Não precisa se discutir muito para chegarmos à conclusão de que o Grêmio, ao renegociar os vencimentos de seus atletas, pensava em redução salarial, como prevê a lei em tempos de pandemia. É natural também, e justo, que os jogadores tenham pensado em não abrirem mão de seus direitos e pagamentos integrais. Por isto a decisão tomada com a participação das duas partes chama-se "acordo". Na prática, houve um parcelamento devidamente aceito e que agora, espera-se, passará a ser cumprido para que os prejuízos de todos sejam minimizados. O elenco gremista passa a formar um condomínio que receberá o saldo renegociado dos salários.
O Grêmio tem no passado uma experiência importante e salvadora com a formação de um condomínio. Em 2005, diante de dívidas altíssimas com ex-jogadores que fizeram parte do período da parceria com a falida empresa ISL, o clube, por ideia de alguns conselheiros e executada pelo vice-presidente de finanças de então, Túlio Macedo, foram chamados os credores, e o bolo milionário de compromissos foi parcelado para pagamentos a longo prazo, algo que só se encerrou em 2012, para ser reeditado em outra situação delicada em 2016 já pelo presidente Romildo Bolzan Júnior.
Isto viabilizou na primeira vez uma retomada tricolor que experimentou a volta à primeira divisão brasileira no final de 2005, a conquista dos títulos gaúchos em 2006 e 2007 e um vice-campeonato da Libertadores. Ali se superou uma crise fortíssima e as parcelas seguiram sendo pagas regiamente até o problema ser definitivamente superado. Mais recentemente, a ação de Romildo antecedeu conquistas como a Copa do Brasil e a Libertadores em menos de dois anos.
O que se fez agora, em situação diferente pois é diretamente com os atletas que estão no clube, tem o mesmo sentido. Foi o possível para quem fez o acordo e o melhor para todos, especialmente para uma categoria que não esteve na mesa de negociações, os funcionários gremistas. A garantia de que não haverá redução de quadro de empregados tricolores é, talvez, o maior dos méritos atingidos, ainda que o acertado possa não ter sido o pensamento inicial de dirigentes ou jogadores. Que a decisão compartilhada tenha um efeito de solução como daquele outro condomínio inspirador, gerido pelo saudoso Túlio Macedo, e realizado há quase 15 anos.