O presidente brasileiro usa as palavras como quem manuseia uma metralhadora. O alvo? Quase todos. É assim que Jair Bolsonaro acerta com invejável frequência em tantos temas fundamentais. É como se, na saudosa loteria esportiva, pudesse marcar quantos triplos desejasse, sem pagar mais por isso. Alguns exemplos:
— A China é uma ditadura e inventou o vírus. Viva a China, minha mais nova amiga de infância.
— Lamentamos a morte de mais de 200 mil brasileiros. Morreram, e daí?
— Cuidado para tomar vacina e não virar jacaré. O governo tem pressa para comprar vacina.
— Não vou comprar vacina da China. China, me manda uns litros de insumos para fazer vacina?
— Se eu pegasse, seria uma gripezinha. Eu nunca disse que era uma gripezinha.
— Defendo a democracia. Mas pisco o olho para um golpe militar e para os defensores do fechamento do STF.
— Esse negócio de desmatamento é invenção da esquerda. Mas meu governo tenta mascarar os dados ambientais do país.
— Não admito corrupção. Tamu juntos, Queiroz.
— Sérgio Moro é o cara. Sérgio Moro não é o cara.
— Biden roubou a eleição. Parabéns, Biden.
— Defendo a liberdade, mas se não houver voto impresso na próxima eleição e eu perder, vai ser pior do que no Capitólio.
E assim, em um ambiente radicalizado, sempre que se fala sobre Bolsonaro, dependendo da frase que escolherem, todos terão argumentos a seu favor. E a briga não para. Com Bolsonaro no centro, banhado pelos holofotes. Por dever de Justiça, importante ressaltar que o presidente nunca foi errático em relação à esquerda, especialmente ao PT. Não gosta, nunca gostou e nunca gostará. Para boa parte dos brasileiros, que tem de ser respeitados, isso é o mais importante. De resto, viva a China, os jacarés, a Amazônia e Joe Biden. Viva Trump. Viva a vacina, a gripezinha, o Queiroz, a democracia, a liberdade e o coronel Ustra. Viva tudo isso. E viva o muito antes pelo contrário, talkei?