Reclamações e lamentos foram ouvidos dos técnicos de Grêmio e Inter nas duas rodadas após o retorno do Gauchão. Por mais que pareça demasia e desperte discussões, tais opiniões merecem atenção. Mesmo que se jogue com portões fechados, atuar no seu estádio tem peso para qualquer equipe e os motivos não se limitam à qualidade dos gramados. É preciso considerar todo o contexto, ainda que nada possa ser feito contra as decisões de proibição das autoridades municipais de Porto Alegre que não tendem a ser alteradas.
Eduardo Coudet tem sido contundente ao falar dos campos de jogo. Houve críticas ao estádio Centenário no Gre-Nal de mando do Inter e até ameaça de abandono após a partida na Montanha dos Vinhedos contra o Esportivo.
Renato Portaluppi, por sua vez, sem falar dos gramados, fez questão de dizer que não pretende se acostumar a mandar os jogos de sua equipe no CT Hélio Dourado, embora ali seja um local de propriedade do Grêmio e com condições excelentes no piso.
O que faz falta para tricolores e colorados é o ambiente de casa. Mesmo que nem treinem na Arena ou no Beira-Rio, os times com seus jogadores e integrantes da comissão técnica criam referências nos estádios. Podem até faltar os torcedores nas arquibancadas, mas é nestes campos que a dupla joga.
Há rituais, hábitos e posturas que são criados e mantidos. Isto faz falta e pode, sim, se refletir dentro das quatro linhas. As rotinas do mesmo armário no vestiário, do caminho de sempre nos túneis ou o local sagrado e imutável das orações são valiosas no futebol. É isto que também desperta saudade nos profissionais. São fatores que influenciam na parte emocional, enquanto uma grama diferente faz diferença na questão técnica.
A realidade da dupla Gre-Nal, porém, não é um problema isolado. Há de se considerar o direito do São José estar saudoso do Passo da Areia, do São Luiz sofrer longe do 19 de Outubro, do Ypiranga não se sentir bem fora do Colosso da Lagoa ou dos dois clubes pelotenses viverem um drama longe de sua cidade até para o clássico Bra-Pel.
A casa própria faz falta para todos, mas ninguém está distante do lar em função de regras mal estabelecidas. O que existe é uma necessidade que está sendo administrada da melhor maneira possível. O ideal está longe, não será atingido neste Gauchão e figuras como Renato e Coudet precisarão conviver com a distância de suas salas particulares, de suas poltronas cativas no reservado, dos gramados conhecidos e dos belos estádios que os abrigam.