Se alguém pode ser sério, enfático, autêntico e, ao mesmo tempo, irônico e bem-humorado, esta pessoa atende pelo nome de Celso Roth. O ex-técnico da dupla Gre-Nal foi o convidado de fevereiro do Cardápio do Zé e por mais de uma hora conversou descontraidamente no Gaúcha Sports Bar. Sem atuar como técnico desde 2016, quando treinou o Inter, ele se diz atento a todas as movimentações do futebol e não admite que esteja fora do mercado.
— Minhas últimas experiências, no Vasco e no Inter, não foram boas e eu não sei fazer marketing para me colocar no mercado. Vejo muito futebol, busco informação, embora nossa literatura a respeito ainda seja carente, e confiro tudo o que posso. Não parei de trabalhar, apenas espero uma situação que dê condições plenas de desempenhar a função — comentou.
Campeão da Libertadores em 2010 pelo Inter e com títulos gaúchos pela dupla Gre-Nal, Celso foi responsável, em seu primeiro trabalho, em 1997 pela quebra da hegemonia gremista no Gauchão numa época em que o Tricolor vivia um de seus momentos mais vitoriosos:
— Nosso time do Inter era muito bom. Tinha o Gamarra na zaga, o Fabiano no ataque e um Christian que no segundo semestre explodiu. Ganhamos o Gauchão e merecíamos ser campeões brasileiros.
Dois anos depois, no Grêmio, ganhou o título gaúcho que marcou a afirmação de Ronaldinho:
— O Grêmio de 1999 era um grande time que tinha o melhor jogador com o qual trabalhei. Lamento que o Ronaldo (maneira de se referir a Ronaldinho Gaúcho) não tenha jogado mais uns anos em alto nível. Fiz com ele um trabalho de longo prazo desde 1998 e o desafiei a jogar com a qualidade que tinha no interior do estado. Ele topou, cumpriu fácil a missão e acabou convocado para a Seleção — recordou.
Para Roth, Ronaldinho deveria ter permanecido na função de meia-atacante, como jogou no início da carreira no Grêmio. Ele brinca ao dizer que Vanderlei Luxemburgo “estragou tudo”, ao colocar o jovem craque como atacante, função na qual passou a jogar na Seleção Brasileira e em clubes.
— Ronaldinho era tão bom que foi, com justiça, o melhor do mundo duas vezes numa posição que não era sua maior especialidade. Se jogasse na meia, vindo de trás, como fazíamos no Grêmio seria ainda maior do que foi — afirmou.
A maior conquista de Celso Roth foi a Libertadores de 2010 pelo Inter. Ele recordou a qualidade do time, o ambiente interno e o cumprimento das tarefas, mas reconhece que a sequência do trabalho teve a maior decepção de sua vida profissional:
— A derrota para o Mazembe não foi minha maior frustração profissional. Ela ainda é. E sempre será. Não tem como apagar. Mesmo o título da Libertadores, que é algo muito grande, não marca tanto quanto o jogo do mundial.
Conhecido por sua filosofia defensiva, Celso Roth descontrai ao falar da atual situação da dupla Gre-Nal, especialmente do Inter, dirigido por Eduardo Coudet:
— Vi Inter e Universidad do Chile para aprender como se joga com quatro volantes, mas me frustrei. Só durou 14 minutos. Brincadeiras à parte, entendo o que o Coudet está fazendo. Início de trabalho tem de ser assim. A busca do equilíbrio começa pela segurança defensiva. Acredito no trabalho dele.
Quanto ao Grêmio de Renato, Roth vê a continuidade como um grande trunfo num jogo como o Gre-Nal.
— Com quatro anos de trabalho, o Renato deu um padrão para o Grêmio e trata de adaptar jogadores novos ao seu esquema. Ele tem um time experiente coletivamente e isto pode ser, na teoria, uma vantagem num confronto como o Gre-Nal. Tenho certeza que, por tudo isto, será um grande clássico — projetou.
A conversa com Celso Roth inclui contar do surgimento de jogadores como Diego e Robinho, dos xingamentos para com o ex-presidente do Santos, Marcelo Teixeira ou para Douglas Costa quando começou no Grêmio.
Sobre sua passagem no Inter no ano do rebaixamento, não cita nomes, mas garante que passou pela má administração do clube a campanha negativa do time. O treinador relembra também seu início de carreira como preparador físico, a parceria com Luiz Felipe Scolari e uma aula que proferiu num curso de formação de técnicos em Coverciano, a maior escola de treinadores da Itália.
Confira toda a entrevista de Celso Roth no Cardápio do Zé: