É um privilégio para qualquer equipe ter no elenco atletas do nível dos gremistas Maicon e Diego Souza ou dos colorados D'Alessandro e Paolo Guerrero. São notáveis jogadores em suas posições, arrumam o time em que jogam, exercem liderança, se relacionam bem com a torcida e viram emblemas até na história dos clubes. Há um momento; entretanto, em que o aproveitamento deles passa a se tornar motivo de preocupação para o técnico. O motivo? A queda de condicionamento físico e técnico motivada pela idade. Eles deixam de ser bons? Nunca, mas precisam passar a ser estratégicos para não gerarem a injusta impressão de que perderam a qualidade.
No caso do Grêmio, o ex-capitão Maicon — 34 anos — há muito sofre com lesões e fadiga. Sua validade a pleno num jogo raramente supera os 60 minutos, algo que pode comprometer a partida seguinte. Sem sequência, já viu outros volantes o superarem tecnicamente como foi o caso de Arthur e que pode acontecer em breve com Lucas Silva ou Darlan. Ele não perdeu, todavia, sua importância e ainda faz coisas que outros não fazem. Cabe a Renato Portaluppi achar a maneira correta de aproveitar isto, mesmo que para tal tenha que colocá-lo no banco de reservas para entradas pontuais.
Já o atacante Diego Souza, com seus 35 anos, parece estar se resolvendo bem. A ida para o comando de ataque o poupa de deslocamentos. É um exemplo pouco comum de jogador que com o tempo avançou no posicionamento para se preservar fisicamente. Ele está longe de ter a agilidade que tinha, por exemplo, quando foi destaque gremista na Libertadores de 2007 como meia, mas também não se arrisca a tentar reviver aqueles momentos. Sua administração por parte do treinador se mostra mais tranquila, embora o Grêmio careça de um reserva de mesmas características. O temor que pode haver é dele, um atleta pesado, não suportar o ritmo de jogos duas vezes por semana que Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil vão impor a partir de agosto.
No lado colorado os dois veteranos têm idades ainda mais avançadas do que os tricolores. Paolo Guerrero está com 36 e D'Alessandro fez 39 anos em abril. A cada jogo em que atuam juntos na equipe titular, surge a polêmica se isto é positivo. É certo já que ambos no setor ofensivo, com o argentino tentando ajudar o peruano, funcionou. O próprio técnico Eduardo Coudet admite que precisa de outro companheiro para seu centroavante.
Guerrero demonstra energia para sua idade, mas a observação de sua movimentação faz com que se notem as dificuldades. Ele se desloca demais, sai muito da área e isto o faz ficar vulnerável no duelo com os adversários, algo que jamais aconteceria, por exemplo, cinco anos atrás. Se esta necessidade é por falta de companhia, algo há muito reclamado, cabe a Coudet resolver. Se é vício tático do atleta, também é função do técnico corrigir. Ou o peruano se posiciona e se preserva mais próximo da área adversária, ou se torna um atacante comum.
Nenhuma situação, porém, é tão delicada quanto à de D'Alessandro. O mais velho dos jogadores colorados, ao mesmo tempo que é intenso, especialmente no aspecto anímico, mostra suas justificáveis limitações físicas. Seu talento criou uma dependência, algo crônico no Inter da última década, responsável por muitas vitórias, mas também pela falta de soluções definitivas quando ele não atua ou joga mal. Com Odair Hellmann foi ensaiado um aproveitamento estratégico do meia, com ele ficando até no banco algumas vezes. Deu certo, mas não durou. Coudet também já experimento algo assim, mas, chegada a hora do clássico Gre-Nal, lá está seu ex-companheiro de River Plate começando o jogo.
- Os técnicos sabem do desafio de que é administrar o aproveitamento de jogadores mais "cascudos", como se refere Renato aos veteranos. É possível e indispensável tirar deles muita coisa boa ainda, mas não há como depender dos mesmos como em outros tempos. O privilégio de tê-los é na condição de complementos luxuosos para times que precisam de outros pontos fundamentais.