É complicado estar há quatro meses sem poder trabalhar normalmente, convivendo com uma realidade norteada por uma pandemia e com temperos terríveis de estiagem seguida de enchentes. Querem mais? O bate-boca político nacional num nível rasteiro por meios reais e virtuais só piora qualquer autoestima. É neste ambiente que se discute a volta do futebol no Brasil e do Gauchão aqui no Rio Grande do Sul. Difícil não se deprimir. Impossível de ter uma opinião definitiva.
Por coerência, sempre defendi, e não arredo pé, de que o melhor momento para a volta do futebol seria com a curva de casos e óbitos da covid-19 na descendente. É o mais lógico e mais seguro. Não será assim, mas nem por isto vamos nos rebelar e ficar dando murro em ponta de faca. Se haverá Gauchão, há méritos em quem construiu condições para tal. Quem acompanha o processo desde março jamais poderá acusar as entidades esportivas gaúchas de forçarem a barra. Também será injusto criticar autoridades, acusando-as de terem capitulado. Os argumentos, protocolos e providências se tornaram convincentes e efetivos. Vamos vibrar com o retorno do futebol? Não tem como. Saudemos, porém, quem promoveu, trabalhou e efetivou esta retomada. A alegria do esporte está neutralizada pelo que acontece no restante da sociedade.
Não me empolga voltar virtualmente aos estádios, ainda que vazios, ver gols e grandes jogadas e até a euforia de jogadores e, na mesma transmissão, ser informado que recordes negativos do coronavírus estão sendo estabelecidos em terras gaúchas. Por mais que se saiba que o futebol pode funcionar, e tomara que funcione, para amenizar a angústia coletiva das pessoas, é muito triste saber que providências sanitárias em áreas de serviços, do comércio, da indústria ou do próprio entretenimento ainda são insuficientes para uma abertura como a proporcionada ao Gauchão.
Na verdade, não vejo a hora do Gauchão 2020 terminar. Seu recomeço é para que acabe de uma vez, independentemente de quem o vença. Estará cumprida, e bem, a função da federação e dos clubes, bem como das autoridades públicas que seguirão ouvindo críticas e sendo alvo de argumentos bem sólidos contra o que foi decidido. Haverá um campeão. Desde já, parabéns a ele. Faremos a transmissão e estarei com o mesmo profissionalismo de sempre. Claro que será bom descrever um golaço ou uma grande jogada. O torcedor merece ter o relato fiel e com a emoção que o momento significa. Mas será diferente. Não haverá felicidade plena neste campeonato. Que volte e termine logo.