
As alterações funcionais que envolvem as Forças Armadas brasileiras são condicionadas por uma variável decisiva e relativamente complexa: a antiguidade. Ela indica uma posição objetiva na hierarquia, um dos alicerces da vida militar.
No ordenamento da instituição, um oficial mais antigo não pode ser subordinado a um mais moderno, que tem menos anos de farda e menor experiência. A incompatibilidade hierárquica compromete a ética militar.
Esse paradigma se estende a outras situações, assumindo um significado mais amplo. Por isso, as indicações do novo ministro da Defesa e dos novos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica são tão importantes no contexto atual. Entram aí algumas sutilezas, que misturam normas objetivas e o “éthos” das Forças Armadas - conjunto próprio de costumes, hábitos, comportamentos e traços culturais.
Para estruturar o entendimento, é necessário compreender a natureza de cada função. O ministro da Defesa é um cargo com viés político, podendo ser exercido até por um civil. Mas se ocupado por um militar da reserva, a não observância à antiguidade, mesmo que o ministro já não tenha vinculação ativa com as forças, é fator de potencial desconforto.
Na outra frente, os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica passam para a reserva antes de assumirem os cargos. Apesar disso, suas funções não são de natureza política, no sentido da vinculação aos interesses de um projeto de poder civil.
A indicação dos novos titulares das forças implica na ida dos mais antigos do que eles para a reserva, alterando o perfil da cúpula militar. Quem entra e quem sai é o X da questão e o centro do jogo de pressões. A definição do perfil dessa nova liderança gera tensão, pelo embate sobre alinhamento ou não ao governo. A Constituição define que as Forças Armadas são uma instituição de Estado. A proibição de militância ou adesão política, institucional ou de seus integrantes, é uma garantia do respeito a esse preceito democrático. O fato é que desconfortos hierárquicos são desaconselháveis em uma estrutura militar. Geram instabilidade. A mesma observada em alguns setores, por exemplo, quando um ex-capitão, mesmo que no cargo de presidente, demite um general.