Gostar de Felipe Melo e elogiá-lo é sempre um risco. Quem o faz está constantemente sujeito a ser desmentido categoricamente pelas atitudes do próprio jogador, dentro ou fora de campo. O Palmeiras o tem como principal líder do grupo, e boa parte da torcida o considera um ídolo, embora por vezes se mostre intempestivo, irascível, violento e sem controle das próprias ações. São estas condições que podem ser aproveitadas pelo Grêmio na decisão da Copa do Brasil, como aconteceu, por exemplo, na Libertadores de 2019.
Na competição sul-americana de dois anos atrás, nas quartas de final, o Palmeiras venceu o Grêmio em Porto Alegre por 1 a 0 e levou a vantagem para o jogo de volta, no Pacaembu. O bom resultado da Arena, porém, ficou marcado pela expulsão de Felipe Melo — que não só prejudicou seu time naquela partida, como fez falta no segundo confronto, quando os gremistas venceram de virada, eliminando time paulista que estava privado de sua liderança e enfraquecido tecnicamente no setor defensivo.
Na recente disputa do terceiro lugar do Mundial de Clubes, Felipe Melo não só falhou em alguns lances no tempo normal, como, com pompa e circunstância, desperdiçou o último chute da decisão por pênaltis, dando a vitória para os egípcios do Al Ahly. Completou, assim, com sua assinatura, um fracasso total palmeirense na competição.
Por mais que ele seja líder, inteligente e grande jogador, e é tudo isto, Felipe está sempre flertando com o fracasso pessoal que prejudica o todo. Isto vale para uma jogada errada, um lance violento, uma discussão ou uma entrevista mal dada por alguém que escorrega na verborragia.
Com Felipe Melo em campo, é possível seu time construir solidez e desabar de uma hora para a outra. Há mais de 10 anos acontecem coisas assim. Basta lembrar que Felipe era, embora contestado, peça fundamental no esquema do técnico Dunga na Seleção Brasileira que foi à Copa do Mundo na África do Sul.
Eis que, na decisiva partida das quartas de final contra a Holanda, quando a equipe fazia sua melhor apresentação no mundial, Felipe desatinou e, do nada, ainda que numa disputa de bola, pisou em cima de um adversário, recebendo o cartão vermelho. A expulsão nitidamente destruiu o coletivo brasileiro, que viu os holandeses ganharem o jogo, mandando o Brasil de volta para casa.
Se a experiência de Felipe Melo é importante para o Palmeiras na final da Copa do Brasil, sua instabilidade pode ser um trunfo gremista. Embora o time tenha sido campeão da América, a pancada com a participação constrangedora no Mundial ainda estará doendo nos palmeirenses.
Não é nenhum absurdo prever que o time de Abel Ferreira esteja menos tranquilo para a decisão, mesmo que haja pressão sobre a equipe de Renato Portaluppi. Ter um líder sempre pronto para explodir por certo gera apreensão entre os paulistas. Os gaúchos ficam apenas esperando que mais uma vez haja a explosão no inimigo que lhe servirá como reforço.
