Desafiei o sistema. Não foi fácil, mas venci.
Faz alguns meses, a bateria do meu celular começou a enfraquecer. Depois, foram os problemas de contato com o carregador, que eu era obrigado a levar comigo toda vez que saía. “Tem tomada?”, me acostumei a perguntar antes mesmo de dar bom dia ou boa tarde. Apesar de incomodado, decidi testar até onde ia a minha paciência. Foi até a semana passada, quando resolvi enfrentar engenheiros geniais, marqueteiros consagrados e obsolescências programadas: mais do que trocar de celular, troquei de marca. E de sistema operacional. Pesquisei na internet e achei uma oferta razoável. Comprei. Teoricamente, o aparelho novo e o antigo se conversariam. Era só conectá-los e as informações seriam transmitidas. Uma pivica.
O app do banco travou. As conversas de WhatsApp sumiram. Spotify, Twitter e Instagram me pediram senhas criadas há mais de uma década e das quais eu não lembrava. Todas vinculadas a um e-mail que eu não uso mais. Fui a uma loja da nova marca, onde o mesmo aparelho custava uns trezentos reais a mais, para pedir ajuda. “A vantagem de comprar aqui é que fazemos toda a transferência de dados entre o aparelho novo e o velho”, explicou o vendedor, com um sorrisinho de canto de boca. É de propósito mesmo. Tudo é feito para que você ache que tem opções. Mas, no fundo, as promessas e as dificuldades vão lhe conduzindo para um brete. No cinema, você compara o pacote de pipocas mais barato com o mais caro. E compra o do meio, porque acha que está fazendo o melhor negócio.
Foram 48 horas de loucura. Valeu a pena.
Já estou plenamente adaptado ao meu novo celular. Nos dias de pavor, entre um “senha inválida” e um “e-mail incorreto”, fiquei lembrando como era comprar um telefone quando eu era criança. Levava meses. Às vezes, anos. Um dia, a CRT estacionava na frente de casa. Os técnicos passavam um bom tempo mexendo nos fios. Até que ligavam o aparelho. A gente botava no ouvido e escutava o ruído contínuo da linha. Era uma festa. Tempus fugit. Viva a hiperconectividade contemporânea.
Sou, finalmente, um homem livre. Minha bateria dura o dia inteiro. Do canto da minha mesa, meu velho celular me olha, desligado e tristonho. Passamos bons momentos juntos. Obrigado. Rompimentos não são fáceis, mas, às vezes, são necessários. E, nesse caso, a culpa é toda dele. Agora, fiz backup de todas as minhas senhas e nomes de usuários. Já não lembro onde, mas o caminho me mostrará. Antes que a bateria acabe, espero.