Discursos, em geral, são enfadonhos, porque são pautados pela vontade de dizer de quem fala e não pelo interesse de quem escuta. A boa comunicação, nos ensina a teoria, começa pelo receptor. Sem ele, nada faz sentido. Durante a semana, tomei posse como presidente da Associação dos Amigos do Museu de Ciências e Tecnologia da PUC, um convite que me honrou e que me desafia a colaborar com um projeto absolutamente necessário e encantador.
O protocolo previa que eu me pronunciasse. Pensei nos amigos, familiares, empresários, colaboradores e dirigentes da PUCRS que lá estariam. Decidi que minha fala não ultrapassaria os quatro minutos. E seria lida, porque nessas horas mais solenes devemos afastar o risco de improvisos que possam nos desviar do caminho. “O que eu devo dizer?”, foi a pergunta que pautou as minhas reflexões. Lembrei-me de duas histórias. A primeira: alguns domingos atrás, nos momentos que antecedem os tradicionais almoços de família, meu pai, minha mãe e eu conversávamos sobre os desafios do ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial que conversa por mensagens como se fosse um ser humano.
O questionamento que nos fizemos foi o mesmo de boa parte da humanidade. “Desse jeito, o que sobrará para nós, humanos?”
Há muitas respostas, pelo menos até que a tecnologia as desminta. Mas uma delas, acredito, é perene: nós, humanos, sempre teremos o poder da pergunta. A pergunta é nossa, ninguém nos tira.
Ao chegar a essa conclusão, me lembrei da segunda conversa, na beira da praia de Xangri-lá, com o reitor da PUC, irmão Evilázio Teixeira. Estávamos no Paleta Atlântida, o maior churrasco do mundo, embora o Guinness Book ainda não tenha oficializado.
Foi quando o irmão Evilázio afirmou, citando Aristóteles, em meio a uma conversa viva e instigante: “A filosofia nasceu do espanto”. Faz todo sentido. É a necessidade de decifrar os enigmas do Universo que nos conduz na direção do conhecimento. Foi, basicamente, o que eu disse no meu breve discurso. Não vi ninguém bocejar, até porque não dei muito tempo para que isso acontecesse. Falei menos de quatro minutos. E tudo, ali e sempre, começou com uma pergunta. Encerrei desejando que seja concedida a todos nós, cada vez mais, a alegria de questionar. Não é apenas o que nos restará. É a tradução da nossa essência mais pura. É a matéria-prima da capacidade de união para construir as pontes que nos levam às respostas.