Claudia Chiquitelli
Especial
Alguns veículos saem da concessionária com um estepe. Muitos com o equipamento mais finos que o original, e outros sem estepe. O assunto gera polêmica no caso de serem diferentes dos pneus rodantes e já foi matéria aqui no caderno TEU VEÍCULO. Vários automóveis, inclusive de marcas premium como BMW e Mercedes-Benz, não têm sobressalente e possuem os chamados run flat, pneus que permitem circular mesmo furados a uma velocidade de até 80km/h e por até 80 quilômetros.
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– As vantagens desse pneu são a segurança, quando ocorre furo em local perigoso ou intencional, com fins de assalto, e a comodidade, em caso de chuva ou horário impróprio – explica o engenheiro Juan Miguel Soto, que ao ler a matéria "Estepe Diferente do Original, Pode?" (clique aqui para ler) , procurou a reportagem e lembrou que há exceções na obrigatoriedade de estepes, descritas na Resolução 14/98 (Art. 2º, Item V) do Código Nacional de Trânsito (Contran).
O órgão determina o estepe como item obrigatório, mas define exceções. Entre elas, está a não exigência, por exemplo, de pneu e aro sobressalente (assim como macaco e chave de roda) para veículos "equipados com pneus capazes de trafegar sem ar, ou aqueles equipados com dispositivo automático de enchimento emergencial".
Vários carros possuem o run flat, desenhado para rodar mesmo se estiver furado, não causando danos na roda. No caso do pneu tradicional, quando o ar todo escapa, faz com que a roda entre em contato com o asfalto e se destrua. O equipamento permite que o condutor siga dirigindo sem ter que parar para fazer reparos. O conserto e a troca podem ser feitos depois. O modelo possui reforços e, se murchar mesmo até rasgar, então as paredes do pneu manterão uma altura da pista de forma com que a roda não encoste no asfalto. Ele fica na roda mesmo depois que o pneu furar, diferente do pneu comum, que tende a sair no caso de avaria.
Sistema de monitorização
Os run flat não podem se montados em todo o veículo, pois a tecnologia exige sistema de monitorização da pressão dos pneus, caso contrário o motorista pode não perceber o furo. Além disso, são ajustados à suspensão de cada tipo de veículo. É o caso do Mercedes-Benz C-200, que utiliza a marca MOExtended. Proprietário de um veículo desse modelo, ano 2015, Soto diz que outra vantagem é que, sem o estepe, aumenta a capacidade do porta-malas.
– Além disso, não é fácil consertar um pneu. Ele já furou, fui assim mesmo até a minha casa e, depois, ao conserto, sem grandes problemas – afirma Soto.
Para o chefe da Divisão de Registro de Veículos do Detran-RS, Túlio Felipe Verdi Filho, a questão que envolve esse tipo de pneu deve ser tratada com bastante cuidado, pois refere-se a uma tecnologia relativamente nova, fazendo lembrar os tempos em que foram introduzidos no Brasil os pneus sem câmara, época em que "havia muita resistência em função da nova tecnologia, entretanto seu uso acabou sendo disseminado".
– Novas tecnologias normalmente requerem cuidados e, em relação aos pneus run flat, não é diferente, devendo o veículo ser equipado com um sistema de monitorização da pressão dos pneus de sorte que a perda de pressão não passe desapercebida pelo condutor, devem ser trocados em caso de rodagem sem pressão e só podem ser utilizados em veículos concebidos para uso deste tipo de pneu – acrescenta o representante do Detran-RS.
Ele avalia que "considerando todas as aplicações antes mencionadas e se o veículo foi produzido e comercializado com esse tipo de equipamento, é possível entender que tanto o fabricante do pneu quanto do veículo fizeram testes necessários para utilização deste produto no Brasil".