Proponho separar as coisas.
O impeachment de Dilma Rousseff foi golpe? Não. O de Bolsonaro seria? Não. O instrumento legal que possibilita o afastamento de um presidente pelo Congresso é essencialmente político. Por isso, cumpridos seus ritos, ele é totalmente legítimo e democrático.
O impeachment de Dilma Rousseff foi bom para o país? Não. O de Bolsonaro seria? Não. Porque a banalização da dinâmica do “não gostou, tira” acabará virando uma espiral sem fim. O melhor jeito de trocar um presidente eleito é pelo voto.
Nesse contexto, a pergunta certa não é “como é possível que Bolsonaro ainda esteja no poder?”, mas sim “como é possível que Bolsonaro tenha chegado ao poder?”. Se atacarmos apenas o sintoma, estaremos, de fato, agravando a doença.
A resposta à minha provocação é complexa, mas tem alguns eixos claros. O primeiro é que a radicalização da cena política brasileira não começou com Jair Bolsonaro. Ele é resultado, também, do fracasso moral e ético da esquerda messiânica e personalista.
É tão óbvio que vai desgostar os extremos e suas visões turvadas pelo ódio e pelo ressentimento: o PT não inventou a corrupção, mas elevou-a a um patamar inimaginável. Bolsonaro não inventou a polarização, mas catapultou-a a um nível de perigo extremo.
O Brasil de hoje não é um episódio. É uma dinâmica. Para que ela evolua na direção de algum lugar mais luminoso, é preciso analisá-la com a mesma calma e curiosidade de um cientista olhando pelo microscópio. Sem isso, os incendiários continuarão achando que são bombeiros. E os bombeiros, pensando que o fogo é incontrolável.