O Carnaval é altamente propício a homenagens e isto acaba estreitando muito relações com outras paixões do povo brasileiro. O futebol é uma delas e não raras são as homenagens ao longo da história de escolas de samba com agremiações ou ídolos do esporte. Duas histórias em vermelho e branco ilustram bem esta união de paixões que desemboca em desfiles campeões.
Maior ídolo do Inter em todos os tempos, até pelo fato de ser formado no clube, ter sido multicampeão e levado a marca colorada fortemente para a Europa, Paulo Roberto Falcão, coroado pela torcida italiana como "oitavo rei de Roma", mereceu uma homenagem especialíssima da Imperadores do Samba, uma das mais tradicionais escolas de Porto Alegre. Em 1988, com a carreira recém encerrada, ele serviu como enredo para o desfile da entidade, sob o título: "Das glórias dos gramados, apoteose de alegria, um Rei entre os Imperadores". A apresentação marcou o primeiro ano de desfiles na avenida Augusto de Carvalho e foi marcada pela associação da imagem de Falcão e suas glórias com a origem colorada, facilitada pela coincidência das cores do clube e da escola e a de presenças ilustres do futebol como a do ex-jogador Escurinho, companheiro de time e sambista da Imperadores. A presença do homenageado aconteceu, para delírio dos fãs, mas com uma dose e tanto de apreensão. O carro simbolizando o coliseu romano, onde viria o ex-jogador, quebrou e ele teve de desfilar no chão. Isto não impediu o título do Carnaval para o Rei de Roma.
Falcão poderia ter sido personagem de destaque em outro carnaval campeão. Em 2009, já com desfiles na passarela do Porto Seco, a mesma Imperadores do Samba homenageou o centenário do Inter, contando a história do clube e destacando grandes figuras coloradas. Com suporte financeiro e controle direto na preparação da apresentação por parte do clube, houve uma linha a ser seguida. Para valorizar a equipe e os ídolos campeões mundiais em 2006, foi minimizada a figura de Falcão. A diretoria colorada de então, presidida por Vitório Píffero, fazia parte do grupo diretivo da grande conquista obtida dois anos e dois meses antes. Se criou uma pseudo-rivalidade e a intenção de se colocar Fernandão como o maior jogador do Inter de todos os tempos, numa disputa que nunca existiu e que nada somaria para os colorados.
Independentemente de Paulo Roberto Falcão ter ficado escondido, o desfile de 2009 foi de alto nível. A Imperadores foi campeã com meio ponto de vantagem sobre o Império da Zona Norte. Para os colorados que no campo haviam recém conquistado a Copa Sul-Americana foi uma maneira de seguir a comemoração se vangloriando da condição autoproclamada de "Campeão de tudo, até do Carnaval". Ali abria-se uma temporada que teria ainda o título gaúcho a festejar.