Estávamos diante de um fato extremamente interessante e inovador no Inter. Uma solução estava se desenhando para a transição no departamento de futebol do clube, mais precisamente na comissão técnica. As boas atuações do time nos últimos jogos criou a certeza que era recomendável a permanência de Abel Braga no comando até o final do Brasileirão. Caberia ao espanhol Miguel Ángel Ramírez fazer um trabalho paralelo até fevereiro, conhecendo o grupo sem orientá-lo e assumindo o cargo para o Gauchão.
O consenso de que isto era possível e recomendável se deu pelas projeções técnicas e muito na expectativa de que valesse o fato de quem sairá respeitar quem assumirá em seguida e vice-e-versa. Ao que consta, dirigentes e profissionais tratam-se de pessoas de alto nível. Não estaria acontecendo nenhum ultraje moral contra qualquer das partes. Eis que Abel Braga, apesar de não ter havido confirmação do próprio, poderia se sentir desconfortável e diminuído por ter tempo determinado para sair e precisar conviver com seu sucessor. Dá para entender, mas não é preciso concordar se isto realmente acontecer.
Abel chegou ao Inter falando em fazer o que fez pela amizade ao presidente Marcelo Medeiros e amor ao clube. É imprescindível dizer que ele não veio de graça. Está sendo remunerado para isto, como manda a boa relação trabalhista. Abandonar o Inter por não ter compromisso com a nova gestão ou porque não aceita outro profissional acompanhando seu trabalho parece uma demasia, ou que o compromisso era apenas com o amigo Medeiros e não com a instituição. Se ele sair por inconformidade, terá seus motivos, mas prejudicará o time que melhorou sob seu comando recentemente.
A chegada do espanhol Ramírez o colocará numa situação delicada nos primeiros dias de trabalho, tendo que conhecer o grupo e estrear às cegas no Brasileirão numa disputa importante de vaga no G-4. Claro que o novo treinador terá assessoria dentro dos integrantes da comissão técnica permanente colorada, mas correrá muitos riscos que não haveria se o trabalho se iniciasse no final de fevereiro. A sonhada transição no comando técnico colorado pode estar ruindo. Quem mais sofre é o time.