É importante encarar os fatos como eles são, até para, eventualmente, poder mudá-los. Jair Bolsonaro ganhou de goleada a rodada inicial da disputa das ruas. As manifestações a favor do presidente reuniram muito mais gente do que as outras duas, uma com protagonismo do PT e outra com discurso de terceira via. O que de mais forte fica dos três atos não é o mérito das pautas defendidas, mas as imagens que alimentam as redes sociais. E as de Bolsonaro são, de longe, as mais impactantes.
Muitos podem argumentar que os contrários ao presidente são a maioria silenciosa, que ainda não sai de casa para se aglomerar com medo da covid-19. Mas, se é assim, ou convocar nesse momento as manifestações de rejeição ao governo foi um erro ou um movimento estratégico calculado, uma hipótese menos provável, mesmo que alguns pesos pesados do PIB tenham comparecido à Avenida Paulista para criticar Bolsonaro e, em muitos casos, apoiar a #nemBolsonaronemLula.
Estiveram lá, por exemplo, de acordo com a jornalista Patrícia Campos Mello: Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp e Antonio Moreira Salles, filho do presidente do Conselho de Administração do Itaú. Falta um ano para a eleição e, se até lá, as imagens mostrarem crescimento do número de pessoas nas avenidas e parques de um lado e redução do outro, a narrativa ganhará novos elementos para construções diferentes. Mas é uma aposta de risco.
Por enquanto, esse é um dos méritos da estratégia bolsonarista, que consegue atrair seus adversários para terrenos pantanosos nos quais joga com vantagem – conflito e mobilização de seguidores fieis . De fato, a multidão bolsonarista nas ruas assustou boa parte do Brasil. É só medir as reações aos descalabros ditos pelo presidente, que ameaçou descumprir decisões do STF e depois recuou. Mas o tapa foi dado.
Assim como admitir que Bolsonaro levou vantagem agora é um questão de bom senso, também é aconselhável levar em conta que o horizonte final para medir sucesso ou fracasso não é hoje, mas sim outubro do ano que vem. Nesse jogo, as ruas são um elemento cenográfico de extrema relevância. Por enquanto, vitória folgada de Bolsonaro.