São poucas as dúvidas das pessoas mais lúcidas de que é uma temeridade o retorno do futebol no Rio de Janeiro. Inúmeros são os argumentos contra a retomada do certame estadual no estado de maior índice de mortalidade por conta da covid-19 no Brasil. A ação intensa da Federação Carioca de Futebol e da maioria dos clubes, capitaneados pelo Flamengo, resultam das dificuldades financeiras e acabam desaguando num “topa tudo por dinheiro”, fazendo o complexo do Maracanã curiosamente conviver com a bola rolando ao lado de um hospital de campanha. A partir de agora, porém, a indignação com o que acontece precisa conviver com uma grande torcida para que tudo dê certo, mesmo parecendo uma insanidade.
O sentimento humano tem de estar acima de convicções, mesmo que estas estejam fundamentadas na mais pura razão. Se os de pouca responsabilidade estão vencendo e colocando seus times para jogar, os racionais e de bom coração não podem torcer para que isto dê errado. Mesmo diante de risco altíssimo e de uma falta de oportunidade oceânica, não há como derivar para o “quanto pior, melhor”. Está em jogo uma decisão que expõe a saúde das pessoas, sejam jogadores, dirigentes — mesmo os arautos da volta da bola rolando a qualquer preço — ou outros envolvidos nas partidas. Vale o bordão: "Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa".
Segue sendo mais seguro esperar dados mais consistentes para se retornar com os jogos no Brasil. O Rio Grande do Sul vem sendo exemplar na cautela. Clubes gaúchos, governo e a federação estadual sempre evitaram o atropelamento, mesmo que a saúde financeira das entidades esteja a cada dia mais abalada. Seria por aqui que o futebol deveria retornar no Brasil. Não está sendo, mas não há nenhum problema nisto. O que vale é a segurança sanitária.