com 67.491 unidades. Seu irmão, o Ka sedã chegaria na sequência e, no ano passado, teve 25.743 registros.
Novo século
O final dos anos 90 e a virada do século marcaram um novo ciclo de investimentos da Ford no país, com o Projeto Amazon. A fábrica que seria construída em Guaíba (RS), por divergências com o governo gaúcho, foi transferida para Camaçari (BA). Foi inaugurada em 2001, com o lançamento do EcoSport, que abriu e liderou por cerca de 10 anos o segmento de utilitários esportivos compactos no país, e depois produziu o novo Fiesta. A Ford comprou a Troller e atualizou o Ka e o Ka Sedan.
O avanço das novas tecnologias e a incorporação de recursos eletrônicos nos processos de produção e nos veículos seguidos pela eletrificação e o desenvolvimento dos carros autônomos provocaram um novo momento para a indústria automobilística.
Os altos recursos exigidos para acompanhar a nova realidade provocaram dificuldades em muitos fabricantes e uma releitura da cadeia automotiva. Para diminuir custos e sucessivos prejuízos, o grupo norte-americano reduziu a gama de produtos, como a fabricação de automóveis, e concentrou nos modelos de maior valor agregado, como a picape F-150, líder por mais de 30 anos nos Estados Unidos.
A filial brasileira seguiu o caminho da matriz norte-americana. Em 2019, fechou a fábrica de São Bernardo do Campo, suspendeu a produção do Fiesta e, no começo desta semana, anunciou o fechamento da fábrica de Camaçari, o fim da produção de veículos no país e a demissão de cerca de 6 mil funcionários.
Na América do Sul, a Ford concentrará a produção do furgão Transit no Uruguai e da Ranger, na Argentina. A empresa norte-americana promete também trazer de outros países veículos importados, como o Bronco, o Mustang Mach 1 e novos modelos conectados e eletrificados.