Esperei passar para não parecer pegação de pé. Nada tenho contra os passeios de moto do presidente Bolsonaro. São eventos optativos. Vai quem quer.
Logo, a motociata, em si, não me tocou. Nem para o bem, nem para o mal. Espero que seus participantes tenham se divertido.
Nesse contexto, o que me fez refletir foi a declaração do prefeito Sebastião Melo, publicada nesta sexta-feira (9): "Não multaremos ninguém do povo e também não multaremos o presidente", respondeu, ao ser perguntado sobre a obrigatoriedade do uso de máscara em locais públicos da Capital.
Trata-se de uma afirmação, no mínimo, estranha. Não cabe ao prefeito decidir quem será multado. Melo agiu como se fosse maior do que a lei. Não é. Em um país democraticamente mais evoluído, tal declaração teria um efeito imediato: o pedido de demissão coletiva da cúpula da Guarda Municipal.
Mais uma vez, fica o convite para olhar a floresta, e não a árvore: se o prefeito decide sobre multas, não precisa de regulamentos, secretarias e órgão de fiscalização. E já que a lei existe, nenhum agente público de segurança necessitaria de autorização do prefeito para cumprir com seu dever. Permanece, assim, a impressão de que os poderosos tudo podem. E que os políticos se acham donos das estruturas de Estado. O nome disso é, no sentido mais verdadeiro da expressão, falta de cultura democrática.